Qualidade de vida e dinheiro no bolso
Educação pesa tanto na qualidade de vida quanto dinheiro no bolso, mostra pesquisa do IBGE
Ter uma renda alta não garante bem-estar no Brasil, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018): Indicadores de Qualidade de Vida, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. Os dados mostram que o acesso à educação é tão importante para a qualidade de vida dos brasileiros quanto a saúde financeira e a posse de eletrodomésticos como geladeira e fogão.
Com os dados da POF 2017-2018, o IBGE divulga dois índices multidimensionais: o Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) e o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS). Como estão sendo divulgados pela primeira vez, esses índices são classificados como estatísticas experimentais.
Os dados divulgados pelo IBGE são um recorte da POF que mostra outras dimensões do bem-estar para além dos gastos e compras das famílias com produtos e serviços.
O objetivo do levantamento divulgado nesta sexta-feira foi apresentar uma visão mais abrangente da qualidade de vida no país.
— O IPQV retrata as perdas da qualidade de vida em diversos recortes da população — explica Leonardo Santos de Oliveira, analista da pesquisa.
Ele acrescenta que as perdas foram mais elevadas em famílias com crianças, em áreas rurais, das regiões Norte e Nordeste, assim como em famílias com pessoa de referência preta ou parte, mulher ou pouco nível de instrução.
— Quando o recorte é feito por renda disponível, vimos que as famílias com menor renda tiveram perdas mais elevadas. Entretanto, as perdas na qualidade de vida foram presentes mesmo no último décimo da distribuição de renda.
Coleta de lixo e energia
Para isso, a renda da família não é contabilizada, mas sim outros fatores, como as condições de moradia e dos serviços básicos (coleta de lixo e energia elétrica, por exemplo), a oferta de transporte público, entre outros.
O IPQV engloba ao todo 50 indicadores, divididos em seis categorias — moradia; serviços de utilidade pública; saúde e alimentação; educação; acesso a serviços financeiros e padrão de vida; e transporte e lazer.Já o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) incorpora a renda disponível familiar per capita (RDFPC) e as perdas de qualidade de vida a partir das seis dimensões do IPQV.
Os pesquisadores estimaram o quanto se perde de qualidade de vida por falta de acesso a esses bens e serviços. E concluíram que todas as dimensões têm peso considerável no bem-estar dos brasileiros, o que mostra que os problemas que atrapalham a qualidade de vida no país são generalizados.
As maiores contribuições, porém, vêm dos grupos "acesso a serviços financeiros e padrão de vida" (19,5%) e "educação" (19,1%).
O primeiro engloba indicadores como não ter conta em banco (nem corrente, nem poupança), não ter eletrodomésticos, como geladeira e fogão, ter contas de luz, água, gás e telefone atrasadas, e ter dificuldade ou muita dificuldade de passar o mês.
Já a segunda categoria, de educação, inclui famílias com crianças e adolescentes fora da escola e adultos com baixo nível de instrução.
As demais contribuições são de 17,2% para a categoria de transportes, 16,1% para moradia, 14,1% para serviços de utilidade pública, e 14% para saúde e alimentação.
Famílias pobres e negras têm mais perdas
O Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) no Brasil era de 0,158 entre 2017 e 2018.
Os dados mostram ainda que, apesar de os problemas serem generalizados no país, a situação é pior entre as famílias com renda mais baixa, ou com chefes mulheres, negros (as) ou que possuem filhos.
Famílias cujo provedor tem pouca instrução ou é mais jovem e as que moram em zonas rurais também apresentam menor qualidade de vida.
O índice de perda de qualidade de vida é de 0,169 para famílias chefiadas por mulheres, e de 0,151 para lares nos quais os homens possuem a gestão financeira. Quanto mais alto o índice, piores são as condições de vida.
No recorte por cor, lares pretos e pardos possuem índice de 0,185, enquanto famílias brancas têm IPQV em 0,123.
O índice que mede o bem-estar também é pior entre as famílias em que o respondente da pesquisa não possui instrução (0,255). No caso do ensino fundamental completo, o índice é de 0,199. Para quem tem ensino superior completo, por exemplo, é de 0,076.
Empregados domésticos mais afetados
Entre as ocupações, a pior qualidade de vida é dos empregados domésticos (0,203) e a melhor é a dos empregadores (0,093).
Famílias que possuem a faixa de renda mais baixa também apresentam maior perda na qualidade de vida (0,260) do que os lares com o nível de renda mais alto (0,063).
A pesquisa aponta ainda que as famílias com mais de um adulto e um ou mais filhos têm menos qualidade de vida (0,170) do que casas com mais de um adulto e nenhuma criança (0,142).
O nível de bem-estar é praticamente o mesmo no recorte demográfico. A exceção são os lares chefiados por jovens de até 24 anos, que possuem menos qualidade de vida que os demais (0,169).
Entre as regiões do país, as condições de vida são piores no Norte (0,225) e Nordeste (0,209). Em seguida, estão Centro-Oeste (0,159), Sudeste (0,127) e Sul (0,115).
Famílias que vivem em zonas rurais também possuem pior qualidade de vida (0,246) em relação às que moram em regiões urbanas (0,143).