Projeto de escolas cívico-militares
Especialistas em educação criticam projeto de escolas cívico-militares lançado pelo governo
Manifestantes protestam no centro do Rio, no dia 15 de maio, contra cortes na Educação
Foto: PILAR OLIVARES/REUTERS/15/5-2019
RIO- Educadores criticaram duramente o plano lançado pelo governo Bolsonaro nesta quinta-feira para a implementação de 216 escolas cívico-militares até 2022. De acordo com especialistas da área, não há evidências concretas de que esse modelo de instituição impulsione bons resultados em termos de aprendizagem. Além disso, a medida seria uma política pontual, que atingiria poucos alunos.
Em evento nesta quinta-feira, o presidente afirmou que os gestores devem impor a implementação do modelo, sem a necessidade de aprovação prévia da comunidade escolar. O projeto, no entanto, a adesão é voluntária e precisa ser requisitada pelo estado ou município.
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— Temos uma falta total de evidência de que o fator de presença de militares na escola pode ocasionar o aumento de resultados. É um erro de diagnóstico gigantesco e imperdoável. O MEC está tendo que cortar em programas muito importantes, que têm comprovação de que trazem resultado, e está investindo num caminho que não tem evidência nenhuma. É uma escolha de motivação puramente ideológica e não podemos tolerar e não se indignar com esse caminho escolhido pelo governo federal de investir na expansão de escolas cívico-militares — afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.
De acordo com a especialista, o governo faria um trabalho melhor se utilizasse os recursos em áreas prioritárias com impacto em larga escala.
— O melhor que eles podem fazer pela educação básica é formar melhor os professores, aumentar os padrões de qualidade, a regulação e avaliação dos cursos. Segurar o avanço da educação à distância em pedagogia e licenciaturas — analisa Cruz.
A opinião de Andressa Pellanda, coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, é semelhante. Ela explica ainda que o modelo pensado pelo governo, no qual a gestão da escola seria militar e a parte pedagógica seria conduzida por educadores, é equivocado.
— Há não somente um desvio de função das forças armadas quando passam a atuar em escolas, como não há preparo e formação pedagógica desses funcionários para serem educadores. Nesse aspecto, o programa tenta separar o que seria a gestão da escola e a gestão comportamental da parte didática. As primeiras ficariam a cargo dos militares e a segunda dos professores. Isso denota uma completa falta de compreensão sobre a educação: em uma escola, da gestão à merendeira, todos são educadores — argumenta.
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A educadora Anna Helena Altenfelder explica ainda que a comparação de escolas militares ou cívico-militares com a rede regular não é válida, porque, em geral, esses modelos costumam selecionar os alunos e recebem maior investimento. Altenfelder diz ainda que o plano do MEC é uma iniciativa que atingirá pouquíssimas pessoas, longe da política em larga escala que o Brasil precisa para combater desigualdades.
— Não dá para dizer que uma escola que seleciona e que tem custo aluno mais alto tem qualidade devido à disciplina militar. Há inúmeras pesquisas que mostram que o investimento e a seleção acabam afetando a qualidade. Espera-se que qualquer política pública traga respostas claras sobre seus objetivos e vá na direção de enfrentar as desigualdades educacionais que temos no Brasil, não é o caso dessa proposta. Fazer um ensino de qualidade para poucos não é fornecer educação e sim privilégio, e esse não é o papel do MEC. Apenas disciplina, sem diálogo, não vai promover uma cidadania consciente com cidadãos responsáveis.