Precisamos de vacina, não de cloroquina

Precisamos de vacina, não de cloroquina

Precisamos de vacina, não de nova cloroquina, diz infectologista sobre spray defendido por Bolsonaro

Medicamento foi testado em 30 pacientes em Israel e não tem nenhum estudo científico publicado; especialista reforça a necessidade de trazer mais vacinas: “vamos focar no que é sério e necessário”

Por Fabíola Salani          -         16 fev 2021 

O spray nasal testado em Israel em pacientes com Covid-19 parece ser a nova prioridade do governo Bolsonaro. O presidente tuitou nesta segunda-feira (15) dizendo que o produto será “brevemente” enviado à Anvisa para análise de uso emergencial. E seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também tuitou nesta segunda-feira que orientou a embaixada brasileira em Israel a “acelerar cooperação com o Brasil” no uso do medicamento EXOD24.

Mas, em entrevista à Fórum nesta terça-feira (16) sobre o tema, o infectologista Renato Grinbaum foi enfático: “Precisamos trazer vacina, e não uma nova cloroquina”.

Medicamento usado para tratar malária, lúpus e outras doenças, a cloroquina começou a ser testada no ano passado para tratar Covid-19. Mas não teve eficácia comprovada para esse fim. No entanto, Bolsonaro passou o ano inteiro defendendo sua aplicação em pacientes e diz que ele mesmo usou o medicamento quando teve a doença. O laboratório do Exército inclusive produziu comprimidos do remédio. Em contrapartida, o governo federal não negociou vacinas contra a Covid-19 em volume suficiente para imunizar sua população.

O teste do spray de Israel foi feito com 30 pacientes, de moderados a graves. Deles, 29 tiveram alta hospitalar em três a cinco dias. O reporte do Centro Médico Ichilov dá conta de que um de seus pesquisadores realizou o teste de fase 1 – a primeira das três fases de testes clínicos necessárias para atestar a eficácia e segurança de um medicamento. “Com 30 pacientes. Até água tem o mesmo resultado”, declarou Grinbaum.

O infectologista afirma que não existem ainda estudos científicos já sistematizados sobre o uso do medicamento. “Não existem. Nenhuma publicação. Inclusive sem estudos quanto a riscos e toxicidade”, alertou ele.

“Nenhum país, nenhuma sociedade médica adotou”, prosseguiu o especialista.  “Ainda precisa estudos de segurança e eficácia para que se diga algo”, disse o médico. E alertou: “Nosso país não pode ficar repetindo o erro de transformar em prioridade algo que é meramente preliminar”. 

Para ele, “não é o momento de lançarmos informações incompletas para dividir e confundir”. Se um dia houver estudos mais completos sobre o spray, aí pode ser avaliado seu uso,  disse o médico.

 

https://revistaforum.com.br/coronavirus/precisamos-de-vacina-nao-de-nova-cloroquina-diz-infectologista-sobre-spray-defendido-por-bolsonaro/ 




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