Professores pedem socorro
Professores pedem socorro
É difícil admitir, mas a minha profissão adoece.
Adoece aos poucos com o excesso de trabalho, a cada noite sem dormir corrigindo provas ou preparando aulas, a cada sábado extra que se tem que trabalhar em vez de descansar, a cada família que se omite ou ainda pior, responsabiliza a escola pelos fracassos de seus filhos que não são supervisionados em casa.
A cada aluno que faz temeridades em sala, mas não pode ser punido. Não estuda, mas não pode ser reprovado – recebe uma, duas, trinta oportunidades, se for necessário perdendo a chance de aprender que ações, na vida, possuem consequências.
Certa vez, em uma sala com uns 10 professores na hora do recreio perguntei quem já tinha precisado de ajuda psiquiátrica. Oito responderam que sim, inclusive eu. As únicas duas que não haviam precisado eram recém-formadas. Foi triste e constrangedor ver o olhar delas para nós, como se vissem ali um esboço do próprio futuro.
A sobrecarga sobre nós é inimaginável para quem não vive a nossa realidade – mas ao mesmo tempo, qualquer um acha que pode ser professor. Nem sei quantas vezes vi pais querendo me ensinar o que eu poderia ou não poderia fazer em sala de aula, como era melhor ensinar a matéria na qual sou graduada sendo que sequer da área da educação eram.
Fora excrescências com as quais temos que lidar como a tal ideia criada por um advogado chamada de “escola sem partido”. Ah, se eles soubessem que todo, absolutamente todo discurso possui base ideológica – a própria negação da existência da ideologia é, por si só, uma ideologia.
Mas para entender isso, teriam que ter sentado 4 anos em um banco de faculdade de licenciatura, estudado didática de ensino, ter visto de Comenius a Paulo Freire, passando por Piaget e Vygotsky para somente então compreender que absolutamente todo discurso possui ideologia – e o que realmente importa não é a presença da ideologia, mas sim, se ela é excludente ou inclusiva. Se ela acolhe a diversidade ou se massifica. Se nela cabe todo o universo estudantil e a comunidade escolar ou se é boa apenas para alguns.
Porém, ninguém quer isso. Ninguém quer realmente saber quanto trabalho dá ser professor e continuar professor ao longo das décadas de trabalho. E considerando os baixos salários e as lutas inglórias para conseguir o pagamento ao menos do piso salarial além das péssimas condições de trabalho com carga excessiva de trabalho, menos pessoas ainda quererão cursar licenciatura e dar aulas.
Porque a valorização da educação não passa de mero discurso vazio. Eu estou doente porque a minha profissão adoece. E isso é triste demais.
Profa. Érica
@ProfaEricaCL
FONTE:
https://fatoreal.com.br/2023/06/05/professores-pedem-socorro/