Repetir para acreditar
E preciso repetir para acreditar:
"Hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa."
[...] não conseguiu fazer outra coisa, ele disse!
Ele é o ministro da educação, Milton Ribeiro.
Pasmem! Ele é um professor.
Aliás, não é!
Porque ser professor não está atrelado a nenhuma faculdade de licenciatura, mestrado ou doutorado!
Ser professor não é algo transitório ou temporário.
Não é estar. Não é ter.
É ser!
Quem é professor, nasce professor e morre professor, tendo vivido para ensinar nesse meio tempo entre uma coisa e outra.
Milton Ribeiro claramente nunca passou nem perto de ser um professor.
Em nome de quem ele fala?
Ele toma a si mesmo como referência, só pode!
Eu não permito e não autorizo que um esquifoso desses fale por mim.
Nem por uma quantidade absurda de educadores os quais conheço e admiro enquanto pessoas e profissionais.
Nós não somos professores por falta de aptidão.
Nós não somos professores por falta de capacidade.
Nós não somos professores por falta de perspectiva.
Nós não somos professores por falta de opção.
Pelo contrário.
Escolhemos ser professores!
Investimos nosso tempo, nosso dinheiro e nossa vida na nossa formação profissional, na nossa carreira, nos nossos sonhos.
Transformamos nossos sonhos em projeto.
Projeto de partilhar a busca pelo conhecimento.
E usar o conhecimento para melhorar a vida das pessoas.
Quiséramos nós, um dia, fazermos a diferença para melhor no mundo!
E para isso, não economizamos dedicação, profissionalismo, ética, AMOR!
Acreditamos que nosso trabalho era mais que trabalho: era missão; vocação!
Acreditamos que pudéssemos ser marcas transformadoras nas vidas pelas quais passamos!
Acreditamos ser possível ensinar a ler além de palavras, o mundo!
Acreditamos ser possível ensinar a calcular além de números, uma infinitude de possibilidades!
Acreditamos ser possível auxiliar na compreensão dos sinais da História para evitar que sejam repetidos os erros do passado!
Acreditamos... e agora...
Agora dói profunda e intensamente.
Em nenhum outro lugar no planeta as pessoas se referem aos educadores dessa maneira.
A sociedade.
Pais, mães e familiares dos estudantes.
O ministro da educação.
E a dor não é exclusivamente por nós.
É pelas próximas gerações, também.
Quantos jovens sentem a vocação chamar para serem professores, mas não se animam porque a sociedade lhes olha com arrogância, desprezo, rancor, ódio.
E, na menos pior das hipóteses, quem hoje sonha em ser professor é visto com piedade... "vai ganhar pouco, vai sofrer...", as pessoas dizem!
Tudo isso desanima quem quer ser professor. É preciso ter muita coragem para querer ser professor num país em que...
Todos estão contra a educação e contra os educadores!
O que podemos esperar?
O que nos resta?
Dedicamos o nosso trabalho pra contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade assim?
É como ver o sonho desmoronar!
O projeto ruir!
O conhecimento...
Qual o valor do conhecimento?
Não falo de preço. Falo de valor!
Se fosse por dinheiro, poderíamos ser tanta outra coisa na vida!
É por amor que escolhemos ser o que somos.
Finalizo replicando a fala do ministro mais uma vez...
"Hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa."
E questiono:
Sem os professores, o que será daqueles que conseguem fazer outras outras?
É bom ir pensando... o que será?
Como se dará a formação das outras profissões na falta de professores?
Professor, um ser que está entrando em extinção no Brasil.
-Ana Paula Bordin