Preservar o melhor das antigas cátedras

Preservar o melhor das antigas cátedras

Docentes querem preservar “o melhor” das antigas cátedras

O 1º “Encontro Inter-Cátedras” do Instituto de Estudos Avançados da USP acontece no dia 22 de junho, às 14 horas

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Naomar de Almeida Filho, Martin Grossmann e Néstor García Canclini – Fotomontagem com imagens de USP, Fapesp e Wikipédia

 

Com a reforma universitária de 1968 no Brasil, as cátedras foram extintas e substituídas pelos departamentos, que passaram a ser a unidade básica da estrutura acadêmica. A mudança foi vista como uma democratização da universidade, que limitava o poder dos até então todo-poderosos professores catedráticos e fortalecia as decisões colegiadas. Mas com as cátedras podem ter desaparecido também formas eficientes de alcançar os objetivos da academia.

Agora, um evento vai reunir pesquisadores ligados às sete cátedras sediadas no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP para discutir o potencial e o que deve ser preservado do antigo modelo das cátedras. No próximo dia 22, às 14 horas, o 1º Encontro Inter-Cátedras do IEA terá como base de discussão questões como a função das cátedras atualmente, seu papel na universidade e sua relação com a sociedade. Com o tema Sobre a Universidade: Crítica com Alma, o evento é organizado pela Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência e pela Cátedra de Educação Básica – ambas do IEA – e será transmitido ao vivo através do site do IEA.

O encontro terá a participação do antropólogo argentino radicado no México Néstor García Canclini, titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, que fará a palestra La Universidad gana autonomía poniéndose fuera de sí, do professor Naomar de Almeida Filho, titular da Cátedra de Educação Básica, que falará sobre o tema Da Cátedra: Reinvenção de Uma Tradição, e do professor Martin Grossmann, coordenador acadêmico da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, que abordará A Cátedra nos Estudos Avançados.

“Não se trata de retornar ao antigo modelo de cátedras, mas de recuperar o que elas têm de positivo”, afirma o professor Naomar de Almeida Filho, a respeito das discussões que ocorrerão no encontro. Ele reconhece que o cargo de professor catedrático, no passado, conferia poderes absolutos ao seu detentor, eram vitalícios e até “hereditários”, contribuindo mais para a formação de uma elite acadêmica e para a perpetuação de privilégios familiares e menos para a vitalidade e o avanço da pesquisa acadêmica. Em contrapartida, os atuais departamentos têm mais dificuldades em atuar de forma transversal e multidisciplinar – característica das atuais cátedras do IEA.

Almeida Filho ressalta que a discussão sobre cátedras precisa ser pautada não pela conveniência dos pesquisadores, mas sim pela missão da universidade, que, segundo ele, é determinada pela história dessa instituição milenar. De acordo com o professor, a missão da universidade foi mudando de ênfase ao longo dos séculos: na chamada Idade Média, ela significava a proteção da cultura, no Renascimento passou a ser a formação de quadros, no século 19 – sob influência do modelo humboldtiano – se tornou a produção de ciência e, no século 20, a crítica da sociedade. “No século 21, a universidade incorpora e reforça todas essas missões”, afirma Almeida Filho, destacando que as cátedras podem contribuir efetivamente para a realização dessas tarefas. “Queremos discutir a renovação do conceito de cátedra e aproveitar o que esse modelo pode oferecer hoje.”

Para o professor Martin Grossmann, interdisciplinaridade é a característica que distingue as cátedras atualmente. Daí por que elas encontram espaço no IEA, um centro interdisciplinar, sem corpo docente nem discente, que busca o experimento, a inovação e a crítica institucional. Também a facilidade de admitir catedráticos estrangeiros dá às cátedras uma perspectiva diferente, acrescenta. “Com esse espírito é que nós entendemos que é importante discutir o papel das cátedras, não só do IEA, mas da USP.”

Segundo Grossmann, há uma variedade de aplicações das cátedras na USP e em outras universidades. No IEA, as cátedras se juntaram a outros organismos e composições, desde grupos de pesquisa a professores em ano sabático e professores visitantes. “São diferentes formações que ganharam esse formato de cátedra”, conta, destacando que isso traz uma dinâmica que integra diferentes intelectuais, com várias formações e interesses, o que contribui para a variedade, o dinamismo e o vigor das pesquisas e para o diálogo com a sociedade.

As sete cátedras do IEA são as seguintes: Cátedra de Educação Básica, Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, Cátedra Oscar Sala, Cátedra Otávio Frias Filho e Programa de Cátedras Franco-Brasileiras no Estado de São Paulo.

Cerca de dez outras cátedras atuam na USP, entre elas a Cátedra Jaime Cortesão, a Cátedra de Estudos Irlandeses William B. Yeats – ambas instaladas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) -, a Cátedra Luiz de Queiroz, sediada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, a Cátedra Paschoal Senise, ligada à Pró-Reitoria de Graduação, e a Cátedra José Bonifácio, mantida pelo Centro Ibero-Americano, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI).

O 1º Encontro Inter-Cátedras do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP será realizado no dia 22 de junho, das 14h às 16h30, com transmissão ao vivo pelo site do IEA. Evento gratuito, aberto ao público e sem necessidade de inscrição. Mais informações estão disponíveis neste link.

Colaborou Roberto C. G. Castro

 

https://jornal.usp.br/cultura/docentes-querem-preservar-o-melhor-das-antigas-catedras/




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