Racismo estrutural

Racismo estrutural

MOVIMENTO PRETO E RACISMO ESTRUTURAL: ONDE MORA O BOM COMBATE?

Publicado em 19 de ago de 2019

Em geral, quando pensamos em racismo, pensamos em uma violência direta a uma pessoa preta, indígena, cigana, judia e etc, quando você ofende alguém, quando você paga um salário menor, quando você impede uma pessoa de avançar socialmente pela cor da pele ou segmento cultural, ou seja, uma discriminação nesta ordem direta.

Entretanto, para compreender o racismo, precisamos entender o mesmo não como um fenômeno conjuntural, como se fosse algo pontual e, portanto, passageiro. O que queremos dizer com isso?

Se o racismo fosse um fenômeno, uma anomalia, a gente geralmente trataria o racismo como uma patologia social ou então como uma patologia atribuída àqueles que são racistas algum tipo de problema intelectual, mental ou mesmo de caráter, a gente costuma tratar o racismo como uma anormalidade.

O que a noção de racismo estrutural coloca é que o racismo não é algo anormal, é algo normal, não no sentido de que devemos aceitar, mas no sentido de que ele existe independente de aceitar ou não, ele constitui as relações com seu padrão de normalidade, ou seja, o racismo é uma forma de racionalidade, é uma forma de normalização (ou normatização), da compreensão das relações, o racismo constitui não só as ações conscientes, mas constitui também a porção do inconsciente, um exemplo disso é do racismo quanto modo de estrutura social, como funcionamento normal da vida cotidiana.

Quando falamos de racismo estrutural podemos tranquilamente balizar o mesmo em três dimensões do racismo entendido nessa perspectiva que não é da patologia, estamos falando de economia, de política e de subjetividade, são os três pontos que constituem o que nós entendemos como estrutural, são três pontos em que os indivíduos são constrangidos e que fazem parte da própria dinâmica com que eles vivem cotidianamente.

Neste sentido vamos pegar, por exemplo, no campo da economia, no Brasil muita gente reclama da Carga Tributária (e o governo do “Coiso” Jair Bolsonaro está neste bate cabeça por conta deste tema) onde quem reclama mais são os grandes empresários, justamente os que proporcionalmente pagam menos tributos, mas são os que mais reclamam e os que menos dependem dos serviços públicos, que exatamente são financiados pela tributação, mas agora vejam só, pesquisas recentes demonstram que o grupo social mais afetado pela Carga Tributária no Brasil são as mulheres pretas, o que é impressionante – Mas porque isso?

Porque existe uma política deliberada do estado brasileiro de tributar mulheres pretas?

Não.

É porque a estrutura, o sistema tributário brasileiro funcionando na sua normalidade, do jeito que foi constituído, funcionando de acordo com as normas estabelecidas, reproduz as condições de aprofundamento das desigualdades que colocam a mulher preta no final da base da pirâmide social.

Por quê?

Porque as mulheres pretas são aquelas que recebem os menores salários, como a tributação brasileira é estruturada fundamentalmente para incidir sobre o consumo e sobre o salário, as pessoas que ganham menos e que também consomem são aquelas que vão pagar proporcionalmente mais impostos, então veja com isso vai formando uma cadeia, se eu ganho pouco, moro em lugares de grande vulnerabilidade, sou privado de algumas necessidades, que vão gerando tensões familiares e sociais, que tornam as pessoas mais propensas a ser vítimas de algum tipo de violência, então conseguimos a partir desta reflexão estabelecer um relação estrutural entre os baixos salários das mulheres pretas, a construção do sistema público tributário, a falta de representatividade da mulher negra nos espaços de poder e as pautas das mulheres negras não tomam corpo a ponto de se tornarem políticas sociais e políticas públicas.

