Reforma da educação, entre ideias e o ideal

Reforma da educação, entre ideias e o ideal

A REFORMA DA EDUCAÇÃO ENTRE AS IDEIAS E O IDEAL

 

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Enquanto aguardava a chamada de embarque em um aeroporto, comecei a folhear um livro e um cidadão ao meu lado passou a falar comigo. Parei a leitura para ouvi-lo. Logo percebi que tínhamos algo em comum: O ofício de professor. Embora nossa conversa fosse curta, em virtude da chamada para o embarque, fiquei sabendo que sua preocupação maior é a reforma da educação, que estava sendo anunciada pelo atual governo. Refletindo sobre essa conversa veio-me à mente as palavras de Edgar Morin, que referindo-se à educação na França, nestes últimos anos, declara reconhecer que o problema da educação tem como elemento causador o fato de se ter reduzido o conhecimento e a pesquisa a termos quantitativos, como: Mais créditos; mais professores; mais normas; mais informática; mais titulação acadêmica. Com isso, se tem procurado camuflar o fracasso da educação, no fracasso de todas as reformas sucessivas do ensino, que privilegiam os meios, em detrimento dos fins, investindo nas instituições, na medida em que sacrificam as pessoas que nelas trabalham. Transformam-se as instituições de ensino, em organizações de treinamento, com o sacrifício da própria educação, enquanto resgate da dignidade do ser humano.

Diante disso, Edgar Morin vem a afirmar que não faz sentido reformar as instituições de ensino, sem antes reformar a mente das pessoas que nelas trabalham, especialmente, seus dirigentes, pois também, não se pode reformar as mentes sem reformar as instituições. Isso significa que a educação é uma tarefa, ao mesmo tempo, coletiva e interativa. Uma instituição de ensino que procura construir seu ideal, em detrimento das ideias de seu corpo docente está fadada a sucumbir no autoritarismo. A contratação de novos professores, em detrimento dos professores do quadro, termina mutilando a própria educação, transformando-a em doutrinação, criando um fosso no relacionamento entre os professores, pois os novatos, na medida em que fazem amizade com os coordenadores, tornam-se estranhos aos professores da casa, de quem não conseguem ser colegas.

Os professores que investem em sua própria educação, independente do que pensam ou deixam de pensar os donos da escola, não temem os ismos, entendendo que o idealismo, o realismo, revelacionalismo e o socialismo, através da educação, elevam a mente humana, transformando-a em espaço saudável da boa consciência. Por outro lado, os que investem na doutrinação, transformam os sujeitos em objetos, assumindo como “ismo” o exclusivismo, o obscurantismo e o fundamentalismo, especialmente no campo religioso, onde uns são endeusados e outros demonizados, alimentando o que o filósofo Georg Hegel denominava má consciência.

Nesse particular, Jean-Jacques Rousseau, através do personagem Emílio, reconhece que aquele que ensina deve ter a consciência de que está ensinando a viver, visto que, a verdadeira aprendizagem consiste em aprender a viver. Isso significa que o viver implica assumir a consciência da individualidade, na perspectiva da coletividade. Diante disso, o estudo da filosofia, da história, da literatura, da matemática , das ciências, e das artes contribui, ao mesmo tempo, para a formação do indivíduo, do cidadão e do ser humano. A partir daí, os ensinamentos especializados se tornam necessários à vida profissional.O homem precisa aprender a ser, antes de aprender a fazer.

Desse modo, se torna possível o reconhecimento do valor da racionalidade, em sua dimensão crítica, teórica e autocrítica, ajudando a superar as perversões da racionalidade, em termos de razão instrumental. Nesse particular, a racionalidade científica produz as teorias, que são abertas à crítica e às mudanças; enquanto a racionalização produz a doutrina, que não admite crítica, nem mudança. Diante disso, devemos reconhecer que a reforma da educação deve contemplar, não somente os problemas vitais, em nível individual, mas também em nível coletivo e global. Isso compreende o que Edgar Morin define como método, ressaltando o que denomina método, como forma de descobrir: A vida da vida; a natureza da natureza; a humanidade da humanidade; e o conhecimento do conhecimento.

Assim, devemos perceber, a partir do processo educativo, que o livre conhecimento da verdade é fundamental para mostrar que a mente humana tem seus limites; que a razão tem suas falhas; e que a linguagem tem seus equívocos. Por essa razão, o homem, ao longo da história da humanidade, tem sido identificado, não somente como, "Homo sapiens", mas também como: "Homo mitologicus"; "Homo faber"; "Homo economicus"; "Homos lundens"; "Homo cibernéticus"; "Homo falier" e "Homo deuses". Nessa condição última, o homem, na medida em que promove a exaltação do herói guerreiro, investe na destruição da própria humanidade.

Diante disso, a síndrome do herói guerreiro precisa ser substituída pela gestação de um novo herói profeta, em interação com um novo herói sapiencial.

Nesse particular, a educação deve motivar o ser humano, no sentido de assumir uma consciência ética, que possa sustentar a relação consigo mesmo, a relação com o próximo, a relação com a natureza e a relação com Deus. Isso demanda uma nova geração de professores; uma nova geração de estudantes; uma nova geração de entidades mantenedoras de escolas; uma nova filosofia de educação; um novo Projeto Político-Pedagógico. Essa mudança precisa começar com os professores para alcançar os alunos e as instituições de ensino. Isso significa que o professor deve pensar a educação e não simplesmente ser pensado pela empresa educacional, nem pelos empresários da educação. Quando o ensino é pensado pelo dono da escola, logo a educação se transforma em doutrinação; o aluno se transforma em cliente; o professor em mercador; e a escola em balcão de venda de diplomas. É preciso mudar. Essa mudança compreende as reformas, que se fazem necessárias, em todo processo educativo.

Essa reforma passa pela habilidade de trabalhar as ideias para construir os ideais. Em uma escola saudável, a principal fonte de ideias é seu corpo docente e seu corpo discente. Em uma escola enferma, o professor que pensa e tem ideias, termina incomodando e, por conseguinte, sendo preterido.

Enfim, reconheçamos que a reforma da educação, que se faz por decreto de cima para baixo, sem contemplar a transformação das ideias em ideais; os ideais em projetos; e os projetos em práxis interativa, tendo no professor o começo, o meio e o fim-finalidade, razão de ser de todo esse procedimento; corre o risco de transformar a educação em um instrumento de alienação.

Diante disso, o sujeito se transforma em objeto, passando a ser o que os outros querem que ele seja, por não saber o que quer ser, como veio a afirmar o filósofo Jean Paul-Sartre. Pense nisso!

Um abraço fraterno!

Professor João Ferreira

Jucativa-0169 - 10-06-2022

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