Racismo estrutural no Brasil
Reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil
Artigo por RED 20/02/2024
De ALEXANDRE CRUZ*
No coração de uma cidade vibrante como Porto Alegre, nas ruas familiares do bairro Rio Branco, uma tragédia moderna desenrolou-se no sábado passado. Não foi uma peça de teatro ensaiada ou uma cena de um roteiro fictício; foi a dolorosa realidade do racismo estrutural que continua a assombrar nossa sociedade.
O palco foi montado não em um teatro ou em um estúdio de cinema, mas nas ruas que testemunharam minha infância e adolescência. Onde as memórias de brincadeiras de rua se misturam com a tristeza da injustiça que continua a assolar nossa nação: Um entregador, cumprindo seu trabalho com dignidade, foi vítima de uma tentativa de homicídio. Mas, ironicamente, o que se seguiu não foi uma busca frenética por justiça ou uma resposta imediata à violência perpetrada. Em vez disso, o entregador, cuja única “ofensa” foi a cor de sua pele, encontrou-se algemado, empurrado para o camburão, enquanto seu agressor, rindo com desprezo, era acolhido em um papo descontraído com as autoridades.
Como pode uma sociedade que se orgulha de sua diversidade e pluralidade permitir que tais atrocidades continuem a ocorrer? Como podemos nos denominar civilizados quando nossa resposta à brutalidade é a conivência?
Uma amiga me enviou uma letra que ecoa como um grito de socorro em meio ao silêncio ensurdecedor que muitas vezes cerca as questões de injustiça e discriminação. “Chega de virar as costas/dos fracos e cansados”, as palavras ressoam como um lembrete angustiante de que não podemos mais nos dar ao luxo de permanecer passivos diante do mal que nos rodeia.
A música “On The Turning Away” do Pink Floyd, mencionada na letra, ecoa como um hino de solidariedade e compaixão em um mundo que muitas vezes parece indiferente à dor dos outros. É um lembrete poderoso de que devemos resistir à tentação de nos afastar daqueles que estão sofrendo e, em vez disso, estender a mão com empatia e apoio.
Portanto, neste momento crítico em nossa história, devemos nos unir em solidariedade contra o racismo estrutural que continua a corroer os alicerces de nossa sociedade. Devemos nos comprometer não apenas a falar contra a injustiça, mas também a agir, a exigir mudanças sistêmicas que garantam que todos os membros de nossa comunidade sejam tratados com dignidade e respeito.
O triste episódio que ocorreu no sábado passado não deve ser apenas uma nota de rodapé em nossa história coletiva. Deve ser um ponto de inflexão, um catalisador para uma mudança duradoura e significativa. Devemos transformar nossa indignação em ação, nossas palavras em movimento, para que possamos verdadeiramente virar a página e criar um futuro onde o racismo não tenha lugar.
O Rio Branco, o bairro de minha juventude, não pode ser definido por este triste incidente, mas sim pela maneira como respondemos a ele. Que possamos responder com coragem, compaixão e determinação, para que um dia possamos olhar para trás e dizer que, quando confrontados com o mal do racismo, não viramos as costas, mas sim nos levantamos em solidariedade, determinados a construir um mundo melhor para todos.
*Jornalista.
Imagem: reprodução das redes sociais.
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