Então vejam que juntando tudo isso a gente consegue entender, por exemplo, outros dados que são assustadores, por exemplo, o fato de que, entre 2003/2013, a violência contra as mulheres brancas recuou quase 10%, mais precisamente 9.8%, só que em compensação a violência contra mulheres pretas aumentou 54.5% o que explica isso não ser uma condição estrutural, mas uma condição de funcionamento normal das instituições.

O que espanta, e eu acho que esta é a questão mais fundamental, sobre como o racismo é estrutural e estruturante das relações sociais e da formação dos sujeitos, é que não há mesmo entre as pessoas que não aceitam esse tipo de violência qualquer tipo de ação política efetiva para se voltar contra isso, ou seja, a sociedade de alguma maneira naturaliza a violência contra pessoas pretas, a sociedade naturaliza violência contra pessoas pretas na sua mais sincera compreensão, a morte de jovens pretos sistematicamente nas periferias não causa choque como deveria causar o assassinato de pessoas, estima-se que de todos os jovens mortos nos últimos anos 77% sejam jovens pretos, o fato do encarceramento em massa atingir prioritariamente pessoas pretas e jovens pretos, isso não causa espanto, o fato de pessoas pretas frequentarem certos ambientes (aeroportos, shoppings, hotéis, lojas e etc…) e isso causar espanto, isso também demonstra o quanto é naturalizada a ausência de pessoas pretas também em certos locais, ou seja, o impressionante quando se assiste a uma novela ou então se assiste a uma sessão no Supremo Tribunal Federal, ou uma sessão no Congresso Nacional, ao se observar que a maioria das pessoas ali presentes naquelas posições são pessoas brancas isso não causa um choque na sociedade, quando se sabe de forma racional que 54% da população nacional brasileira se autodeclara preta, entendemos que há espaços onde só existem pessoas brancas, ou espaços, em geral espaços de poder, de decisão, mas, com a ausência representativa de 54% da população brasileira.

Ou seja, o racismo é um dado estrutural, é um dado que constitui as próprias relações.

Agora a pergunta é;
É possível mudar isso?

O racismo estrutural tem um outro efeito, um outro sintoma, um sintoma que se dá sobre as pessoas não pretas, sobre as pessoas que não são meras pessoas brancas que é exatamente naturalizar sua condição enquanto pessoa branca, ou seja, a branquitude, o branco, o ser branco se torna regra, o ser preto se torna exceção, o branco não tem raça, quem tem raça é o negro.

Agora tanto ser branco, como ser preto são construções sociais e que são vivenciadas a partir de certos privilégios estruturalmente estabelecidos, enfim neste sentido a luta contra o racismo e, portanto a luta pela transformação social, pela construção de uma sociedade mais justa, solidaria e educadora passa necessariamente pela luta contra o racismo na sua dimensão estrutural e estruturante.

O que significa que se deve abrir mão de privilégios para que a luta contra o racismo seja uma luta efetiva, é uma luta para se desconstituir, aqui cabe um parênteses, que estamos falando do racismo, mas poderíamos facilmente, por exemplo, estar falando aqui de machismo que é a condição do homem, o privilégio masculino que também estrutura as relações sociais e daí se a gente conseguir juntar racismo com política economia à gente já consegue perceber nitidamente como o racismo e é um elemento fundamental de todas as formas de exploração econômica.

Movimento Preto (negro) é o nome dado aos movimentos sociais que fazem um composto de vários coletivos que lutam contra a discriminação racial e social nesse país, pessoas que vivem a diáspora na diáspora, portanto nós somos vários coletivos formados por várias vozes.

Das pretas e pretos da pele mais retinta a menos retinta, que, a partir da narrativa desse movimento promulgam muitas falas de várias dores em várias discussões, basta você começar a se engajar e falar sobre negritude que você estará, de certa forma, se relacionando com o Movimento Preto e em dado momento integrando-o.

