Princípios do ensino híbrido
Revisite os princípios do ensino híbrido para o planejamento escolar
Pesquisador do Clayton Christensen Institute discute como repensar tempos, espaços e equipes para integrar aprendizagem remota e aulas presenciais
por Thomas Arnett - 11 de agosto de 2020
Neste fim de ano, pode até ser que algumas escolas reabram, mas as coisas não vão voltar ao normal. A maior probabilidade é que os alunos estejam presentes por meio período ou só alguns dias da semana, o que cria uma série de desafios para as escolas, enquanto elas se esforçam para oferecer oportunidades educacionais consistentes.
Projetar um novo arranjo para a escola pode parecer uma tarefa enorme, mas ela não é nova. Por quase uma década, muitas escolas têm feito experiências para implementar modelos de ensino híbrido que integram a aprendizagem online com instrução presencial para repensar tempos, espaços e organizar equipes.
O ensino híbrido pode ser realizado de diferentes maneiras que levam os educadores a considerar os seguintes pontos:
– O que os alunos podem aprender bem de forma independente, especialmente quando auxiliados por tecnologias digitais de aprendizagem?
– Quais atividades são mais importantes para fazermos juntos?
Enquanto as escolas tentam encontrar saídas para questões logísticas, entenda como três modelos de ensino híbrido descritos abaixo podem ajudar a responder às perguntas acima, com base em suas prioridades, necessidades e recursos disponíveis.
A divisão de horários que as escolas precisam fazer não deve ser vista como mero exercício de planejamento para limitar o número de funcionários e alunos na escola. Em vez disso, considere como o ensino híbrido pode ajudar a reimaginar recursos e agendas para potencializar o aprendizado durante os momentos online e presencial.
Podcast Porvir/CIEB: Ensino híbrido
Sala de aula invertida: aproveitando ao máximo a aprendizagem independente e em sala de aula
O modelo de sala de aula invertida não é uma resposta perfeita ao COVID-19 porque normalmente pressupõe que os alunos vão à escola para acompanhar uma grade horária completa todos os dias. No entanto, os princípios básicos do modelo são imensamente relevantes para o ensino remoto em tempo parcial e integral durante a pandemia. Essencialmente, pergunta: Quais atividades são melhores para a aprendizagem independente versus aprendizagem em conjunto? As respostas podem ajudar professores a maximizar o tempo gasto com os alunos, independentemente se for pessoalmente ou em modo virtual.
Os recursos de aprendizagem online oferecem uma maneira eficaz para os alunos aprenderem muitos fatos e habilidades básicas por conta própria. Vídeos que os professores criam ou organizam – individualmente, com colegas ou com ajuda da coordenação pedagógica – podem atender de maneira eficaz a necessidade por conteúdo básico. Como um benefício adicional, os alunos podem acelerar, desacelerar e reproduzir vídeos conforme necessário. Os questionários e as plataformas adaptativas oferecem aos alunos a oportunidade de revisar o conteúdo e praticar as habilidades básicas com feedback (retorno) imediato. Resumindo, quando se trata de aprendizagem básica na parte inferior da Taxonomia de Bloom ou nos níveis mais baixos da estrutura de Profundidade do Conhecimento de Webb, os alunos podem revisar muitos materiais por conta própria – desde que tenham acesso a bons recursos online.
Os educadores normalmente dedicam o tempo cara a cara para atividades que aprofundem a compreensão dos alunos, fortalecem os relacionamentos e tornam o aprendizado significativo. Atividades prioritárias podem incluir debates, colaboração em grupos para realização de projetos, retornos avaliativos e aulas direcionada a tirar dúvidas.
Aula enriquecida com tecnologia: para alunos presentes à escola em meio período
Os programas que seguem esse modelo precisam garantir que todas as comunicações e materiais didáticos sejam de fácil acesso aos estudantes com o mínimo de orientação ou facilitação do professor. É um modelo que poderia se encaixar bem com o que algumas secretarias de educação estão planejando para o restante do ano letivo, com os alunos frequentando a escola em apenas alguns dias da semana.
Tal como acontece com o modelo de sala de aula invertida, o modelo de aula enriquecida com tecnologia também incentiva os educadores a estabelecer prioridades para o tempo de aula presencial. Em vez de gastar esse tempo cobrindo o conteúdo, os professores costumam concentrar as poucas horas que têm com os alunos em enfrentar os desafios específicos que impedem a aprendizagem independente dos alunos – sejam devido a conceitos errôneos sobre o conteúdo, hábitos de aprendizagem contraproducentes, dificuldades socioemocionais ou outros tipos de aprendizagem desafios.
Com os alunos ausentes durante aulas remotas durante a pandemia COVID-19, um modelo que permite aos professores passar horas presenciais focadas na identificação e solução às dificuldades de aprendizagem parece agora mais valioso do que nunca.
À la carte: Priorizando o tempo em sala de aula para os conteúdos mais importantes
O que é o modelo à la carte? É uma versão do ensino híbrido em que os alunos que frequentam escolas presenciais também fazem uma ou mais matérias online. Em circunstâncias normais, os alunos geralmente se inscrevem neste tipo de atividade quando precisam de flexibilidade adicional em seus horários ou quando estão interessados em matérias – como árabe, produção de som ou psicologia avançada – que não são oferecidos em suas escolas regulares.
Durante a pandemia COVID-19, as escolas podem considerar a oferta de cursos à la carte para lidar com a falta de infraestrutura. Assim como os modelos de sala de aula invertida e de aula enriquecida com tecnologia, este formato demanda que educadores pensem cuidadosamente sobre quais atividades são mais bem realizadas de forma independente e quais são melhor realizadas presencialmente. O modelo à la carte requer ainda que gestores avaliem quais matérias ou cursos são mais adequados para serem realizados online ou pessoalmente.
Por exemplo, os gestores podem decidir dedicar o tempo presencial para a parte obrigatória do currículo. Além disso, a escola pode oferecer mais aulas nesse formato para os alunos que mais precisam apoio especializado, como aqueles em risco de reprovação, sem acesso à internet de qualidade em casa ou aqueles cujos pais são profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Por outro lado, o modelo à la carte atenderia alunos cujas necessidades de aprendizagem e circunstâncias familiares são mais propícias ao aprendizado online.
Ainda não sabemos quanto tempo os alunos e professores poderão passar juntos durante o ano letivo. Mas aconteça o que acontecer, os princípios e práticas de ensino híbrido destacadas acima podem ajudar os educadores a pensar em como tirar o máximo proveito dessas circunstâncias.
- Thomas Arnett é pesquisador sênior em educação do Clayton Christensen Institute
Conteúdo publicado originalmente em Edsurge e traduzido mediante autorização
https://porvir.org/revisite-os-principios-do-ensino-hibrido-para-o-planejamento-escolar/