Políticas de Educação Integral e o papel educador
Em Brasília (DF), Cátedra Unesco discute políticas de Educação Integral e o papel educador das cidades
Com foco no papel educativo das cidades, a Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma foi apresentada em Brasília (DF) nos dias 16 e 17/08. O encontro reuniu especialistas em Educação Integral, educadores e representantes do Ministério da Educação (MEC) e de outros ministérios do governo federal.
Idealizada em 2022, a Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma tem como propósito sistematizar e compartilhar conhecimento e experiências para pensar as cidades como espaços e territórios educativos.
Para a representante da Unesco Brasil, Mariana Braga, a iniciativa contribui para o fortalecimento de instituições de Ensino Superior e para a promoção de parcerias e redes de pesquisa colaborativas entre os países. Além do Brasil, a Cátedra conta com instituições de Portugal e de Guiné-Bissau.
“A Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma oferece a oportunidade de compartilhar conhecimentos por meio de uma rede internacional de Ensino Superior”, afirmou Mariana, destacando que o nome da cátedra (“A Cidade que Educa e Transforma”) também abre uma reflexão sobre a educação para além dos espaços educativos formais.
Além da representante da Unesco, participaram da abertura do evento de lançamento, no dia 17/08, Liliane Machado (UnB), Raquel Franzin (MEC) e Élvia Paranaguá (Secretaria de Educação do Distrito Federal), além de Jaqueline Moll (UFRGS), Márcio Tascheto (UFN) e Jorge Luiz Mendes, primeiro conselheiro da Embaixada da Guiné-Bissau.
Assista ao lançamento da Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma no YouTube.
“Não queremos escolarizar a cidade, queremos que a escola dialogue com o entorno, com as culturas e as identidades locais”, defendeu Jaqueline Moll durante o evento de lançamento da Cátedra. Especialista em Educação Integral, a professora da UFRGS defendeu também a recuperação da história das políticas de tempo integral no Brasil.
Educação Integral e democracia
Outra rodada de discussões envolveu as interfaces e desafios para a Cátedra no contexto da consolidação da democracia no Brasil. O debate foi mediada por Adriana Bragagnolo (Universidade Passo Fundo – UFP) e contou com a participação de Natacha Costa (Associação Cidade Escola Aprendiz), Ana Lúcia Sanches (Secretaria de Educação de Diadema), Levindo Diniz Carvalho (UFMG) e Gilberto Lacerda (UnB).
Natacha Costa partiu de três conceitos essenciais para a implementação de uma política de Educação Integral efetiva no país. A primeira é a indissociabilidade entre os direitos sociais para garantir de fato o direito à educação, a segunda é o questionamento sobre qual é o projeto de educação que se pretende criar e, por fim, o movimento dialógico que se dá a partir da garantia do direito à cidade para as crianças.
“Pra conseguirmos dar conta desse movimento, o primeiro passo é ressignificar o que se entende por currículo. Ele não pode ser entendido apenas em relação ao que se quer ensinar. O currículo precisa ser um pacto, compartilhado e discutido. Estamos falando da formação de sujeitos que vão se tornar produtores de conhecimento e que desde pequenos são reconhecidos como sujeitos de direitos”, afirmou.
Sob o mesmo ponto de vista, Natacha avaliou que a segundo passo é repensar não só o conteúdo, mas a forma em que se dá a formação de professores. Além disso, ela menciona a necessidade de que os mesmos sejam reconhecidos como pesquisadores e detentores de conhecimento, inclusive a respeito de seus territórios.
Além disso, na análise de Natacha Costa, é preciso diálogo entre os formuladores das políticas públicas e as escolas que estão na ponta. “É necessário que haja espaço nos desenhos das políticas para autonomia das escolas e a construção democrática dos seus projetos com as suas comunidades”.
Cátedra Unesco participou de sessão técnica interministerial
Nova iniciativa de fomento à Educação Integral, o Programa Escola em Tempo Integral também foi o foco de uma reunião técnica realizada entre a Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma, o Ministério de Educação (MEC) e outros ministérios do governo federal no dia 16/08.
O objetivo foi aprimorar ações e iniciativas relacionadas aos eixos de atuação “Fomentar” e “Entrelaçar” do Programa Escola em Tempo Integral. Assim, os eixos são responsáveis pela operacionalização dos recursos, pelo apoio a projetos inovadores de educação integral e pela articulação intersetorial da educação com outros campos, como a cultura, os esportes, a ciência, o meio ambiente e a saúde.