Relacionado até mesmo para falar besteira, fazendo coro com o criadores da branquitude vestida de corpo negro, de negros que estão na direita, na esquerda, e estão também no grupo dos patinhos, enfim em todos os lugares, porem e, contudo, o mais importante é lembrar que não existe um movimento negro no Brasil sediado no lugar para poder ficar perseguindo indivíduos, criando pautas segregacionista e buscando calar pessoas, o que pode acontecer são percepções individuais e conflitos nos coletivos locais o que acontece em qualquer lugar do mundo.

Não existe no Brasil um(a) presidente do Movimento Preto, uma carteirinha que lhe conceda passe livre para o lugar de fala, posto esta concepção filosófica do termo e se tiver gente vendendo uma carteirinha se você tem algum problema com algum menino com alguma fala local e o problema específico, basta visitar a história dos que movimentam essa cena desde sua mais que necessária assunção à luta, visite os quilombos,as revoluções baianas pró-abolicionismo de André Rebouças, dos escritos de Milton Santos, Carlos Alberto, Djamila Ribeiro, na voz do Lázaro Ramos, de Érika Malunguinho,de Douglas Belchior, Miltão, T Kaçula, Prof. Juarez Xavier, entre tantos outros e outras que fazem cotidianamente este cíclico movimento.

O Movimento Preto é muito mais do que eu e você, ele é muito mais do que eu aqui nessa terra, e vai continuar existindo após a minha passagem, quando eu e você não mais estivermos neste plano o movimento negro vai continuar (r) existindo na academia e fora dela, através da dança, através do teatro, através da TV, através do Samba, do Hip Hop e demais expressões culturais, o movimento negro no Brasil mesmo sendo negro existe dentro da igreja católica e busca seu lugar de fala, dentro das culturas afro-brasileiras, africana, afro indígenas e etc, o Movimento Preto está em todo lugar, ele tem vários atores em várias peças que compõem esse quebra-cabeça, o movimento negro é muito mais do que eu e você, ele não morre quando a nossa voz para de falar, ele continua nas milhares e milhões de vozes que compõem 54% da população do Brasil.

Importa muito falar sobre a importância do negro em nossa sociedade e para onde estamos caminhando. Onde vai haver ascensão do negro, onde haverá mais cotas, onde haverá mais oportunidades e dando oportunidade para todo mundo e a voz do Movimento Preto é que diz somos vários coletivos várias vozes. E neste sentido uma bandeira deve ser hasteada, a bandeira do combate ao racismo estrutural, estruturante e institucionalizado.

Esta é a principal bandeira de luta ao meu ver, combater o racismo estrutural na sua gênese, mais que racismo estrutural, como percebemos, identificamos e intervimos as violências com este recorte e como a partir do Movimento Preto atuamos para a sua derrocada?

A Nova Frente Negra Brasileira como mais uma potência do Movimento Preto se coloca cada vez mais no centro do debate do racismo estrutural na medida em que questiona e apresenta argumentos, dados e fatos sobre a necessidade de ocupação de espaços de poder e decisão e assim, como diz Erika Malunguinho, ativista política e sócio cultural e deputada estadual eleita em São Paulo, que passou da hora da “inevitável reintegração de posse” por #NenhumDireitoAMenosParaPretasEPretos #JuntosPodemosMudarOBrasil por um Movimento Preto potente.

Venha dialogar com a Nova Frente Negra Brasileira e juntos #FaremosPalmaresDeNovo

Bob Controversista

Coordenador do Coletivo Nacional de Entidades Negras – CEN-SP

Membro na Articulação Politica Nacional da Nova Frente Negra Brasileira – Francisco Morato – SP – 2019

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Arte desenvolvida por ms.picture, empreendimento de comunicação social cujo a CEO Mayra Sales busca a potencialização de pautas referentes ao papel dx pretx no mercado e na sociedade como espaço de relações. A marca inicia uma transição para MS.Cangoma Picture – a palavra “cangoma” significa “festa dos tambores”. Fazer um Cangoma significa “vamos festejar”

 

https://midia4p.cartacapital.com.br/movimento-preto-e-racismo-estrutural-onde-mora-o-bom-combate/




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