Resiliência na escola

Resiliência na escola

Resiliência na escola traz desafios (mas também muitas possibilidades)

Já está claro que resiliência é fundamental para a aprendizagem, mas para desenvolver essa mentalidade, é preciso esforço e mudança de atitude

POR: Ana Carolina C D'Agostini       
Foto: Getty Images

 

Na semana passada, NOVA ESCOLA publicou um texto na coluna de saúde sobre a importância das habilidades socioemocionais frente às mudanças trazidas pelo desenvolvimento tecnológico. Dentre tais habilidades, resiliência foi destacada exatamente por permitir a alunos e professores lidar com o estresse inerente às transformações dos novos tempos. Considerando que ser educador está entre as profissões mais estressantes, faz todo sentido questionar como aprender e como ensinar resiliência na escola?     

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O que é resiliência

Segundo definição da Sociedade Norte-Americana de Psicologia, a resiliência é definida como a capacidade psicológica de se adaptar às circunstâncias estressantes e se recuperar de eventos adversos. Na Física, resiliência é compreendida como a propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original, após sofrer algum choque ou deformação. A palavra deriva do latim resilio, que significa saltar para trás, reduzir-se e afastar-se.

Os primeiros estudos sobre resiliência foram conduzidos há mais de 40 anos e enfatizaram a influência da genética nesse traço de personalidade, alegando que o indivíduo nasceria com ou sem essa característica. Embora o papel da genética deva ser considerado, pesquisas mais recentes indicam que a resiliência – em crianças e adultos – pode ser aprendida, e a escola é um espaço privilegiado para isso. Atualmente, defende-se que a resiliência resulta de uma conjunção de fatores genéticos, pessoais e ambientais. Norman Garmezy, norte-americano pioneiro na pesquisa sobre resiliência e desenvolvimento cerebral, defendeu que a resiliência em crianças que vivem em contexto de vulnerabilidade e adversidade ocorre de maneira mais próspera quando elas podem contar com um adulto com quem mantenham uma relação de proximidade e confiança. Além disso, em um estudo sobre o desenvolvimento da resiliência desde a infância até a adolescência conduzido por mais de dez anos em uma comunidade urbana, pesquisadores concluíram que os fatores que mais influenciam o quanto um indivíduo se torna resiliente são, principalmente, a existência de relacionamentos positivos, o desafio intelectual e o bom desempenho acadêmico. Esses resultados reforçam a importância de se concentrar nos processos que promovem e facilitam a resiliência e iluminam o papel dos educadores como potenciais adultos de referência nesse processo.

Viktor Frankl, autor do livro Em busca de sentido, narra a sua experiência como sobrevivente de um campo de concentração. Para ele, o principal elemento que permite a um ser humano buscar significado é eleger um propósito e criar metas concretas para si mesmo que vão além do sofrimento momentâneo. Ao construir uma ponte para o futuro, o indivíduo pode encontrar a direção para um cenário que lhe pareça possível e aliviar a sensação de que o presente é tão avassalador que não pode ser administrado. Ainda que ser criativo diante das adversidades possa ser muito desafiador, é importante construir o hábito de ser inventivo, fazer uso dos recursos disponíveis de formas inexploradas e visualizar possibilidades que muitas vezes não estão claras no início.

Há uma ideia geral de que é responsabilidade de cada um administrar as próprias emoções. Considerando que a escola é um espaço propício para o aprendizado, troca entre pares e desenvolvimento pessoal, seria interessante que diretores, coordenadores pedagógicos e outros gestores incentivassem os professores a desenvolver a resiliência como uma das habilidades socioemocionais. Isso pode ser feito priorizando essa habilidade como parte do treinamento de professores e explorando seu desenvolvimento em reuniões pedagógicas. Se os professores precisam se adaptar às mudanças trazidas pelo advento da tecnologia e se manter emocionalmente equilibrados para lidar com os desafios da profissão, a base desse processo deve se fundamentar nos aspectos emocionais e de bem-estar dentro do ambiente profissional.

