Por Phillipe Cupertino*

Antes mesmo do presidente Bolsonaro tomar posse, a comunidade científica e acadêmica brasileira já se preparavam para uma tempestade avassaladora. A queda nos investimentos nas universidades não se iniciou em 2019. Porém, a política bolsonarista agravou e profissionalizou o ataque às universidades e aos grandes centros de pesquisa do Brasil.

O que representa um boicote ao nosso desenvolvimento nacional, à soberania, à cidadania e à efetivação dos direitos humanos. São nas universidades, sobretudo públicas, onde formamos os principais quadros para atuarem nas indústrias, no ensino, nas áreas tecnológicas, na economia criativa, na produção de conhecimento crítico e voltado para a transformação social.

:: Estudantes de escolas públicas adiam sonho de cursar ensino superior via Enem; leia relatos ::

Em novembro de 2020, fomos reconhecidos mundialmente 11º nação em produção científica de alta relevância sobre a covid 19. Uma conquista surpreendente do povo brasileiro, especialmente por sermos um país em desenvolvimento, marcado pelo imperialismo, pelas permanências coloniais e pelas ingerências do capital financeiro.

Porém, no contexto da pandemia, não somos a 11º nação a imunizar a população contra o novo coronavírus. E pior, estamos entre os países com a maior letalidade. Em termos proporcionais da nossa população não estamos nem entre os 50 países a avançar nas vacinações. E não é por falta de capacidade ou recursos, não! É um boicote. É a prevalência de uma política negacionista e genocida que despreza o fato de sermos uma potência mundial em ciência!

Continuidade do bolsonarismo na política brasileira representa um risco ao desenvolvimento nacional 
/ Sergio Moraes

O governo brasileiro sequer montou um comitê de crise com representações das universidades, dos centros de pesquisas, reunindo profissionais de diferentes áreas do conhecimento para pensar em saídas para enfrentar a disseminação do coronavírus.

E para completar, quando mais precisamos das universidades e dos cientistas brasileiros, são essas as pastas que mais sofrem cortes orçamentários. Nenhuma política concreta voltada para viabilizar o acesso dos estudantes universitários pobres ao ensino remoto. Muitos menos foram anunciados investimentos para adaptação da infraestrutura das universidades brasileiras para viabilizar um espaço de atividades que respeite os protocolos de biossegurança e que garanta o direito à vida da comunidade acadêmica.

Pelo contrário, o ministro da Saúde apresenta a Portaria Interministerial nº 5, de 4 de agosto de 2021, reconhecendo a importância nacional do retorno à presencialidade das atividades de ensino e aprendizagem sem informar em quais condições ocorrerão tal retorno, uma vez que nenhum investimento foi realizado, nenhuma política inédita foi apresentada para tornar o ambiente escolar e universitário seguro nos últimos meses.

A continuidade do bolsonarismo na política brasileira representa um risco ao desenvolvimento nacional e a nossa consolidação enquanto uma potência mundial em educação, ciência e tecnologia, e precisamos derrotá-lo não apenas nas urnas, mas extirpá-lo em todos os âmbitos da sociedade.

*Phillipe Cupertino é Doutor em Direito pela UFRJ, professor universitário e da secretaria nacional do IPDMS.

**Leia outros textos da coluna Direitos e Movimentos Sociais. Autores e autoras dessa coluna são pesquisadores-militantes do Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais, movimento popular que disputa os sentidos do Direito por uma sociabilidade radicalmente nova e humanizada.

***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo

https://www.brasildefato.com.br/2021/08/06/o-projeto-de-bolsonaro-para-a-educacao-e-a-crise