Reprovação no ensino médio
Reprovação no ensino médio em escolas estaduais do RS cresce 29% em 5 anos, e estado tem maior taxa do país
Em média, a cada 100 alunos, 22 não passam de ano. Taxa se aproxima do dobro da nacional, de 11,5%, e é a maior nos últimos cinco anos no estado (veja abaixo os números do período).
Por Cristine Gallisa, RBS TV
Rio Grande do Sul tem a maior taxa de reprovação no Ensino Médio
O vídeo da reportagem pode ser acessado aqui
O Rio Grande do Sul tem a maior taxa de reprovação do ensino médio do país em escolas públicas estaduais, segundo aponta ranking divulgado nesta sexta-feira (24), elaborado a partir de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Em média, a cada 100 alunos de escolas públicas estaduais, 22 não passam de ano. A taxa de 22,2% se aproxima do dobro da nacional, de 11,5%, e é a maior nos últimos cinco anos no estado, com variação de 29,1% desde 2014 (veja abaixo as taxas do período).
- 2014: 17,2%
- 2015: 18,9%
- 2016: 21,2%
- 2017: 21,7%
- 2018: 22,2%
- Variação no período: +29,1%
A doutora em educação Maria Beatriz Luce atribui o resultado a fatores como a falta de investimento no ensino público, decorrente da crise financeira que afeta o estado.
"Como vamos melhorar as condições do ensino médio se o estado não tem nem recursos para atualizar o salário dos professores, que está congelado há tempos, está pagando parceladamente, e o estado do Rio Grande do Sul tem o mais baixo nível salarial do Brasil na rede estadual? Estas são condições que coincidem com uma cultura pedagógica que vai se evidenciar na reprovação", sustenta.
Outro fator é a falta de valorização dos professores, e de investimento público na qualificação. O ranking aponta que 42% dos docentes de escolas estaduais não têm formação adequada para a disciplina que ensinam. Assim, alunos perdem o interesse pelo aprendizado.
"Tem algumas certas matérias em que o conteúdo é meio repetitivo, e no meu caso eu não conseguia aprender", opina o estudante Luis Eduardo Amaral Lima, de 18 anos.
"É só matéria, matéria em cima de matéria. Pode ser alguma coisa diferente, pode ser a mesma matéria, só que de uma forma diferente", acrescenta Maurício Costa, 17 anos, aluno do segundo ano.
A falta de estrutura nas escolas também interfere no desempenho dos estudantes. Uma escola de Porto Alegre que tem 700 alunos de ensino médio, em três turnos, está há dois meses sem professores de Português e Filosofia.
Em alguns dias da semana, só há dois ou três períodos de aula. Por isso, muitos alunos já nem querem ir à escola, o que mostra outro problema: a infrequência, que interfere no desempenho escolar.
"Tem alunos que nunca vieram à aula, tem alunos que iniciaram a vir e desistiram no meio do caminho, então automaticamente ele vai ser reprovado porque não tem o índice de frequência, então esse aluno está dentro deste percentual", diz a diretora da escola, Elisete Bonfada.
Por isso, os pais vão começar a receber a partir de agora uma mensagem no telefone celular, alertando que os filhos não estão na escola. A chamada eletrônica é uma medida da Secretaria da Educação para tentar reverter os maus resultados. Seiscentas escolas já usam o sistema, e a meta é chegar a 1,1 mil.
"Então essa família também vai ter a responsabilidade de dizer onde é que está o seu filho, por que não está na aula hoje, então vão ser várias mãos, e esse trabalho, no todo, eu tenho certeza de que vai mudar a realidade do Rio Grande do Sul no próximo ano", destaca a assessora técnica da Secretaria de Educação Salete Albuquerque.
A diretora de escola pública Doris Monteiro Grendene afirma que é preciso atrair estudantes. "Percebemos que muitos alunos às vezes se desgostam com a escola, não querem estudar, até problemas com a autoridade, com regras e com limites, então tudo isso é um desafio para o professor fazer com que o aluno goste de ficar na escola", afirma.