Resposta ao secretário de Educação
Falácias fazem mal à escola: uma resposta ao secretário de Educação
por Alex Fraga
Tramita na Câmara de Porto Alegre um projeto do Executivo que altera a lei de eleição de diretores de escola, uma proposta populista que não apenas não resolve problemas pedagógicos como pode criar outros. Nós, professores, estamos sempre abertos ao debate que vise à melhoria do ensino, o que parece não ser o objetivo da Secretaria de Educação.
Em artigo publicado na imprensa, o secretário Adriano Naves de Brito defendeu a proposta com incoerência preocupante. Doutor com vasta produção em Filosofia Analítica, ele certamente está familiarizado com o conceito de “falácia”, e seu artigo é justamente uma colagem de proposições falaciosas, que chega, de modo sofismático, a conclusões equivocadas que não derivam das premissas que ele mesmo colocou.
O doutor começa dizendo que “muita gente vê na eleição dos diretores a causa da baixa qualidade na educação pública”. Quem vê? Quem disse isso, secretário? Seria um uso sacana da Falácia do Espantalho pelo filósofo? Em seguida, acusa professores de não quererem que a família tenha peso na comunidade escolar e por fim insere, sabe-se lá por quê, a ideia de que mandatos de direção mais longos fazem bem às famílias. Sua conclusão (falaciosa): o projeto que altera as eleições é o melhor para as famílias.
Sabe quem conhece e coopera com as famílias das escolas de Porto Alegre? Os professores, diretores e funcionários. A quase totalidade dessas famílias, aliás, jamais viu o secretário pessoalmente, pois ele sequer visita as escolas. Em três anos à frente da secretaria, não publicou uma linha sobre rumos pedagógicos, mas diminuiu o tempo de atendimento às crianças na sala de aula e atacou educadores, tentando jogar as famílias contra eles e culpá-los pelos problemas.
Professores e famílias querem democracia e transparência na eleição de direção e entendem que não se melhora a educação no canetaço. A prefeitura, no projeto, se exime da responsabilidade pelos índices de aprendizado ao jogar todo o fardo sobre as direções, que trabalham com cada vez mais precariedade.
Exigências às direções são colocadas pela secretaria sem que sejam dadas aos profissionais as mínimas condições de cumpri-las. Por exemplo, como a SMED espera que equipes diretivas e professores construam ações para melhorar os índices se as tradicionais reuniões semanais de planejamento da equipe foram abolidas? Como os diretores poderão arcar com todo esse peso se muitos precisam atuar até no serviço de portaria, já que a Guarda Municipal foi retirada das escolas? E como aumentar os índices com a crônica falta de professores no quadro?
As famílias de Porto Alegre, que Adriano Naves de Brito afirma priorizar, querem que seus filhos tenham professor na sala de aula e recursos para aprender. O resto é discurso populista e plataforma de desmonte da educação pública.