Professores com medo
"Medo é a palavra que mais ouvimos dos professores", diz coordenadora
Escolas se preparam para o retorno às atividades presenciais com rodas de conversa e projeto de acolhimento aos docentes
30.10.20 "O professor só pode acolher um aluno se ele, professor, já foi acolhido", diz Claudia de Abreu Ferreira, coordenadora pedagógica da creche municipal Emília Bastos Muzy, em Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, e do Colégio Estrela do Saber da rede particular. Ela é responsável por cuidar dos profissionais que retomam gradualmente as atividades presenciais neste momento da pandemia. "Medo é a palavra que mais ouvimos dos professores", Gêisa Silva de Oliveira Nobre Coordenadora Pedagógica do Colégio Estadual Polivalente, de Santo Estêvão, na Bahia. "Todos inseguros com o uso da tecnologia, do vírus, de um retorno, decidimos fazer reuniões para ouvi-los e replanejamos os conteúdos a partir do que ouvimos deles." As coordenadoras entenderam que os professores também precisam de apoio psicológico. "Quando começamos a preparar a escola para o retorno às atividades presenciais, não sabíamos como estaria a equipe, se adoeceram, se tiveram perdas, quais os sentimentos", diz Claudia. As rodas de conversa e a escuta atenta também fazem parte de um curso do Instituto Península, que tem monitorado os educadores neste período de pandemia. "Ao escutarmos mais de 3.800 professores em relação à retomada do trabalho presencial, em uma escala de 0 a 5, na qual 0 indicava 'nada confortável' e 5 'muito confortável', a média definida por professores foi 1,07, sendo que a questão que mais preocupa 86% dos docentes está relacionada às condições sanitárias adequadas nas escolas", explica Mariana Breim, diretora de desenvolvimento integral do Instituto. Claudia: acolhimento Arquivo Pessoal "Os cuidados necessários não são apenas sanitários", avalia. "Por isso, elaboramos um documento, um guia, de apoio à ação de Secretarias de Educação e unidades escolares na retomada das aulas, entendendo que para estarem prontos para acolher os alunos, as equipes de educadores também precisam ser acolhidas." As ações de acolhimento propostas pelo guia se dividem em duas fases: uma de escuta e mapeamento – realizada via questionário antes do retorno dos professores e profissionais da comunidade escolar, rodas de acolhimento presenciais e uma rede de apoio. "Todos tiveram de se reinventar. Precisamos olhar para o professor como um ser humano," conclui Claudia. Notícias podem causar estresse e ansiedade Freepik