Produção científica cai em universidades
Produção científica cai em universidades do RS e fica abaixo do patamar pré-pandemia
Levantamento avaliou artigos feitos por pesquisadores de UFRGS, UFSM e UFPel. Baixa nas publicações também foi verificada no contexto nacional e global
Três das principais universidades do Rio Grande do Sul registraram queda no número de artigos publicados em 2023, na comparação com o ano anterior. O resultado levou a produção científica a ser inferior à registrada em 2019, período anterior à pandemia.
Os dados integram um levantamento divulgado nesta terça-feira (30), pela Agência Bori e a Elsevier, uma empresa global de análise de informações (leia completo aqui).
Foram analisadas no estudo publicações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
A UFRGS registrou o pior resultado no Estado em 2023, no comparativo com o ano anterior: -4,1%, seguida da UFPel (-3,3%) e UFSM (-1,1%).
A queda nas publicações do trio é maior se considerados dados de 2019. Naquele ano, a UFRGS publicou 3.866 artigos, contra 3.708 em 2023 (diferença de -4,1%).
A UFSM tem também queda de 4,1%, de 1.728 conteúdos para 1.658 no período. A UFPel é a com a diminuição mais significativa no recorte: de 1.173 para 1.072, queda de 8,6% entre 2019 e 2023.
Recorte nacional
No Brasil, a queda na produção de artigos foi de 7,2% entre 2022 e 2023. Além das gaúchas, outras 28 instituições brasileiras aparecem no trabalho. Apenas duas delas não tiveram resultados negativos no comparativo.
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, teve aumento de 0,3% (três artigos a mais); a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) contabilizou a mesma produção nos dois anos (2.109). A Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, é onde foi registrada a redução mais significativa: 10,7%.
A análise também indica queda na produção em todas as áreas do conhecimento. A com pior pior queda foi ciências médicas (-10,2%), como mostra o infográfico abaixo:
Integram o levantamento apenas instituições com mais de mil publicações científicas do tipo “artigos” publicadas em 2022.
Os pesquisadores reuniram dados de 53 países que publicaram mais de 10 mil artigos científicos em 2022; 35 deles tiveram queda na produção de 2022 para 2023. É o maior número observado desde 1997.
O que dizem os especialistas
Para Estêvão Gamba, cientometrista da Agência Bori, o resultado do levantamento é consequência do financiamento do Ensino Superior.
— O corte de recursos para pesquisas nos últimos anos é o grande responsável. Era esperado (queda nas publicações), porque, quando olhamos a produção científica, vemos o que foi feito lá atrás. Sabemos o quanto o corte de recursos pode impactar no desenvolvimento de pesquisa, ciência e tecnologia — diz.
Carlos Eduardo Lobo e Silva, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), cita o papel da pandemia sobre os resultados. Embora a crise sanitária tenha começado em março de 2020, a observação do prejuízo demora por conta das características da produção científica.
— Muitos trabalhos levam dois anos entre a finalização e a publicação. Projetos interrompidos em 2020 pela pandemia tiveram repercussão nos anos seguintes — pontua.
Outros dois pontos explicam o contexto: a diminuição no número de defesas na pós-graduação a partir de 2019 e a redução do investimento público em pesquisa e desenvolvimento, verificada desde 2015, diz o professor:
— Dissertação de mestrado e tese de doutorado se transformam em artigos. Além da pandemia, tivemos a redução das bolsas e a falta de reajuste delas até 2023.
O que dizem as universidades
UFSM
Por meio de nota, a UFSM disse que, em 2022, “foi a única instituição brasileira que apresentou crescimento na produção científica e em 2023 está entre as quatro instituições brasileiras com menor impacto em termos de redução de produção”. Isso demonstra “resiliência quanto à queda da produção científica” no país, segundo a universidade.
A UFSM também afirmou fazer esforços para captar recursos e qualificar a infraestrutura de pesquisa em diversas áreas do conhecimento nos últimos anos.
A universidade ressaltou que, na pandemia, foram feitas ações de internacionalização, como o intercâmbio virtual ter permitido que aulas fossem ministradas por professores estrangeiros. “Este aprendizado se manteve pós-pandemia e assim como as modalidades presenciais e virtuais foram mantidas”, acrescentou a nota.
UFPel
Flávio Demarco, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPel, diz que o resultado está ligado ao contexto pandêmico e à falta de recursos para pesquisa nas universidades federais.
— Está relacionado ao governo que tanto defenestrava a ciência e reduzia investimentos. É um resultado que esperávamos que acontecesse, porque os efeitos seriam de longo prazo — pontua.
O professor acrescenta que a instituição espera mais recursos do governo federal para que se retome um “círculo virtuoso em termos do desenvolvimento de ciência no país”, principalmente por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
UFRGS
Na manhã desta quarta-feira (31), a UFRGS enviou a seguinte resposta sobre o levantamento:
Considerando o relatório apresentado, a produção científica geral do Brasil passou de 75058 artigos em 2022 para 69656 artigos em 2023. Isso significa que a redução da produção ocorreu de uma maneira geral em todo o Brasil. Das 31 instituições de ensino e pesquisa avaliadas, somente uma (UFJF) teve um pequeno aumento na produção. A USP, número 1 em produção científica do País, reduziu em 8,5% sua produção. TODAS as instituições mais bem ranqueadas do Brasil tiveram redução... a UFRGS, entre essas, foi a que menos reduziu. Então, a UFRGS foi muito bem em 2023.
A CAPES definiu, como critério para avaliar a produção científica dos programas de pós-graduação do País, a produção mais significativa, sendo a quantidade menos relevante. Isso significa que haverá uma preocupação crescente, nos próximos anos, em qualificar a produção mais do que o número de publicações. Muito provavelmente, a produção nas revistas de maior fator de impacto aumentou este ano, e as de menor impacto reduziram muito. Isso deve ser visto como algo positivo. É um amadurecimento da nossa pesquisa, buscando publicar aquilo que pode impactar no futuro da nossa sociedade.
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