PPPs serão Propostas de Políticas Públicas?
Quando as PPPs serão Propostas de Políticas Públicas?
2020 foi péssimo e 2021 vai ser pior ainda. É deprimente iniciar este texto escancarando que nós estamos submetidos a uma tragédia inconclusa. Trata-se de um quadro de calamidade cujas consequências se manifestam nos mais intensos graus e em inúmeras dimensões. Em todo caso, o quero dizer é que, neste momento, assistimos ao acirramento da luta de classes na periferia do sistema e, com isso, enxergamos conquistas civilizacionais se esfacelarem com tremenda facilidade. Vale esclarecer que, ao me referir ao panorama atual como degradante, faço alusão a um esquema de desqualificação do pensamento e que, dessa forma, suscita a emergência da barbárie no mundo e, é claro, em especial, no Brasil – um país de capitalismo dependente que vende soja, suco de laranja e animais mortos ao mesmo tempo em que destrói sua estrutura de produção científica e tecnológica. Não é sinistro?
Para além de nos surpreendermos com tal situação, caiamos na real. Aterrissemos: estranho seria se as coisas não fossem assim. São séculos de exploração, sofrimento e mentira. Isso jamais foi alterado (e não vai ser tão fácil assim de resolver, infelizmente). Nunca deixamos de viver sob o paradigma de uma superestrutura que pretende a fabricação de sujeitos burros. E veja bem, aqui não uso burrice como xingamento. Emprego o termo como uma categoria de análise para explicar o entorpecimento das capacidades cognitivas daqueles que são (de)formados por uma doutrina que tem por intuito docilizar indivíduos obedientes e conformados com a extração da mais-valia. É sério que alguém se surpreende com o fato de que as pessoas têm medo de que as obriguem a comer carne de cachorro? Ora, com todo um aparato para possibilitar que não se reflita criticamente sobre a realidade, como querem que elas não caiam nessa baixaria?
E cá chego à questão: o que fazer para combater isso? Afinal, perceber a ignorância é muito fácil. Difícil é enfrentar o sistema destinado à sua produção. Precisamos de tantas ações. Como coibir a irreflexão se aqueles que estão no poder – e, portanto, são justamente os que se alimentam desse delírio coletivo do qual somos vítimas – se beneficiam dela (e só estão lá por causa disso)? Diante desses questionamentos tão desafiadores, penso que seja importante começar a desmentir as bobagens nas quais querem que acreditemos. Vou começar. Quero que fique muito claro com este escrito: as tais “parcerias público-privadas” são um horror. São a consagração de tudo o que existe de mais podre nesse sistema falido. As PPPs são a conspurcação entre Estado e mercado tendo como única finalidade o atendimento dos interesses privados. Em qualquer circunstância, quem tentar te convencer de que elas são boas é um canalha. Estamos fazendo referência à corrupção legalizada, à destruição do serviço público e à devastação de escolas e hospitais. Defender essa obscenidade é aceitar que o ímpeto de lucro por parte do empresariado (vocês entendem que ninguém investe em algo sem que tenha chance de faturar em cima do povo, certo?) subverta a qualidade da efetivação dos nossos direitos. Se Marielle clamava por unidades de políticas públicas, façamos com que o centro do debate se mova para a discussão sobre como implementaremos propostas de políticas públicas.
Ufa. Me sinto mais aliviado depois dessa humilde tentativa de expor algumas razões para combatermos o discurso hoje hegemônico. Alguém se arrisca a escrever o texto desmentindo o consumo dos pobres cães?
Na onda do pessimismo da razão e do otimismo da vontade a gente vai lutando e sobrevivendo. Vai passar. E vai ter vacina – para o vírus e para os vermes que nos governam.
Estudante de História na UFFS