Rezar pelo bem do patrão
Trabalhar menos. Distribuir tudo! Pelo fim da escala 6x1!
Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer: "tudo tem melhorado"
Você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado
O trecho citado acima se refere a música “Comportamento Geral” de Gonzaguinha. Apesar de ter sido lançada em 1972, a canção segue muito atual. Na época, Gonzaguinha tinha 27 anos e representava uma importante voz jovem de protesto contra a ditadura e as injustiças sociais. Retomo esta letra hoje, no ano de 2024, porque encontro nela palavras importantes que devem alimentar nossa revolta e orientar nossas bandeiras de luta. Nós que somos jovens trabalhadores, cuja única herança que nos foi deixada é a de uma história que assassinou e censurou nossos lutadores.
A letra de Gonzaguinha ironiza com um tom sarcástico o que é o cotidiano da classe trabalhadora, regado a exaustão e as exigências de uma submissão cruel. Trabalhadores que mesmo sendo explorados, devem “estampar alegria”, devem ser “bem comportados”. Trabalhadores que devem “aprender a baixar a cabeça e dizer sempre muito obrigado”. O comportamento que exigiam que fosse generalizado e naturalizado nos trabalhadores e nas trabalhadoras nos anos 70 é o mesmo que hoje, 52 anos após o lançamento desta música, é imposto aos que ocupam as ruas para exigir o fim da escala 6x1.
Pautar o fim de uma jornada exaustiva de trabalho é uma pauta central que representa uma importante tarefa histórica que nós temos enquanto jovens da classe trabalhadora. Se por um lado, a mídia burguesa, a elite que não trabalha, os ricos que só se apropriam dos lucros, estão “preocupados” com uma suposta economia e querem nos fazer acreditar que a luta por condições dignas de trabalho é mero capricho de quem não quer trabalhar. Cabe aos trabalhadores que produzem toda riqueza desse país reivindicar que a vida deve valer mais que o lucro, que a economia não vai bem há tempos, desde quando não usufruímos do que produzimos enquanto classe. Cabe a nós a compreensão de que são jovens negros, são as mulheres, são as vidas mais precarizadas do sistema capitalista que sustentam essa tal economia estampada nos jornais como se fosse mera abstração vazia, quando, na verdade, a economia é feita por pessoas e que são, diga-se de passagem, a maioria.
Enquanto uma minoria que não trabalha defender seus interesses lucrativos, nós temos o dever de ocupar as ruas e lutar até o fim pela redução da jornada de trabalho, sem estampar ar de alegria, sem rezar pelo bem do patrão, sem esquecer que os interesses dos ricos não são os mesmo que os nossos e que o que pautamos é muito mais digno. Nada tem melhorado e nada irá melhorar enquanto os lucros de poucos vierem às custas da vida do nosso povo.
Trabalhar menos. Distribuir tudo!
Pelo fim da escala 6x1!
*Moema Fiuza, psicóloga e militante do Levante Popular da Juventude.
Leia outros artigos do Levante Popular da Juventude no Paraná em sua coluna no Brasil de Fato PR
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Lucas Botelho
FONTE: