Resistência na Escola do Campo
Com apenas uma professora, Escola Padre Josimo resiste a fechar vagas no campo
Giovana Fleck
Há poucos metros de uma figueira de mais de 200 anos, Cláudia Lurdes Manhã prepara o desjejum dos 15 alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Josimo. Mesmo com investimento estadual de R$ 0,33 por aluno, o cardápio é composto por uma variedade de frutas. Cláudia é professora da terceira geração de alunos moradores do assentamento de mesmo nome, em Eldorado do Sul. Depois do café da manhã e do recreio, Cláudia, educadora, com pós-graduação, lava a louça e prepara as atividades dos alunos.
Desde o início de 2017, o governo estadual vem sistematizando uma diminuição de investimentos em escolas do meio rural. Vale do Sol, Bento Gonçalves e Boqueirão do Leão foram alguns municípios que tiveram escolas do campo fechadas. No assentamento Padre Josimo, a escola perdeu funcionárias responsáveis pela merenda e pela limpeza, professores e a própria direção.
Em ato de resistência, Cláudia se negou a sair. “Escola do campo é vida. Se eu saísse, a escola fechava.” Assim, ela assumiu todas as funções para que as aulas não parassem. Os pais ajudam como podem: fazem reparos na estrutura, cuidam da pintura e aparam a grama. Mas, conforme explica Cláudia, não podem interferir em atividades mais específicas pelo risco de poderem alegar vínculo indireto com o Estado.
A Padre Josimo é uma escola multisseriada, do 1º ao 5º ano. Quando chegam ao 6° ano, as crianças passam a percorrer mais de 10km todos os dias, até a escola mais próxima. Nenhum dos estudantes ouvidos pela reportagem manifestou interesse em ir todos os dias para a cidade. Muitos disseram que isso impactaria a rotina de jogar futebol, ir à escola, almoçar, ter aulas de catequese, desenhar ou pintar e jogar mais futebol. “Aqui temos tudo o que precisamos”, resume Tamires Scheffer, enquanto brinca em um balanço aos pés da figueira.
A escola consiste em um imóvel de quatro salas, um banheiro, uma cozinha e uma quadra de cimento aberta. Construída em 1990, nunca foi reformada. A sala de informática, com oito computadores novos, tem goteiras e infiltrações. Quando chove, as crianças ficam dentro da escola durante o tempo destinado à prática de esportes ou vão para casa mais cedo. A biblioteca é tomada por trabalhos de história, língua portuguesa e geografia. No entanto, faltam livros e estantes.
Mas, de acordo com Cláudia, o principal é a falta de recursos humanos. “Temos duas meninas aqui do assentamento se formando em pedagogia na UFRGS. Nossa luta é para que o Estado abra novos concursos para que elas possam trabalhar nessa escola.”
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