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Resiliência para professores

Em um estudo sobre resiliência entre professores em contexto urbano, há algumas sugestões interessantes para colocar em prática, tanto no dia-a-dia da sala de aula como em decisões tomadas por gestores educacionais:

  1. Estimule a criação de espaços para reflexão, desenvolvimento profissional e envolvimento de todos nessas atividades dentro da escola;

  2. Trabalhe o autoconhecimento: saiba diferenciar quando se envolver em uma situação e quando há fatores que indicam que o melhor é deixar para lá;

  3. Identifique quais são os principais valores pessoais que norteiam a sua escolha pela profissão e veja se estão alinhados com os seus processos de tomada de decisão;

  4. Fortaleça o trabalho e o apoio entre pares: a mentoria é uma ferramenta valiosa para troca, crescimento e aprendizado;

  5. Não se foque em um estilo único de ensinar. Esteja aberto a novas ideias e formas de ensino-aprendizado;

  6. Tenha clareza de quem são os principais aliados e parceiros que vão lhe dar apoio emocional e intelectual, tanto dentro quanto fora da escola.

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Desenvolvendo a resiliência nos alunos

O desenvolvimento da resiliência deve fazer parte da cultura escolar, de forma que tanto o ambiente quanto o currículo pedagógico promovam um senso de pertencimento e unidade entre colegas e professores – deixando claro o que é esperado de cada aluno.

A literatura em habilidades socioemocionais indica diversas formas para incluir a resiliência nos planos de aula, o que certamente é um caminho interessante e que deve ser adaptado a cada realidade escolar. Além da inserção do tema nas aulas, Carol Dweck, professora de Psicologia na Universidade de Stanford (EUA) e autora do livro Mindset, propôs os conceitos de “mentalidade fixa” (fixed mindset) e “mentalidade progressiva” (growth mindset) aplicados à Educação. A autora examinou as conseqüências de considerar que a inteligência ou traços de personalidade são algo que podemos desenvolver, oposta à idéia de características fixas e inatas. Estudantes com a “mentalidade progressiva”, por exemplo, consideram que a inteligência pode ser desenvolvida por meio da combinação de esforço, aprendizagem e orientação. Esses alunos também consideram a dedicação como um fator chave para grandes realizações, e, como consequência, a inteligência é sinônimo de aprendizagem, um processo contínuo que precisa acontecer com esforço. O esforço é o que ativa a capacidade individual de crescer por meio da prática e da experiência, então esses alunos buscam constantemente formas distintas de criar oportunidades para adquirir mais conhecimento. Em contraste, na “mentalidade fixa”, os estudantes não ativam seus recursos para aprender, pois veem a inteligência como um traço estabelecido que pode limitá-los na hora de enfrentar obstáculos. Os alunos que possuem tal mentalidade tendem a evitar tarefas que possam evidenciar suas deficiências, pois as imperfeições são motivo de vergonha e mostrariam fraqueza diante de colegas.

Para ajudar cada criança a cumprir seu potencial como estudante, Carol Dweck acredita que os educadores devem promover um ambiente que favoreça a “mentalidade progressiva” em seus alunos. Esta concepção pode ser aplicada como uma ferramenta poderosa para professores, tanto como forma de entender e ajudar seus alunos, como refletir a respeito de sua própria postura como profissionais. Com a mentalidade apropriada e o ensino efetivo, os estudantes podem conseguir muito mais do que pensam que podem. Além disso, a autora afirma que geralmente os alunos não são ensinados a pensar de forma diferente sobre suas habilidades de aprendizagem. Neste contexto, os professores podem ajudá-los a mudar sua mentalidade e, consequentemente, engajá-los e inspirá-los a dedicarem maior empenho e esforço à aprendizagem.

Em resumo, para levar uma “mentalidade progressiva” para as escolas, professores e gestores devem:

  1. Criar uma cultura de altas expectativas na escola

  2. Valorizar os alunos pelo esforço que eles aplicaram em vez de chamá-los simplesmente de inteligentes

  3. Encorajar os alunos a ter um objetivo pessoal que gostariam de alcançar

  4. Enfatizar o valor do desafio

  5. Dar uma sensação de progresso no desempenho de cada aluno

  6. Criar uma cultura de conquista no longo prazo, incentivando a paixão pela aprendizagem e resiliência no enfrentamento de desafios. 

 

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