Precisamos falar sobre isso
Precisamos falar sobre isso.
Que ressentimento é esse que leva alguém a descontar sua infelicidade e suas frustrações nos professores?
Que ignorância é essa que leva alguém a pensar que a quantidade de aulas presenciais está acima da vida?
Que prepotência é essa que leva alguém a propor corte de salários de uma classe que já recebe parcelado e sem reajuste digno há anos?
Que egoísmo é esse a ponto de não conseguir nem por um segundo colocar-se no lugar dos professores?
Os professores estão esgotados.
Psicologicamente desequilibrados.
Emocionalmente abalados.
Financeiramente arruinados.
Estamos dando nó em pingo d'água.
Aulas online.
Google classroom.
Google meet.
Email.
Whatsapp.
Da noite para o dia: youtubers.
E não, isso não é lindo.
Não romantizem, por favor!
Não foi para criar e editar vídeos que estudamos.
Não estamos confortáveis com isso.
Mas estamos nos esforçando.
Porque acreditamos no que fazemos.
Porque acreditamos que tudo o que merece ser feito, merece ser bem feito.
E porque somos teimosos.
Nossa determinação pode fazer parecer que esteja sendo fácil.
Não está.
Está muito difícil.
Há colegas escrevendo nas lajotas da parede da cozinha.
Há colegas tendo que pedir para que o marido tire os filhos pequenos de dentro de casa para que o barulho das crianças não atrapalhe a aula.
Há colegas gravando dez vezes o mesmo vídeo porque não ficou suficientemente perfeito... um cachorro latiu, alguém buzinou, um vizinho espirrou... estamos ficando paranoicos.
Há colegas comprando celular com câmera melhor e com mais memória para poder gravar vídeos, mandar fotos com melhor qualidade e poder baixar as milhares de fotos referentes às atividades desenvolvidas que recebem dos estudantes.
Eu disse comprando celular melhor.
Para conseguir dar aula.
E pagar com o salário que nem recebe direito.
Email pessoal lotado.
Messenger entupido.
Whatsapp a todo momento.
Dúvidas.
Perguntas.
Áudios.
O tempo todo.
Quando foi que nos tornamos professores 24 horas?
Privacidade de professor?
Coisa pré-pandêmica. Inexiste agora.
A velocidade da internet não dá conta.
Outro plano. Mais caro.
É preciso para enviar vídeo-aulas de qualidade.
É necessário ministrar as aulas remotas.
Sem travar.
Quem paga?
Os professores, claro!
Com que dinheiro?
Com seu salário defasado e parcelado.
Aquele que querem cortar!
Nem vou falar sobre o quão doloroso é para os professores constatar que muitos de seus estudantes não têm suporte tecnológico para acompanhar as atividades ead.
Outros tantos não têm suporte familiar.
E alguns não têm interesse. Isso dói para quem se esmerou no planejamento, está frente a câmera num esforço máximo para explicar da melhor forma possível e do lado de lá não vem reciprocidade... câmeras desligadas, dois ou três online, devolução das atividades meramente copiadas. É triste.
Nós somos a favor de voltar.
Quando houver segurança.
Para nós.
Para os demais funcionários.
Para os estudantes.
Para as famílias dos estudantes.
Para nossas famílias.
Para todos.
Porque somos educadores. Professores.
Não somos cúmplices de genocida.
Não está cômodo ficar em casa.
Está muito, mas muito difícil.
Já desistimos de pedir respeito e empatia.
Agora pedimos apenas o silêncio daqueles que nada de positivo tiverem a acrescentar no que diz respeito à educação.
-Ana Paula Bordin-