Projetos aprendizagem da matemática no NEM
Escolas gaúchas implementam projetos para melhorar aprendizagem da matemática no Ensino Médio
Avaliação da Secretaria Estadual da Educação aponta que somente 1% dos alunos do último ano desta etapa na rede estadual têm desempenho adequado na disciplina
JHULLY COSTA
Uma avaliação divulgada no início deste mês pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) mostrou dados alarmantes sobre os alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio: apenas 1% dos matriculados em escolas estaduais têm desempenho adequado em matemática. Diante do problema, que foi ampliado pelo ensino remoto decorrente da pandemia e atinge todo o Brasil, escolas gaúchas estão investindo no desenvolvimento e fortalecimento de projetos de reforço para auxiliar quem tem dificuldades na disciplina.
A própria Seduc implementou, a partir dos resultados da primeira edição do Avaliar é Tri, em 2021, um programa de recuperação e aceleração da aprendizagem. Com o projeto, chamado de Aprende Mais, a carga horária de matemática foi ampliada em três horas semanais e, a de língua portuguesa, em duas horas semanais. Confira, abaixo, outras iniciativas que são desenvolvidas no Rio Grande do Sul:
Fundação Liberato tem projetos de monitoria e reforço
Na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo, os professores vêm observando um déficit nos conteúdos de base entre os mais de 2 mil estudantes matriculados no Ensino Médio. Segundo Marcelo Dall’Alba Boeira, professor de matemática e diretor de ensino da instituição, os alunos saem do Ensino Fundamental com muita dificuldade, um problema que já existia, mas foi intensificado pela pandemia.
Para atenuar as dificuldades e recuperar os conteúdos, os professores do 1º ano do Ensino Médio costumavam fazer revisões aprofundadas no início do período letivo. Agora, esse serviço tem sido necessário em todas as séries. A Fundação também disponibiliza projetos de monitoria, em que alunos dos últimos anos auxiliam estudantes que estão começando o Ensino Médio, e de reforço, onde professores de todas as disciplinas dão aulas extras para os jovens que têm dificuldade. Todas atividades são no turno inverso às aulas regulares.
— Temos alunos vindos de diferentes redes, então eles chegam com uma diferença de conhecimento muito grande e precisamos trazê-los para a nossa realidade, para que eles tenham a base para um curso técnico. Na matemática e na física, isso fica muito evidente. E, com a pandemia, o que se verifica é que a base está ainda mais fragilizada, então intensificamos esse reforço no aprendizado — explica Boeira.
A monitoria é realizada todos os dias, no Laboratório de Matemática da instituição, mas o estudante pode escolher a frequência da participação, de acordo com sua necessidade. O projeto oferece apoio principalmente às disciplinas de matemática e física, mas também há atendimento para algumas matérias da área técnica. O diretor de ensino afirma que o trabalho funciona muito bem porque os alunos falam a mesma linguagem.
Bianca Santos de Oliveira, 16 anos, é estudante do 2º ano e uma das monitoras do projeto desde o início do ano. Para ela, a atividade é uma das experiências mais interessantes que a Fundação Liberato lhe proporciona, já que consegue ajudar colegas e, ao mesmo tempo, aprender com eles. A jovem considera muito importante a disponibilização de espaços, além da sala de aula, para quem tem dificuldade, sobretudo porque a maioria foi impactada de forma negativa pelo ensino remoto.
Um dos participantes da monitoria é João Gabriel Nóbrega Morél, 17 anos, também aluno do 2º ano. Ele conta que não foi muito bem na primeira prova de matemática e, por isso, uma professora lhe sugeriu a participação no projeto:
— Eles foram superatenciosos e me ajudaram bastante com as minhas maiores dificuldades. Com isso, já fui bem na segunda prova, está dando resultado.
Colégio de Aplicação da UFRGS
O cenário de aprendizagem em matemática no Ensino Médio também tem sido bastante desafiador no Colégio de Aplicação (CAp) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, afirma o professor da disciplina, Marcelo Santos. Neste contexto, a área de matemática tem procurado implementar diferentes estratégias para que os estudantes possam recuperar objetivos de aprendizagem não atendidos em anos anteriores.
Um dos projetos destacados pelo professor é a parceria com o Instituto de Matemática e Estatística da UFRGS, a partir da qual os graduandos em Matemática atuam sob coorientação dos professores do CAp, planejando atividades e participando das aulas, o que possibilita um atendimento voltado às habilidades e competências que cada aluno precisa desenvolver. Além disso, o colégio disponibiliza atendimentos no Laboratório de Ensino, com atividades em turno oposto às aulas regulares, voltadas aos conteúdos em que os estudantes demonstram dificuldades.
— Também há projetos de extensão desenvolvidos pela área, como A Matemática que faltou e iPi Matemática em Delivery, que têm como objetivo revisar os conteúdos de matemática estudados durante toda a trajetória do Ensino Básico e produzir materiais relacionados a esses conteúdos. Estes projetos começaram durante a pandemia, a partir de demandas identificadas junto aos estudantes — comenta Santos.
Estiagem e matemática em São Borja
Em São Borja, a professora Meri Terezinha Melo Monzon desenvolveu um projeto diferente com alunos do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Técnica Olavo Bilac, a fim de amenizar as lacunas deixadas pela pandemia. Ela explica que o trabalho na área da matemática envolveu a situação de estiagem da Fronteira Oeste, que impactou os setores de agronegócio, pecuária e agricultura da região.
— Baseada nessa realidade, criei um projeto com o tema "Impacto da Estiagem em São Borja", abordando conceitos de leitura e coleta de dados, e análise da situação econômica e social. O objetivo era reforçar conceitos matemáticos como: resolução de problemas, porcentagem, estatística, taxa, gráficos, relatórios, lucros e prejuízos, comportamento das funções afim e quadrática, crescimento e decrescimento — relata.
Durante o trabalho, foram feitas estatísticas com previsões positivas e negativas, como o reflexo no mercado de trabalho. Meri afirma que continua atuando no projeto com os alunos e ressalta que a junção de temas da realidade com a matemática ajuda na leitura e na interpretação, competências que são fundamentais para o aprendizado da disciplina.