Protesto contra Reforma Administrativa
Servidores protestam em Porto Alegre contra Reforma Administrativa
Ato integra paralisação nacional e critica proposta que ameaça vínculos, estabilidade e critérios de progressão
- Porto Alegre (RS) Marcela Brandes
Assufrgs realiza manifestação em Porto Alegre, em dia de luta nacional contra a desvalorização do funcionalismo público e a Reforma Administrativa.
Porto Alegre (RS) foi palco de um ato que, segundo sindicalistas, revela a intensidade de um movimento de resistência ao que consideram ameaça ao serviço público e aos direitos dos trabalhadores. A mobilização nesta quinta-feira (4) integra uma paralisação nacional de 48 horas convocada por entidades de servidores técnico-administrativos de instituições federais, entre elas o Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e Instituto Federal de Educação (Assufrgs).
A decisão de paralisação foi aprovada em assembleia da Assufrgs no dia 18 de novembro, como resposta à tramitação da Reforma Administrativa — apontada pela entidade como “pacote de retrocessos”.
Promessa de modernização e críticas dos servidores
O governo federal, por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), defende que o que está em curso não é apenas uma reforma, mas uma “transformação do Estado” para torná-lo mais eficiente, inclusivo, digital e alinhado com as demandas da população. Entre as medidas destacadas pelo ministério estão a reestruturação de carreiras, a criação de novos cargos — inclusive para universidades federais — e a expansão da progressão funcional, de modo a aumentar o número de níveis de carreira.
O novo projeto de gestão de pessoas, enviado recentemente ao Congresso, considera a criação de 8,6 mil cargos efetivos para universidades federais e afeta cerca de 200 mil servidores ativos e aposentados da administração pública federal.
Por outro lado, sindicatos de servidores, como a Assufrgs e a Federação que reúne trabalhadores técnico-administrativos de instituições federais de ensino (Fasubra), denunciam que a proposta representa riscos concretos: perda de direitos, precarização de vínculos, fim da estabilidade e ameaça aos serviços públicos essenciais.
Segundo os coordenadores da Assufrgs, o temor central é que a aprovação da reforma inviabilize concursos públicos, flexibilize vínculos e comprometa áreas como educação, saúde e assistência social — pilares do serviço público universal brasileiro. Conforme o coordenador-geral, Ricardo Souza, “a pauta da paralisação é a mobilização contra a Reforma Administrativa, a PEC 38 que tramita na Câmara”
RSC e expectativas de valorização
Outro ponto central na mobilização dos técnico-administrativos é a implementação do instrumento de Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC), previsto para integrar o plano de reestruturação de carreiras. O RSC busca valorizar a trajetória profissional dos servidores, reconhecendo experiências e competências acumuladas — mesmo sem titulação acadêmica — como forma de progressão e gratificação.
Entidades como a Fasubra historicamente reivindicam que o RSC garanta equidade entre docentes e técnico-administrativos, assegurando que o conhecimento prático e a experiência sejam valorizados. Contudo, sindicalistas alertam que a minuta entregue pelo governo descaracterizou aspectos fundamentais da proposta debatida, reduzindo o alcance do RSC.
Na avaliação da coordenadora-geral da Assufrgs, Maristela Piedade, o texto alterado “não tem nada a ver” com o que os trabalhadores tinham pensado sobre a RSC. Segundo ela, o governo enxergaria o instrumento apenas como oferecimento de gratificação, e não como reconhecimento real da carreira.
Para Ricardo Souza, a distorção do RSC representa “um ataque ao reconhecimento da luta” e pode implicar exclusão de muitos servidores do benefício.
Mobilização intensificada e pressão até o Congresso
Diante do cenário, a Assufrgs optou pela paralisação e por uma forte mobilização pública, que aconteceu nesta quinta-feira (4). A marcha saiu a faculdade de educação da Ufrgs, adentrou o túnel da Conceição e encerrou na prefeitura de Porto Alegre.
Além da questão da Reforma Administrativa, o sindicato reivindica o cumprimento integral dos acordos da greve de 2024, e discute internamente temas como jornada de trabalho, controle de frequência e implementação de programas de avaliação de desempenho.
