Por um país inclusivo

Por um país inclusivo

Pais Inclusivo

 

 

Por um país inclusivo, justo e democrático

1 de julho de 2022  -  Rudá Ricci

 

No último dia 24 de junho publicamos, neste mesmo espaço, o artigo: A frente ampla que interessa é a de movimentos sociais. Nosso objetivo agora é dar continuidade na abordagem sobre o tema que envolve os movimentos sociais, mas com a intenção de destacar alguns dados bastante representativos sobre a classe trabalhadora brasileira e destacar alguns desafios a serem enfrentados para a reconstrução de um país mais inclusivo, justo, democrático e muito mais crítico das suas próprias condições.

Quais os desafios que temos para reconstruir o Brasil?

Entendemos que nosso primeiro desafio é articularmos a base social. Os movimentos sociais, sindicatos e organizações populares precisam realizar o máximo de eventos ainda neste primeiro semestre de 2022. Temos que estar unidos. Se possível, precisamos multiplicar a realização de eventos onde possamos organizar plenárias nas capitais e no interior do país para discutir soluções.

As centrais sindicais se uniram recentemente e aprovaram 63 propostas para garantir emprego, renda e dignidade no Brasil.

Temos que multiplicar essas iniciativas. Definir uma Plataforma para Retomada do Desenvolvimento e da Dignidade do povo Brasileiro a partir da base, das discussões nos bairros, nas comunidades, articulando em eventos municipais, estaduais e nacionais.

Durante a pandemia, ao menos 30% dos nossos estudantes deixaram de estudar porque não tiveram acesso às atividades escolares, tiveram que ajudar a família a recompor a renda ou ficaram desolados com a falta de apoio emocional das escolas. A maior pesquisa realizada no Brasil com adolescentes e jovens – patrocinada pelo Conselho Nacional da Juventude – revelou essas informações: nossos estudantes queriam apoio e segurança, mas receberam, na maioria das vezes, apenas tarefas escolares. Escola é cuidado. Como podemos reconstruir o projeto de educação do Brasil?

Esta situação se repetiu na saúde e nem precisamos falar muito a respeito. Todos vimos que poderíamos ter evitado tantas mortes se tivéssemos orientação, se não vendessem gato por lebre, se tanta ganância não estivesse sendo vendida como remédios milagrosos que provaram ser um dos maiores erros da história do Brasil. Se não tivéssemos o SUS, o país teria sido destruído por completo. Precisamos superar a mera reclamação e queixa. Queixa não muda a realidade. Temos que nos unir e fazer este país ser nosso. Um governo nosso é um governo que nasce da base.

Quais os motivos para tanta gente no Brasil não ter casa para morar?

Em primeiro lugar, podemos afirmar que é a falta de dinheiro da classe trabalhadora. Mas, os dados oficiais dizem que 58% de todos os impostos pagos no Brasil vem de quem ganha até 2 salários-mínimos. Nem todos que pagam sabem que estão pagando. Mas, existe um imposto que está embutido em cada produto que compramos. Chama-se “imposto indireto”. Por exemplo: um boné tem 35% de imposto embutido no preço que pagamos; um capacete de motociclista tem 39%; uma mochila também tem 39% de imposto embutido no preço; ovo de galinha tem 20%; açúcar tem 30%. Para uma família de gente rica, pagar 5 reais para uma dúzia de ovos (sendo 1 real somente de impostos) não significa nada. Mas, para quem ganha um salário-mínimo, pode significar uma parte importante da passagem do metrô, do ônibus. Então, a maior parte do dinheiro público vem dos brasileiros mais pobres.

E os mais ricos? Segundo o Banco Mundial, o Brasil é o segundo país do mundo em sonegação de impostos (o primeiro país é a Rússia). Então, basta ligar os pontos: se os mais pobres pagam o maior volume de impostos, quem sonega, afinal?

Em segundo lugar: quem administra a política de habitação.

Em 2018, tínhamos 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios. Em 2020, logo quando começou a pandemia da COVID, entre março e agosto tivemos mais de 6 mil famílias despejadas. De acordo com balanço da Campanha Despejo Zero, os dados levantados até fevereiro de 2022 revelaram que esse número saltou para 27.618 famílias. A Campanha Despejo Zero estima que mais de 123 mil famílias estão sob risco de despejo iminente no país. Então, a situação de 2018 piorou. A falta de moradia é maior entre famílias que têm renda entre zero e três salários-mínimos – cerca de 93% dos 6,9 milhões de famílias sem teto têm renda de até R$ 2,8 mil.

Alguns poucos governos adotaram políticas diferentes como propriedades coletivas, moradias subsidiadas e auxílio-aluguel. Mas, são poucos governantes. Por este motivo que num ano eleitoral, os trabalhadores, trabalhadoras e os que têm menor renda no Brasil, precisam estar juntos e pensar nos nomes que votarão. Votar, neste caso, é defender políticas, como a política de moradia. Não pode ser um ato individual. Tem que envolver os que têm os mesmo problemas.

Quais os perigos que devemos enfrentar nos próximos anos?

Mas, precisamos estar atentos porque o perigo rondará o Brasil nos próximos anos.

Segundo muitas pesquisas realizadas no Brasil, 15% dos brasileiros foram tomados pelo ódio. Atacam todos. Falam de família, mas atacam pessoas: mulheres, negros, gays, indígenas. Atacam todos que não são como eles. Querem impor o que pensam na marra. Alguns, pregam até o uso da força para calar quem pensa diferente. Mas, afinal, somos 85% do total do povo brasileiro. Somos a imensa maioria.

Este será nosso grande desafio daqui por diante: como estarmos unidos para defender a democracia e um país mais justo, sem fome, sem miséria, com emprego e renda.

Esta é a frente ampla que temos que criar. Uma frente ampla pela vida, pela solidariedade, pela justiça. E pela democracia.

No final das contas, sempre que o Brasil saiu dos eixos, quem resolveu o problema foram os trabalhadores, com suas organizações, sindicatos e movimentos sociais.

 

Sobre o autor
Rudá Ricci é cientista político e presidente do Instituto Cultiva. E-mail: rudaricci@gmail.com


Imagem de destaque: Broke photo 

 

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