Rejeição de Maria do Rosário
De onde vem a rejeição de Maria do Rosário?
Nilson, um amigo bom de implicâncias, perguntou num grupo de WhatsApp de onde vem a rejeição de Maria do Rosário? A pergunta é ótima, ainda mais quando formulada assim: como foi construída essa rejeição? A última pesquisa Quaest aponta um aumento da rejeição da candidata do PT, de 48% para 54%. Eu sou anarquista como meu amigo Luís Gomes. Posso votar por simpatia, jamais por ideologia. Na maior parte do tempo, anulo meus votos. O distanciamento é em mim profundo e para sempre. Digo isso para enquadrar o que vou falar agora: a rejeição à Maria do Rosário é totalmente injusta. Vem da direita e se baseia em dois aspectos igualmente insustentáveis: a sua defesa dos direitos humanos, traduzida pela direita como apoio a bandido, e o seu suposto radicalismo: as suas convicções.
O primeiro aspecto é absurdo. Defender direitos humanos nada tem a ver com gostar de bandido. É uma pauta civilizatória. O segundo tem uma origem abjeta: o machismo. Maria do Rosário, Manuela D’Ávila, Luciana Genro e Fernanda Melchionna sofrem rejeição da mesma cepa. O que elas têm em comum: são mulheres de esquerda que não se intimidam. Todas são chamadas de radicais, de loucas, de histéricas e de todos esses termos que o machismo reserva para carimbar mulheres fortes, inteligentes, combativas e de esquerda. Como se explica que tem petista rejeitando Maria do Rosário, conforme se diz nos bares, esses bastidores informais?
É a rejeição da rejeitada. Dado que Maria do Rosário sofre rejeição da direita e da mídia, setores da esquerda passam também a rejeitá-la. Se Juliana Brizola, que é uma excelente candidata, for ao segundo turno, superando Maria do Rosário, sofrerá também, apesar do seu estilo menos frontal, rejeição do mesmo tipo, ainda que a sua aliança com Thiago Duarte, do União Brasil, tenha por natureza um leque mais amplo de aceitação. A vida é complexa. A rejeição de Maria do Rosário não vem dos seus erros, mas dos seus acertos. Então sou petista e defendo Maria do Rosário a qualquer custo? De forma alguma. Tenho dito que ela não era a candidata mais competitiva da esquerda. Posso votar nela ou em Juliana. Gosto das duas. Ou, provavelmente, anular o meu voto para dormir sempre na paz da minha independência selvagem: “bagual que nunca se amansa”.
A rejeição de Maria do Rosário, como entende Nilson, é uma construção da direita, amplificada pela mídia e comprada até por parte da esquerda. Funciona como juros sobre juros. Dado que existe multiplica-se a cada constatação. O que a direita rejeita em Maria da Rosária é a sua determinação, a sua persistência, a sua resiliência. Um conhecido de direita me diz que detesta tudo nela, até a sua voz, mas detesta também a voz de Luciana Genro, de Fernanda Melchionna e de Manuela D’Ávila. Se isso não é misoginia, o que pode ser? Neste ponto um marqueteiro pragmático pergunta: o que devemos fazer, então, se com a rejeição existente a candidata não decola? Ceder aos argumentos injustos dos que a rejeitam? Persistir com ela até a derrota? “Cristianizá-la” votando em Juliana?
Em 1950, Cristiano Machado concorreu à presidência pelo PSD, mas o partido votou em Getúlio Vargas (PTB). Daí surgiu o verbo “cristianizar”. Não sou estrategista de campanha. Sou comentarista. Maria do Rosário é rejeitada por ser uma mulher acintosamente de esquerda e bem-sucedida.
Na sua força reside o ponto fraco explorado por seus detratores.
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