Estavam presentes no ato a Associação dos Servidores da Universidade Federal de Santa Maria (Assufsm), a Associação dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas (Asufpel), a Associação dos Servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Assufrgs), o Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Rio Grande do Sul (Sindserf-RS), o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Metroviário e Conexos do Rio Grande do Sul (Sindimetro), o Sindicato dos Servidores da Justiça (Sindijus) e o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers)
A construção nacional da mobilização envolve organizações de todo o país e entidades representativas do funcionalismo, agrupadas no Fórum Nacional das Entidades de Servidores Públicos (Fonasefe) e na Fasubra. A pressão, defendem os coordenadores, segue até o fim do recesso do Congresso — com o objetivo claro de barrar a aprovação da proposta da reforma.
Impactos para a população: serviços públicos em xeque
Para os sindicalistas, a aprovação da Reforma Administrativa e a desvalorização do funcionalismo não afetam apenas os trabalhadores — mas toda a sociedade. A manutenção da estabilidade, da qualificação e da valorização profissional, argumentam, é condição para a oferta de serviços públicos adequados, em educação, saúde, pesquisa e assistência social.
Segundo eles, se as reformas forem implementadas conforme o texto atual, podem significar menos concursos, menos acesso à carreira pública, cortes na oferta de serviços e fragilização do Estado como garantidor de direitos universais. A RSC, por sua vez, embora prevê reconhecimento de competências, depende de regulamentação orçamentária e critérios de concessão, o que, segundo críticos, pode restringir o acesso daqueles que mais necessitam de valorização.
Editado por: Marcelo Ferreira
FONTE:
Reforma Administrativa: o ataque disfarçado de modernização
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) busca desmontar direitos e precarizar o serviço público
- Porto Alegre (RS) Fabiano Zalazar
Quem defende a “PEC da Bandidagem”, apoia a anistia de políticos, mantém o trabalhador preso a uma escala desumana de 6×1, resistiu à isenção do Imposto de Renda para os que ganham menos e rejeita a taxação dos super-ricos, revela um mesmo projeto: o de concentrar poder e riqueza. Essa mesma lógica orienta a defesa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Administrativa, uma proposta que, sob o disfarce da modernização, busca desmontar direitos, precarizar o serviço público e entregar o Estado aos interesses privados.
Não é coincidência. Essa proposta que é apresentada como se fosse uma modernização do Estado é, na verdade, mais um passo no desmonte do serviço público brasileiro. A Reforma Administrativa não foi feita pensando no povo. Foi desenhada para reduzir direitos, enfraquecer servidores e servidoras e abrir espaço para a privatização disfarçada de áreas essenciais como saúde, educação e segurança.
Sob o discurso da “eficiência” e da “gestão moderna”, o que se esconde é o enfraquecimento das carreiras públicas e o aumento do poder político sobre nomeações e demissões. A estabilidade do servidor, que existe não como um privilégio, mas como proteção ao interesse público, será destruída. Com isso, abre-se caminho para o apadrinhamento político e para o retorno do “quem indica”, que o serviço público tanto lutou para superar.
Os grandes beneficiários serão os mesmos de sempre: os grupos econômicos interessados em lucrar com serviços que deveriam ser direitos. O cidadão comum, especialmente o mais pobre, é quem perderá quando faltar médico no posto de saúde, professor na escola ou servidor na linha de frente do atendimento social.
É preciso denunciar a hipocrisia de setores do Congresso que, ao mesmo tempo em que se opõem a medidas populares como a taxação dos super-ricos, posam de reformistas responsáveis. O Centrão e seus aliados não estão pensando em eficiência, mas em ampliar o controle político sobre o Estado e abrir novas oportunidades de negócios para seus financiadores. É preciso estar atento: no ano que vem teremos eleições, e os mesmos que hoje atacam os direitos do povo e defendem a Reforma Administrativa tentarão se apresentar como representantes da mudança. Não se deixem enganar, não podemos deixar nos enganar, quem vota contra o povo não merece o voto do povo!
Por isso, o alerta é urgente: se o Centrão é a favor, sejamos contra! A Reforma continua a ser um risco para toda classe trabalhadora a serviço do grande capital, o que aumentará as desigualdades e as injustiças sociais. Essa Reforma não é para o povo. É contra o povo!
*Fabiano Zalazar é servidor público do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) e dirigente do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Sindjus-RS).
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Editado por: Vivian Virissimo




