Problemas de estrutura nas escolas
Levantamento em 204 escolas estaduais aponta falta de mais de 500 professores e funcionários
Lançado no dia 4 de maio e encerrado na última sexta-feira (27), o Radar do CPERS, questionário elaborado pelo sindicato que representa professores e funcionários de escola do Estado do Rio Grande do Sul para diagnosticar a situação das instituições, recebeu 316 respostas, de 204 escolas, equivalente a 13% da rede estadual. A pesquisa apontou a falta de 176 professores, 146 especialistas (para laboratórios e bibliotecas) e 187 funcionários de escola, além de problemas estruturais graves.
Uma das instituições com problemas é a Escola Estadual de Ensino Médio Boa Ventura Ramos Pacheco, em Gramado, na Serra gaúcha. Segundo a diretora Tatiane Della Molle, 40 profissionais da educação trabalham na instituição em três turnos, e não há professor de Matemática para quatro períodos no turno da manhã e sete períodos da tarde. “Os professores de Matemática do turno da manhã faltam desde o início do ano e o da tarde faz um mês, pelo menos. A falta de professores afeta o número de alunos porque muitos saem da escola pela falta dos profissionais da educação”, conta.
Ainda de acordo com Tatiane, os pedidos de contratação são feitos diretamente à 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), de Caxias do Sul. Até a semana passada, por exemplo, a escola estava, também, sem um professor de Física. A partir da solicitação feita à 4ª CRE, uma profissional foi selecionada, porém mesmo assim ainda não há certeza se a vaga será preenchida.
“Chegou uma professora nova que talvez tenha que ser readequada numa outra escola e não fique aqui. A gente percebe, então, que estamos vivendo a consequência de não ter tido gente não somente aqui nesses primeiros seis meses”, relata Lucius Fabiano Martins da Silva, professor de História e supervisor do ensino médio da escola.
Além de professores, a escola também enfrenta a falta de funcionários para limpeza. Atualmente, contam somente com uma profissional para 600 alunos. Os problemas de infraestrutura tornam ainda mais difícil o trabalho pleno dos educadores que chegam à escola. A biblioteca, que foi transformada em sala de aula, necessita de reforma, assim como a parte elétrica dos prédios.
Para Alex Saratt, 1º vice-presidente do Centro dos Professores Primários Estaduais (CPERS – Sindicato) e presidente em exercício, esta é uma situação que se repete com professores e funcionários, ao longo de anos de administrações públicas que demonstram descaso com as categorias. “São baixos salários, falta de perspectiva profissional e falta de concursos públicos. No caso dos funcionários, pela política de terceirização, os salários também são baixos e algumas empresas não pagam em dia, as pessoas acabam desistindo e há uma rotatividade muito grande”, explica.
Procurada pela reportagem para esclarecimentos sobre a falta de professores, a chefe de recursos humanos da 4ª CRE, Ileane Scapin Paim, relatou que “trata-se de uma falta recente devido a uma dispensa” e que “o processo de contratação para a vaga já está em andamento”.
Já a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que “ocorrem casos pontuais de falta professores na rede estadual de educação em algumas regiões”. A secretaria afirma ainda que, assim que comunicados à respectiva Coordenadoria Regional de Educação, os casos são encaminhados para análise junto à Seduc. “As solicitações são atendidas por meio de novas contratações emergenciais e pela ampliação de carga horária dos docentes. A avaliação do quadro de recursos humanos é feita de forma constante e as demandas são imediatamente supridas por meio do banco de cadastro reserva”, explicou a secretaria em nota encaminhada à reportagem.
Em relação ao caso da Escola Boa Ventura Ramos Pacheco, de Gramado, a Seduc informa que já foi autorizada a contratação de um professor de Matemática, com carga horária de 25h, para suprir a demanda.