Professor resiste
PROFESSOR RESISTE À BARBÁRIE
Lucia Camini*
O mar da história é agitado, as ameaças e as guerras
havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio,
cortando-as como uma quilha corta as ondas
(MAIAKÓVSKI).
Dias difíceis marcam o cotidiano do professor (a) em nosso país, violentado (a) pela sua desvalorização social: muito trabalho, baixos salários, precária infraestrutura das escolas, cortes orçamentários, intimidação, perseguições e censura, militarização, educação domiciliar, obscurantismo contra a liberdade de ensinar, desprezo ao conhecimento, moralismo, machismo, misoginia, intolerância religiosa, racismo, ódio como pedagogia e a situação econômica dos estudantes vitimados pelas degradantes condições de vida. Esse é o quadro enfrentado pelo professor (a) num dos piores sistemas educacionais do mundo.
As causas dos fracassos são sempre depositadas sobre a escola pública e seus profissionais, como se fossem os responsáveis pela crise social, econômica e política geradora de profundas desigualdades de acesso, permanência e sucesso escolar. A falta de oferta educacional e de investimentos tem produzido um exército de excluídos. No Brasil são 2,4 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos sem estudar, 72% da população encarcerada abandonou a escola entre 12 e 13 anos de idade, mais de 11 milhões de adultos analfabetos, somos o pais que tem o menor custo aluno no ensino superior. O Brasil também é o país que menos valoriza os professores de acordo com pesquisa realizada em 35 países participantes do Programa Internacional de Avaliação de Estudante (PISA) onde foram ouvidas pessoas entre 16 e 64.
Tanto a agenda educacional ultraliberal centrada na competitividade e produtividade quanto às ultraconservadoras e reacionárias que consagram a família tradicional como unidade elementar da organização da sociedade vem dominada pelos discursos eficientistas do empresariado e de suas assessorias educacionais, pensadas longe do ambiente escolar, sem a participação dos professores e visam atender à estratégia do mercado, contrapondo ao projeto coletivo capaz de assegurar o direito à educação e a gestão democrática, princípios constitucionais esses, conquistados num longo processo de luta dos educadores.
Aqui no RS, o Governo Leite (PSDB) segue esse receituário ao propor “novas façanhas” de ataque aos professores e de modelos de privatização da Educação. A barbarização parece não ter limite nesse cenário de incertezas vividas pelo magistério gaúcho. Com salário congelado desde 2014 e pago todos os meses com atraso, os professores sofrem agora a mais dura afronta do governo a sua dignidade profissional com a apresentação de um pacote de medidas que visam à manutenção do quadro de miserabilidade e cerceamento da liberdade de participação nas lutas sindicais de sua categoria. Essas propostas liquidam com o Plano de Carreira, com o fim de vantagens por tempo de serviço, as gratificações passam a integrar o básico do nível/classe correspondente, aumenta as alíquotas de contribuição para aposentadoria, acaba com abono de falta para participação em atividades sindicais. As medidas atingem professores em exercício e aposentados sem distinção.
Por isso tudo é que estou convencida de que as lutas educacionais não podem cessar. As ameaças à educação brasileira e gaúcha exigem a energia militante do professor(a) para pautar um debate em defesa das escolas púbicas democráticas, inclusivas, laicas, com liberdade de ensinar e aprender, tendo professores valorizados, em contraponto ao que hoje alcança contorno de barbárie em nosso país.
Brasil de Fato, versão eletrônica
Lucia Camini
Mestre e doutora em Educação pela UFRGS