Responder por crimes

Obviamente tem uma questão real de limitação cognitiva. Uma pessoa com padrão normal de inteligência, o que quer que isso seja, não violaria uma tornozeleira e, pior, sem conseguir realizar o intento de rompê-la, pensando que a polícia não saberia disso. Aliás, pode até ter pensado que seria sabido, mas acreditava que não daria em nada, nenhuma punição.
É essa a questão. A atitude do genocida não foi "burrice", foi resultado do seu histórico de impunidade. Há mais de 30 anos, ele e os filhos cometem crimes, incluindo envolvimento com milícias, corrupção, e nada acontecia. Eles gabaritaram o código penal, civil e sempre se safaram.
O genocida defendeu um torturador em plena câmara e saiu de lá para ser presidente da República. (outra aberração: essa quadrilha conseguiu chegar à presidência da República). Durante o seu governo, cometeu mais crimes, tantos e tão graves, como o genocídio na pandemia, e nada aconteceu.
Finalmente, quando a justiça começou a se mover, em função do golpe de Estado, ele continuou cometendo crimes, sem ter a punição que qualquer outra pessoa sofreria se fizesse a mesma coisa.
Do indiciamento até a condenação pelo golpe, o genocida cometeu todo tantas ilegalidades que, para qualquer outra pessoa, significaria a prisão. Vide braga netto, preso há meses, por muito menos.
O genocida incitou a continuidade do golpe, mesmo estando sob investigação (lembram as arruaças em que ele atacar o STF?); o filho conspirou contra o Brasil, causando bilhões de prejuízos, perseguição a autoridades brasileiras, numa ilegal intervenção externa. Mesmo assim, continuaram ocupando os noticiários como políticos e não como criminosos, golpista.
O genocida, inelegível, condenado, figura até hoje em enquetes de intenções de voto para as eleições de 20260. Ele financiou a ida do filho para os eua a fim de cometer esses crimes de lesa-pátria, mesmo assim não foi preso. Só ganhou uma tornozeleira por isso, o que funcionou, na verdade, como blindagem. Ele continuou viajando, insultando o STF, insuflando o golpe.
Burlou a proibição de usar rede social, participando de lives. Recebeu, como castigo, ficar numa mansão com todo o conforto, no lugar de ir para a cadeia. Lá, recebia visitas, convivia com a família, continuava a conspirar contra o país, como se não fosse inelegível. Só não podia pôr o pé na rua, mas a rua ia até ele nas constantes visitas de aliados golpistas, planejando estratégias para ele não cumprir pena por seus golpes. Não duvido que o genocida se comunicava com outras pessoas, via celular dos visitantes.
Há anos a gente espera que essa familícia seja imputada por seus crimes, e a leniência, cumplicidade do judiciário, de promotores, políticos e mídias prevaleciam (reparem que, até mesmo agora, estão tentando isentá-lo da responsabilidade por ter cometido um crime grave de tentar romper a tornozeleira para fugir).
Foi a impunidade histórica que levou o demente a considerar que poderia usar uma solda para tentar romper a tornozeleira e nada aconteceria se fosse descoberto. O estupor dos ventríloquos, advogados, aliados políticos, dos filhos não é pelo que o genocida fez, é por, pela primeira vez, ele ter de responder na cadeia por um crime.
Mas a blindagem continua. Espiem só.
FONTE:
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Jair Bolsonaro não foi preso hoje porque “discordam dele”. Foi porque a decisão de Alexandre de Moraes descreve, ponto a ponto, um condenado que começou a montar cenário de fuga. Moraes parte de um dado objetivo: já há condenação a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe, embargos rejeitados e trânsito em julgado batendo à porta. Entra então o fato novo: a PF informa que o filho, Flávio Bolsonaro, convocou uma “vigília pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade do Brasil” justamente na porta do condomínio onde ele cumpria prisão domiciliar – com discurso inflamado e a reedição do método dos acampamentos golpistas de 2022, criando aglomeração, risco à ordem pública e ambiente perfeito para dificultar a fiscalização da PF e abrir um corredor para fuga.
Na madrugada, o Centro de Monitoração registra às 0h08 violação do equipamento de monitoramento eletrônico. Moraes a lê como o óbvio: tentativa de romper a tornozeleira em meio à confusão fabricada pela vigília convocada pelo filho, somada a um histórico em que já se discutiu plano de evacuação militar e em que corréus escolheram a rota Miami para fugir da lei. Resultado: periculum libertatis escancarado, risco concreto de evasão do distrito da culpa e demonstração de que a domiciliar não segura mais ninguém. Com base no art. 312 do CPP, nos fatos relatados pela PF e com anuência da PGR, Moraes converte as cautelares em prisão preventiva, manda recolher Bolsonaro à Superintendência da PF, determina audiência de custódia, visitas controladas e ainda exige execução “sem algemas e sem exposição midiática”, em respeito à dignidade do ex-presidente.
Não se trata ainda de prisão-pena, mas de prisão cautelar: o direito está, por enquanto, prendendo o corpo para garantir que a futura execução da pena não seja sabotada pelo próprio condenado. O homem que tratou ordem judicial como piada foi parado não por narrativa, mas pela letra fria de um despacho bem fundamentado. E a barra que hoje o separa da rua tem nome claro: prisão preventiva. A porta da pena vem na sequência.
( Por Julio Benchimol Pinto)
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" Bolsonaro derreteu a tornozeleira e seus aliados querem derreter a inteligência do país junto. Primeiro, disseram que era apenas defeito. Daí, aparece um vídeo dele explicando como queimou o aparelho. Depois, que ele estava grogue quando afirmou que queimou o aparelho, mas o próprio Jair diz que havia feito a arte na tarde do dia anterior.
Se fosse um jovem pobre da periferia, já estavam pedindo cadeia pesada. Mas, para Bolsonaro, fabricam contos de fada para adulto armado. Negar o óbvio virou método: normaliza a ideia de que alguns podem burlar a lei sem pagar o preço. No fim, não defendem o homem, defendem o privilégio de viver de ficção. Enquanto isso durar, vão tratar a democracia como tornozeleira de plástico: algo para derreter quando quiserem. Leia o texto na minha coluna no UOL."
Leonardo Sakamoto






