Repensar a forma de avaliar
Fechamento de 2020: para repensar a forma de avaliar
Em um ano cheio de adaptações é importante focar no percurso de aprendizado dos alunos e menos nos resultados apresentados
POR: Daniel Santos
Durante os nove meses com aulas remotas muitas dúvidas surgiram na vida do professor. Após as preocupações sobre como conduzir as aulas e adaptar a prática ao contexto atual, agora educadores de todo o país lidam com inquietações sobre como fazer a avaliação das aprendizagens e fechar o ano de 2020. “O que me deixa apavorada é que tenho uma média de 300 alunos e vou ter que avaliá-los individualmente à distância. Não posso me basear só no que o aluno entregou ou não entregou”, reflete Priscila Nunes Pereira, professora de Fundamental 2 na EMEF Amadeu Bolognesi, em Guaíba (RS).
Para planejar o próximo ano e garantir as aprendizagens, é preciso mapear o percurso de aprendizado de cada estudante durante o ano de 2020. “A avaliação nesse contexto de pandemia deve focar em conhecer cada estudante em suas condições reais de vida e de estudo, nem que sejam, por exemplo, os registros das dificuldades que foram encontradas ao tentar dialogar com os alunos”, afirma Jussara Hoffmann, mestra em Educação e especialista em avaliação de aprendizagem. Todas as variáveis devem ser levadas em consideração ao avaliar e repensar o processo. “Se não temos uma escola com todas as condições para aprender, não podemos querer que as avaliações ocorram nos moldes tradicionais”, afirma Jussara.
7 sugestões para a avaliação diagnóstica dos alunos
É necessário saber o quanto a turma avançou na aprendizagem no ensino remoto ou presencial. Abaixo você confere sete pontos, trazidos em NOVA ESCOLA BOX, para se atentar na hora de produzir o diagnóstico dos alunos.
As incertezas da avaliação
Dúvidas sobre como avaliar são compartilhadas por docentes de diversas redes brasileiras e diversas estratégias são adotadas. A professora Priscila conta que na sua escola estão organizando as atividades e provas feitas pelos alunos para fazer a contabilização do que foi feito. Após essa análise, a equipe vai preparar um parecer sobre o desempenho de cada aluno. “Vai ser um trabalho coletivo que vai depender muito do suporte da coordenação e supervisão para construirmos os pareceres. A gente vai ter que lembrar a situação dos alunos, entender as suas dificuldades de cada”, explica.
A pandemia trouxe uma série de desafios e mudanças na forma de trabalhar e aprender, por isso a avaliação também deve acompanhar esse movimento. “Não pode haver uma visão punitivista nas avaliações. Uma prova não vai dar a certeza que o aluno realmente aprendeu. Os estudantes têm formas diferentes de aprender”, afirma Neli Gonçalves de Souza, formadora de professores e especialista em tecnologia na Educação. Dessa forma, ela defende que a avaliação tem que ir além de “aprovar” ou “reprovar”. “Muitos não participaram das aulas, e é importante saber por quê. O desempenho deles não pode ser reduzido à falta de interesse ou comprometimento dos alunos”, afirma.
Pensando nisso, Luila Barrozo, professora do 5º ano na rede particular de São Paulo, conta que todo o material pedagógico precisou ser reformulado, assim como o calendário e as avaliações. “Na escola a gente tem a prática de avaliar o percurso inteiro do aluno, e depois fazemos uma outra avaliação, mas percebemos que não daria para ter esses momentos pontuais de avaliação. Com o ensino remoto ficou ainda mais evidente que teríamos que avaliar o percurso inteiro do aluno”, explica. Dessa forma, foi decidido que todas as atividades feitas remotamente são avaliadas. “Não daria certo ficar preocupadas com a intervenção da família ou cópias da internet. Percebemos que valia mais a pena avaliar durante todo o percurso e tudo ser instrumento de avaliação”.
Para avaliar no Fundamental 1
Conheça neste Nova Escola Box estratégias para avaliar a aprendizagem dos alunos durante o ensino remoto quando as aulas presenciais forem retomadas
Focar no processo
Nenhum instrumento de avaliação é descartável nesse momento, mas é importante utilizar as respostas dos alunos para mapear as condições atuais dos estudantes e conseguir diagnosticar o que vai ser necessário acompanhar no próximo ano letivo. No entanto, Jussara orienta a não dar ênfase apenas aos resultados apresentados nas tarefas corrigidas. Para ela, é preciso pensar além dos modelos tradicionais. “Não sabemos qual é o papel da avaliação nesse momento, estamos construindo essa reflexão, mas com certeza a solução não está em aprovar ou reprovar. Os protocolos aos quais estamos acostumados não valem para o momento atual, pois tudo está diferente”.
É importante analisar todas as produções dos estudantes, os registros das tarefas, as conversas pelo WhatsApp, e as dificuldades relatadas pelas famílias e alunos. A criação desse dossiê sobre o processo de aprendizagem vai ajudar a entender quais são as demandas para conduzir o retorno às aulas presenciais e como ajudar os alunos a avançarem para o próximo ano. Ferramentas como o Google Forms e outros formulários digitais, podem ser utilizadas para possibilizar certos processos nesse momento de avaliação. Neli orienta a utilizar essas opções para ajudar a ganhar tempo e facilitar as análises, sem precisar criar sistemas complexos que dificultam ainda mais o momento.
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