Marco Favero / Agencia RBS 

Pais e ex-alunos ocupam o imóvel desde o início de setembro Marco Favero / Agencia RBS

 

Em meio a um impasse entre comunidade escolar e governo do Estado, a Escola Estadual Rio Grande do Sul, localizada no Centro Histórico de Porto Alegre, está ocupada por pais e ex-alunos desde o início de setembro, em protesto contra o fechamento da instituição.  A decisão de encerrar as atividades escolares foi tomada pelo governo do Estado durante a pandemia e causou revolta entre alunos e familiares. Criada na década de 1950, a instituição tem cerca de 300 alunos do primeiro ao nono ano e do EJA (Educação de Jovens e Adultos).

A ocupação formou barricadas na entrada da escola para impedir que a luz e a água sejam cortadas. No local, há colchões para quem dorme no local, que fica ocupado 24 horas por dia. O objetivo é pressionar a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) a reverter a decisão de fechar a Rio Grande do Sul, explica a ex-aluna e integrante da ocupação Atena Beauvoir.

— Falaram que havia problemas estruturais na escola. Mas já foi registrado em processos que a escola solicitava arrumar uma infiltração e a caixa d’água, mas ninguém vinha. Chamamos três engenheiros e os três disseram em laudo que não tem problema estrutural nenhum. Articulamos e conseguimos a doação de uma caixa d'água e de tintas para pintar as paredes — afirma Atena.

Por nota, a Seduc informou que a escola foi fechada por problemas estruturais no prédio e para garantir a segurança dos estudantes. O texto diz que os alunos serão transferidos para a Escola Estadual Leopolda Barnevitz, localizada a menos de um quilômetro de distância, no bairro Cidade Baixa

A decisão desagrada a pais e mães. Na quinta-feira (8), professores e moradores do Centro Histórico protestaram em frente à Seduc para pedir que o governo reverta a decisão. Mãe de uma aluna do oitavo ano e moradora do Centro Histórico, a autônoma Isolete dos Santos afirma que os pais não querem “de jeito nenhum” que a escola feche e cita que a distância até a nova instituição atrapalha a rotina familiar: 

— Minha filha está há oito anos na escola. A gente começa o primeiro e forma os filhos ali. É uma escola tradicional, onde a gente se sente segura, nossos filhos são bem atendidos. A Leopolda (Barnevitz) está caindo aos pedaços.  

A escola acionou o Conselho Estadual da Educação (CEE), órgão independente do governo do Estado formado por representantes da sociedade civil, para pedir que o fechamento da Rio Grande do Sul seja revertido. O conselheiro Antônio Saldanha, que representa pais e mães de alunos, afirma que a Seduc não respeitou os ritos exigidos para fechar a escola. Agora, o caso será discutido internamente entre os conselheiros, que emitirão uma resolução contra ou a favor do fechamento. 

— O ato do governo ocorre à revelia da legislação. Tem que ter uma ata de reunião com a comunidade escolar comunicando que vai transferir os alunos, e isso não houve, e também não pode cessar as atividades no meio do ano letivo, só em dezembro. O Conselho já ouviu o governo três semanas atrás e o secretário (estadual da Educação, Faisal Karam) disse, de forma peremptória, que não volta atrás — diz Saldanha. 

Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) também foi acionado e analisa o caso. 

A diretora da escola, Elisa Santanna, relata que a ocupação ocorreu após o governo se mostrar irredutível na ideia de fechar a instituição. 

Professores e diretoria também se mostraram preocupados com a organização de seu trabalho ao se transferirem em meio ao ano letivo.

Elisa discorda que haja falta de condições estruturais e não vê possibilidade de que a ocupação seja cessada, a não ser que a mesa de negociações seja retomada.

— Infelizmente não vejo uma solução rápida, já que o Estado tem rejeitado todas as tentativas de diálogo — critica.

O que acontecerá com o prédio da escola?

A comunidade escolar foi primeiramente informada de que o prédio da Rio Grande do Sul viraria um abrigo para a população em situação de rua. A Fundação de Assistência de Social e Cidadania (Fasc) afirmou a GZH que chegou a visitar o local, mas que a cedência do espaço não se confirmou e que o órgão não está em tratativas com o governo do Estado para receber o imóvel.

Por nota, a Seduc informou que o destino do prédio fica sob responsabilidade da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG). Por sua vez, a SPGG informou em nota que “a nova destinação do referido imóvel será incluída na pauta das próximas reuniões do Comitê de Gestão Patrimonial que, além da SPGG, conta com a participação da Casa Civil, Procuradoria-Geral do Estado e Secretaria da Fazenda”.

Nota da Seduc


A Secretaria Estadual da Educação informa que, em virtude de problemas estruturais no prédio da Escola Rio Grande do Sul, já apontados pela 1ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) desde o ano de 2019, as atividades da instituição de ensino foram transferidas para a Escola Professora Leopolda Barnevitz, localizada nas proximidades. A ação, que visa garantir a segurança da comunidade escolar, irá oferecer as condições para a continuidade das atividades de professores, equipe diretiva e estudantes no novo espaço.

Nota da SPGG

"A Subsecretaria de Patrimônio, vinculada à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e responsável pela gestão de imóveis do Estado, informa que, diante do processo de devolução do prédio onde funcionava a Escola Estadual Estado do Rio Grande do Sul, localizado em Porto Alegre, a nova destinação do referido imóvel será incluída na pauta das próximas reuniões do Comitê de Gestão Patrimonial que, além da SPGG, conta com a participação da Casa Civil, Procuradoria-Geral do Estado e Secretaria da Fazenda."

Colaborou: Erik Farina

 

https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2020/10/ocupado-ha-mais-de-um-mes-predio-da-escola-estadual-rio-grande-do-sul-segue-sem-destino-definido-mp-analisa-o-caso-ckg2wb3u1003v015xwyne460o.html