Ao longo das discussões da reunião, foram apresentados os princípios e as linhas de ação do Programa Escola em Tempo Integral. Igualmente foram incluídas contribuições técnicas dos pesquisadores especializados na temática e integrantes da Cátedra Unesco dadas ao desenho da Política de Educação Integral em Tempo Integral, construída de forma colaborativa.
Estiveram presentes, na sessão técnica, representantes dos ministérios da Cultura, do Esporte; da Ciência, Tecnologia e Inovação; do Meio Ambiente; e dos Direitos Humanos e da Cidadania, para apresentarem suas considerações em torno das ações da Cátedra para a Política de Educação Integral.
Assim, a mesa de abertura foi composta pelo diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Básica, Alexsandro do Nascimento Santos; a coordenadora-geral de Educação Integral em Tempo Integral, Raquel Franzim; a presidente da Cátedra Unesco no Brasil, Jaqueline Moll; e pelo vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, Penildon Silva Filho.
Programa Escola em Tempo Integral
O Programa Escola em Tempo Integral é uma estratégia para induzir a criação de matrículas em tempo integral em todas as etapas e modalidades da educação básica. Coordenado pela SEB/MEC, sua finalidade é viabilizar o cumprimento da meta 6 do Plano Nacional de Educação 2014-2024 (Lei nº 13.005/2014).
Nesse sentido, o programa visa ampliar em 1 milhão o número de matrículas de tempo integral nas escolas de educação básica de todo o Brasil já em 2023. Um investimento de R$ 4 bilhões vai permitir que estados, municípios e o Distrito Federal possam expandir a oferta de jornada em tempo integral em suas redes. Depois, a meta é alcançar, até o ano de 2026, cerca de 3,2 milhões de matrículas.
Além disso, a política inclui estratégias de assistência técnica para a oferta de um projeto-político-pedagógico que assegure o direito de crianças e jovens a uma formação integral de qualidade. O objetivo é ampliar e diversificar oportunidades educativas, socioemocionais, culturais, artísticas, científicas, tecnológicas e esportivas.
Cátedra Unesco – A Cidade que Educa e Transforma é apresentada oficialmente em Brasília (DF)
16 DE AGOSTO DE 2023
O lançamento oficial da Cátedra Unesco UniTwin – A Cidade que educa e transforma acontece em Brasília (DF) nos dias 16 e 17/08. Evento na UnB reunirá especialistas em Educação Integral, representantes de ministérios e educadores.
Acontece em Brasília (DF), entre os dias 16 e 17/08, o lançamento oficial da Cátedra Unesco UniTwin – A Cidade que educa e transforma. Trata-se de um consórcio internacional, articulado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e que reúne 12 instituições de Ensino Superior brasileiras, além de uma universidade em Portugal e outra em Guiné Bissau.
Criada em 2022, a Cátedra tem como propósito sistematizar e compartilhar conhecimento e experiências para pensar as cidades como espaços e territórios educativos. Aprovada pela Unesco em setembro de 2022, a instalação da Cátedra aconteceu em 28 de fevereiro deste ano em Portugal, em cerimônia na Câmara Municipal de Lisboa.
Em entrevista ao Educação & Território, o professor Márcio Tascheto, doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), elencou os principais objetivos da Cátedra Unesco:
A promoção de um sistema integrado de atividades de investigação, formação e documentação na área das Cidades Educadoras e a divulgação de conhecimentos sobre o conceito de uma cidade educativa, a fim de permitir modelos de governação em linha com os ODS;
- A Investigação e reflexão sobre as práticas baseadas em modelos de governação inspirados no conceito de Cidades Educadoras e suas respostas aos problemas emergentes das sociedades, especialmente na perspectiva da consolidação de democracias;
- A criação de uma Rede de conhecimento que permita aos governos locais oferecer uma oferta diversificada de respostas equitativas e justas para os problemas da sociedade contemporânea;
- A cooperação e colaboração na construção de sociedades do conhecimento através de diferentes estratégias de cidades educadoras.
Para Marcio Tascheto, integrar a Cátedra da Unesco significa pensar em cidades mais equitativas. “Cidades mais igualitárias, socialmente mais justas e que possam ser, socioterritorialmente, democráticas e diversas”, descreve o professor da Universidade Franciscana (UFN), destacando a também que as cidades devem colocar em prática o respeito aos direitos humanos.
