Relação professor-aluno

Relação professor-aluno

Como fica a relação professor-aluno no ensino não presencial?

Artigo da revista “Estilos da Clínica” discute o ensino remoto e a relação professor-aluno, que é baseada no estímulo, no incentivo e na participação do movimento corporal

17/08/21 - Margareth Arthur/Revistas da USP

 

Estar na escola, no curso ou na faculdade significa que o aluno e seu corpo estão presentes nesses lugares e interagem com os colegas para estudarem juntos, trocarem experiências, dialogarem com o professor, estabelecerem uma relação de troca que o ensino presencial proporciona. Mas a pandemia “trouxe o ensino literalmente para dentro de casaNão há mais o pátio, a escada e a correria”. Tudo isso mudou. Agora, o ensino precisa ser on-line para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Como fica a relação professor-aluno no ensino não presencial? Esse tema é discutido pelas pesquisadoras Cristiane Carneiro e Clarice Costa Beber Scherer em um artigo publicado na revista Estilos da Clínica.

O texto propõem um estudo em relação à “participação do corpo no ensino não presencial”, tendo como pressuposto que a relação professor-aluno é baseada no estímulo, no incentivo e na participação do movimento corporal. As autoras investigam “as marcas desse encontro/desencontro entre corpos” no questionamento das “possíveis ocorrências da não presença física no ensino remoto”.

Apesar de crianças e adolescentes reclamarem que a escola ou a instituição é uma “chatice” ou “uma prisão”, hoje, com o distanciamento forçado que a pandemia impôs, os alunos sentem saudades dos colegas e “da instituição escola e seus espaços”. Se a escola é um espaço determinado por regras e regulamentos, ela é, também, espaço de “rompimento com o estabelecido e de trocas afetivas que o transformam em um espaço vivoA escola torna-se um lugar de corpos pulsantes”.

A questão atual é de como estabelecer virtualmente a mesma relação com os alunos que se movimentam e circulam entre aprendizados e afetos no “palco vivo” da escola, em que o “educador constrói suas particulares formas de leituras do outro-aluno para modular sua relação com ele”. A imagem, privilegiada pela pandemia, fez nascer uma nova forma de comunicação, pois a narrativa, para ser entendida, não conta mais com sequências do tempo linear – presente, passado e futuro, mas o sentido é captado pela mistura dos três tempos, “a partir de flashes de imagens pouco relacionados entre si”. Entende-se o sentido da narrativa no instante em que a imagem aparece na tela.

O ensino on-line acaba por achatar a relação aluno e professor, pois este é pressionado e atado por obrigações quantitativas de aulas sem motivação diante do “aluno sem corpo”, ou seja, “aqueles que não aparecem, nem através da imagem, nem da voz”Essa afirmação nos alerta para a dimensão da relação entre educador e o aluno e seu corpo no ensino presencial, pois, para o professor fazer uma “leitura” desse aluno é preciso a presença, o “aluno-corpo” e, para isso, o próprio educador precisa buscar seu “eu” capaz de lidar com o outro que, no caso é o aluno, este que assim passa a não ser mais um “aluno-corpo-estranho”.

As autoras advertem para a relevância, no processo de aprendizagem, da troca de experiências que envolvem as manifestações do corpo em sociedade. “Sem o ritmo, o movimento, e a expressividade do corpo do outro, a leitura do espaço entre educador e aluno – mais a linguagem” teria de ser realizada de outra maneira. A escola não é mais uma vivência concreta, “diante de corpos reduzidos e achatados”, mas o educador pode criar um modo de aproximação com seus alunos, de forma a preencher um pouco o vazio do aluno que se sente só, isolado e desestimulado diante de uma nova realidade educacional.

 

Artigo

CARNEIRO, C.; SCHERER, L. C. B. Corpos estranhos ou não-corpos: reflexões sobre a participação do corpo no ensino não presencial. Estilos da Clínica, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 4-16, 2021. ISSN: 1981-1624.
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v26i1p4-16.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/estic/article/view/178985.
Acesso em: 02 jun. 2021.

Contatos

Cristiana Carneiro – Professora Associada da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. 

cristianacarneiro13@gmail.com 

Larissa Costa Beber Scherer– Psicanalista e doutoranda em Psicologia pela   Universidade Federal do Rio de Janeiro.

  larissascherer70@gmail.com 

 

https://jornal.usp.br/ciencias/como-fica-a-relacao-professor-aluno-no-ensino-nao-presencial/ 




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