As instituições que fazem parte da Cátedra são:
- Instituto Superior de Educação e Ciências – ISEC, Lisboa, Portugal
- Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI, Brasil
- Universidade Passo Fundo, UPF, Brasil
- Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil
- Universidade Federal da Bahia, UFAB, Brasil
- Universidade Franciscano, UFN /Santa Maria, Brasil
- FACED/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil
- Instituto Politécnico Nova Esperança da Guiné Bissau
- Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil
- Centro Universitário Internacional, Uninter/ Curitiba/PR, Brasil
- Fundação Anísio Teixeira, Brasil
- Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Unisinos, Brasil
Cidade que educa e transforma
O evento será dividido em dois momentos, na quarta-feira (16/08), das 8h às 17h, acontecerá a Reunião Técnica entre o Programa Escola de Tempo Integral e a Cátedra Unesco, com a participação dos Ministérios da Educação (MEC), da Cultura (MINC), do Esporte (MESP), da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
O intuito deste dia é promover o diálogo da Cátedra com os ministérios, além de levantar possíveis interfaces e contribuições à política de Educação Integral do MEC. Já na quinta-feira (17/08), acontece o lançamento oficial da Cátedra Unesco Cidade que Educa e Transforma. O evento está programado para às 9h30 no Memorial Darcy Ribeiro, localizado na Universidade de Brasília (UnB).
Participam das mesas temáticas especialistas em Educação Integral, como Natacha Costa, diretora executiva da Associação Cidade Escola Aprendiz e do Centro de Referências em Educação Integral, além dos educadores Jaqueline Moll e Márcio Tascheto.
O debate também contará com a presença da secretária de Educação de Diadema (SP), Ana Lúcia Sanches, Levindo Carvalho (UFMG) e Gilberto Lacerda (UnB). O encerramento das atividades contará com uma homenagem ao professor Carlos Rodrigues Brandão, referência para a Educação Integral no Brasil, que morreu no início de julho.
Confira a programação completa | 17/08
9h30 às 10h – Atividade Cultural: Banda musical Luiz Antônio
10h30 às 11h – Cátedra Unesco – Cidade que educa e transforma: trajetória e perspectivas. Mesa com a profa. Dra. Jaqueline Moll, da UFRGS/URI e o prof. Dr. Márcio Tascheto, da UFN/UPF.
11h às 12h30 – Educação, Cidade, Território: Interfaces, fazeres e desafios para a Cátedra na perspectiva de consolidação da democracia no Brasil. Mesa mediada pela Adriana Bragagnolo, da UPF; com a participação de Natacha Costa, da Cidade Escola Aprendiz; Ana Lúcia Sanches, Secretária de Educação de Diadema; Levindo Diniz Carvalho, da UFMG; e Gilberto Lacerda, da UNB.
12h30 às 13h – Homenagem da Cátedra Unesco: professor Carlos Rodrigues Brandão: Presente!
Territórios educativos e cidades transformadoras
Para Márcio Tascheto, o Brasil acumulou, ao longo da História, experiências, reflexões e políticas públicas que dialogam com as propostas para uma cidade que educa. Embora interrompidas, experiências históricas como as Escolas-Parque de Anísio Teixeira em Salvador (BA), os Cieps no Rio de Janeiro (RJ) e o Programa Mais Educação são exemplos relevantes.
“Além disso, é possível observar inúmeras experiências municipais, pulverizadas de políticas de Educação Integral”, complementa o professor, explicando que essas iniciativas colocaram na agenda pública a dimensão de que, para existir uma formação integral, é preciso mobilizar todo um território. “E de que o território, acima de tudo, é luta”.
Dessa forma, para o historiador, as universidades ganham muito ao participar da Cátedra Unesco, sobretudo na reflexão a respeito de como os currículos e pedagogias universitárias podem constituir-se de forma mais integrada aos territórios onde estão localizadas, transpondo a barreira do que é discutido no meio acadêmico para a construção de políticas públicas nas cidades.
“Ou seja, as universidades podem produzir processos de aprendizagem a partir dos saberes territoriais, da conexão com seus bairros e seus sujeitos. Essa perspectiva pode auxiliar na produção de respostas qualificadas para grandes demandas sociais que temos socialmente, por exemplo, a partir de pesquisas que nascem dessas demandas”, explica.
Segundo o professor, o grande desafio para a Cátedra Unesco, e de qualquer instituição, é entender o seu papel social e qual é a sua contribuição efetiva nos territórios onde atua.
A dimensão de intercâmbio de conhecimentos promovido pela Cátedra Unesco entre as instituições dos três continentes – América do Sul, África e Europa – também é positiva: “Isso cria uma rede de cooperação de produção acadêmica que fomenta a internacionalização da troca de conhecimento entre essas instituições, favorecendo um crescimento cultural para as instituições de ensino”, afirma.
O QUÊ
Lançamento da Cátedra Unesco - Cidade que educa e transforma
QUANDO
De 16/08/2023 às 08:00 até 17/08/2023 às 13:00
ONDE
Memorial Darcy Ribeiro (UnB) - Brasília (DF)
FONTE: