Rosário de mentiras
Na ONU, Bolsonaro lista rosário de mentiras sobre ambiente, pandemia e corrupção
21 de setembro de 2021
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enfileirou mentiras e distorções durante seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (20). As informações enganosas apareceram em diversos temas abordados pelo mandatário, como o combate à pandemia, a preservação do meio ambiente e o desempenho econômico brasileiro.
Dos 41 trechos checados por Aos Fatos, 23 (56%) continham desinformação e receberam os selos falso (10), exagerado (2), insustentável (2) e impreciso (9). As outras 18 afirmações foram classificadas como verdadeiras (44% do total verificado).
A seguir, confira a transcrição e as checagens do discurso.
JAIR BOLSONARO
Bom dia a todos,
Senhor presidente da Assembleia Geral, Abdulla Shahid, Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, senhores chefes de Estado e governo e demais chefes de delegação.
Senhoras e senhores.
É uma honra abrir novamente a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões.
O Brasil mudou e muito depois que assumimos o governo, em janeiro de 2019.
Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção.
FALSO
A declaração do presidente é FALSA porque seu governo é atualmente alvo de investigações e denúncias de casos de corrupção. A CPI da Covid-19 apura um suposto esquema para a compra da vacina indiana Covaxin, que envolveria executivos do Ministério da Saúde e o líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR). A comissão também investiga denúncias relacionadas a um pedido de propina de US$ 1 por dose do imunizante da AstraZeneca e irregularidades em contratos para importação de vacinas. Além disso, atuais e ex integrantes do governo são investigados pela PF (Polícia Federal) ou pelo Ministério Público por suspeitas de corrupção, como o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), Ricardo Salles, ex-titular do Meio Ambiente, Marcelo Álvaro Antônio, que comandou a pasta do Turismo, e Fabio Wajngarten, que chefiou a Secretaria de Comunicação Social. Alegações de que o governo não tem corrupção já foram repetidas pelo presidente 116 vezes desde a sua posse.
O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade ao seu povo.
Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.
Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares no passado. Hoje são lucrativas.
IMPRECISO
De fato, dados demonstram que as empresas estatais federais registraram bilhões de reais em prejuízo e hoje são lucrativas, mas essa virada ocorreu antes do governo Bolsonaro, o que torna a declaração IMPRECISA. Em 2015, o conjunto de companhias sob controle direto ou indireto da União apurou resultado líquido negativo de R$ 32 bilhões, segundo o Ministério da Economia. No ano seguinte, quando o país foi presidido por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), as estatais somaram lucro de R$ 4,4 bilhões. Desde então, o resultado positivo aumentou: R$ 24,9 bilhões em 2017, R$ 71,3 bilhões em 2018 e, em 2019, primeiro ano de Bolsonaro no governo, de R$ 109,1 bilhões. Já no ano passado, a soma dos lucros das empresas caiu para R$ 60,7 bilhões.
Nosso banco de desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas sem garantias.
EXAGERADO
Entre 1998 e 2017, o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) desembolsou cerca de US$ 10,5 bilhões em empréstimos a empresas brasileiras que atuaram em empreendimentos em 15 países (Angola, Argentina, Venezuela, República Dominicana, Equador, Cuba, Peru, Moçambique, Guatemala, Gana, México, Paraguai, Honduras, Costa Rica e Uruguai). Desse total, US$ 12,4 bilhões retornaram à instituição em pagamentos do valor principal da dívida e dos juros, segundo dados atualizados até agosto de 2021. Dessas 15 nações, apenas Venezuela e Cuba têm regimes declaradamente socialistas, e os empréstimos às empresas envolvidas no projeto do Porto de Mariel, na ilha caribenha, foram os únicos da lista que não exigiram garantias de terceiros, como apólices de seguro ou termos de compromisso.
Quem honrava esses compromissos era o próprio povo brasileiro.
Tudo isso mudou.
Apresento agora um novo Brasil, já com sua credibilidade já recuperada diante do mundo.
O Brasil possui o maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada de sua história, programa que já é uma realidade e está em franca execução.
Até aqui foram contratados 100 bilhões de dólares de novos investimentos e arrecadados 23 bilhões de dólares em outorgas.
VERDADEIRO
Bolsonaro faz referência ao PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), criado em 2016 durante o governo de Michel Temer (MDB). De acordo com dados apresentados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, os projetos concluídos durante a atual gestão geraram R$ 544 bilhões (US$ 103,2 bilhões, na cotação do dólar atual) em investimentos e R$ 125 bilhões (US$ 23,7 bilhões) em outorgas. Isso torna a declaração VERDADEIRA.
Na área de Infraestrutura, leiloamos para a iniciativa privada 34 aeroportos e 29 terminais portuários.
VERDADEIRO
Segundo o Ministério da Infraestrutura, foram realizados, entre 2019 e junho de 2021, leilões de 34 aeroportos da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), com estimativa de R$ 9,62 bilhões em investimentos, e 26 arrendamentos portuários da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), com R$ 4 bilhões de investimentos estimados. A declaração de Bolsonaro é VERDADEIRA.
Já são mais de 6 bilhões de dólares em contratos privados para novas ferrovias
IMPRECISO
De fato, há o interesse já formalizado de empresas em investir no setor ferroviário brasileiro, mas os projetos ainda precisam ser avaliados. Por isso, a declaração é IMPRECISA. De acordo com o Ministério da Infraestrutura, o governo recebeu em setembro dez pedidos para construção de novas ferrovias, sob o novo marco legal do transporte ferroviário (MP 1065/2021). O novo regime, instituído em agosto, dispensa a realização de licitações e concede autorizações para empresas investirem no setor. Com a simplificação, o governo espera investimentos superiores a R$ 50 bilhões (o equivalente a cerca de US$ 9,3 bilhões). Em webinário do banco Citi Brasil, o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) afirmou que já existem R$ 30 bilhões de investimentos ferroviários contratados, o que resulta em cerca de US$ 5,62 bilhões, cifra inferior à marca anunciada por Bolsonaro.
Introduzimos o sistema de autorizações ferroviárias, o que aproxima o nosso modelo ao americano.
VERDADEIRO
Bolsonaro se refere neste trecho ao programa Pro Trilhos, instituído pela MP nº 1.065/2021, que determina, entre outros aspectos, um programa de autorizações ferroviárias simplificadas (a exploração deixa de ser feita por meio da concessão, sem necessidade de licitação) e a autorregulação do setor. Esses pontos de fato aparecem no sistema ferroviário norte-americano, que foi utilizado como inspiração para a proposição da MP.
Em poucos dias, recebemos 14 requerimentos de autorizações para novas ferrovias, com quase 15 bilhões de dólares em investimentos privados.
Em nosso governo, promovemos o ressurgimento do modal ferroviário.
Como reflexo, menor consumo de combustíveis fósseis e redução do custo Brasil, em especial no barateamento de produção de alimentos.
Grande avanço vem acontecendo na área do saneamento básico.
O maior leilão da história do setor foi realizado em abril, com concessão ao setor privado do serviço de distribuição de água do estado do Rio de Janeiro.
Temos tudo que um investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes serviços, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo.
Também anuncio que nos próximos dias realizaremos o leilão para implementação da tecnologia 5G no Brasil.
Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono...
... alimenta mais de 1 bilhão de pessoas do mundo...
FALSO
Estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) publicado em março de 2021 aponta que, na verdade, a produção e a exportação de grãos e de carne bovina brasileira foi responsável pela alimentação de 772,6 milhões de pessoas em todo o mundo em 2020, o que corresponde a cerca de 10,5% da população mundial. Descontados os 212,3 milhões de brasileiros, os autores do estudo da Embrapa concluem que 560,3 milhões de cidadãos de outros países se beneficiam dos alimentos produzidos no Brasil. A declaração, portanto, é FALSA. Os dados são similares aos da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), que apontou um total de 628,2 milhões de pessoas, aos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, que estimou 625 milhões, e aos do IGC (International Grains Council), que indicou 636,9 milhões de pessoas.
...e utiliza apenas 8% do território nacional.
VERDADEIRO
A declaração é VERDADEIRA. De acordo com o Monitoramento da Cobertura de Uso da Terra, divulgado pelo IBGE em 2020, a área agrícola brasileira ocupava 7,6% do território nacional (cerca de 664 mil km²). Vale ressaltar, no entanto, que 30,2% do território brasileiro é destinado ao uso agropecuário, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), sendo 20,2% ocupados por pastagens, as principais fontes de desmatamento no país.
Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a nossa.
Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países.
O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais.
São 8,5 milhões de km², dos quais 66%, dois terços, são de vegetação nativa...
VERDADEIRO
O percentual citado pelo presidente aparece tanto em um estudo com base em imagens de satélite divulgado em novembro de 2017 pela Nasa, agência espacial americana, quanto em uma pesquisa publicada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 2018. De acordo com a empresa pública, o Brasil preserva vegetação nativa em 66,3% do território nacional.
...a mesma desde o seu descobrimento em 1500.
FALSO
É FALSO que a cobertura vegetal brasileira é a mesma desde 1500. O avanço da urbanização e da agricultura ao longo de 521 anos levou ao desaparecimento de áreas extensas de vegetação nativa — 30,97% do território nacional é ocupado pela agropecuária e 0,69% ocupado por áreas inteiramente desmatadas, que incluem as cidades, segundo dados do projeto MapBiomas. Além disso, o país também tem amplos territórios de reflorestamento, o que denota que não se trata da mesma vegetação de 1500. Segundo o IBGE, havia 10 milhões de hectares de florestas plantadas no território nacional em 2019.
Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta...
VERDADEIRO
A Amazônia tinha 78,4% de cobertura vegetal nativa até 2020, de acordo com os dados mais recentes do projeto Mapbiomas (Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil). Como a taxa é próxima à citada pelo presidente, a declaração foi classificada como VERDADEIRA.
...abrigando a maior biodiversidade do planeta.
Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.
FALSO
A declaração é FALSA. A Amazônia Legal ocupa uma extensão territorial cinco vezes maior que a da Europa Ocidental. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ela se estende pelos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão e tem 5 milhões de km². Já a Europa Ocidental, composta por Bélgica (30,3 mil km²), França (640,4 mil km²), Irlanda (68,9 mil km²), Luxemburgo (2,6 mil km²), Mônaco (2 km²), Holanda (33,9 mil km²) e Reino Unido (241,9 mil km²) ocupa uma área de aproximadamente 1 milhão de km², de acordo com o World Atlas.
Antecipamos de 2060 para 2050 o objetivo de alcançar a neutralidade climática.
IMPRECISO
Em documento enviado à ONU (Organização das Nações Unidas) em dezembro de 2020, o Brasil se comprometeu a neutralizar a emissão de gases do efeito estufa em 2060. Somente no fim da proposta é dito que há intenção de reduzir para 2050 a meta. "Apesar de o governo federal atualmente considerar atingir a neutralidade de carbono em 2060, o bom funcionamento dos mecanismos de mercado sob o Acordo de Paris talvez justifique considerar um objetivo de longo prazo mais ambicioso no futuro, tendo como tempo limite, por exemplo, o ano de 2050", diz a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada). Na Cúpula do Clima realizada em abril, Bolsonaro também falou em antecipar a meta, mas não há qualquer plano ou medida em curso para atingir tal resultado.
Os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.
IMPRECISO
Embora tenha destinado crédito suplementar de R$ 270 milhões para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) em maio deste ano, o governo Bolsonaro havia cortado cerca de R$ 240 milhões em recursos do Ministério do Meio Ambiente no mês anterior. Em setembro, foi anunciado um concurso público para reduzir a carência de pessoal nas duas autarquias que atuam na preservação do meio ambiente — 568 novos servidores no Ibama e 171 no ICMBio. No entanto, o déficit de servidores nos dois órgãos é, respectivamente, de 2.311 e 1.317 pessoas, segundo estimativas recentes.
E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer.
Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto quando comparado a agosto do ano anterior.
IMPRECISO
Há divergências entre os dados de desmatamento da Amazônia Legal provenientes do sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e as informações do Instituto Imazon, que utiliza uma metodologia diferente. Segundo o Inpe, a área desmatada da chamada Amazônia Legal, em agosto deste ano, ficou em 918 km². Em 2020, o mesmo mês contabilizou 1.359 km², o que representa, de fato, queda de 32,45%. Mesmo considerando essa metodologia, o nível de desmatamento no bioma continua alto. No acumulado de janeiro a agosto deste ano, foi devastada uma área de 6.026 km², patamar semelhante ao do mesmo período de 2020, de 6.099 km². Já o Imazon apontou que a área desmatada em agosto foi de 1.606 km², um aumento de 7% ante agosto do ano passado. Ainda segundo o instituto, a devastação acumulada desde janeiro foi de 7.715 km², 48% maior que em igual período de 2020.
Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?
Os senhores estão convidados a visitar nossa Amazônia.
O Brasil já é um exemplo na geração de energia, com 83% advinda de fontes renováveis.
IMPRECISO
A declaração é IMPRECISA porque Bolsonaro não especifica se se refere à matriz elétrica, que indica como é produzida a energia elétrica brasileira, ou à geração de todo tipo de energia, a chamada matriz energética. Nos dois casos, as parcelas de produção renovável são diferentes. É verdade que o Brasil tem cerca de 83% de fontes renováveis para geração de energia elétrica — segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), cerca de 82,7% dessa matriz é formada por hidrelétricas, energia eólica, biomassa e biogás. Entretanto, quando observamos a matriz energética — nome dado às fontes disponíveis para a geração de todo tipo de energia, como por exemplo combustíveis de automóveis e gás de cozinha — a produção advinda de fontes renováveis cai para 48,4%, de acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Por ocasião da COP 26, buscaremos consenso sobre as regras do mercado de créditos de carbono global.
Esperamos que os países industrializados cumpram efetivamente seus compromissos com financiamento de clima em volumes relevantes.
O futuro do emprego verde está no Brasil: energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo.
Ratificamos a Convenção Interamericana contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância.
VERDADEIRO
Em 13 de maio deste ano, o presidente Bolsonaro ratificou a Convenção Interamericana Contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância. A convenção será absorvida pelo ordenamento jurídico brasileiro como uma emenda constitucional e foi aprovada em 2013, na Guatemala, durante a 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Planalto https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2021/05/brasil-ratifica-a-convencao-interamericana-contra-o-racismo
Temos a família tradicional como fundamento da civilização e a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e de expressão.
14% do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada a reservas indígenas.
IMPRECISO
A declaração de Bolsonaro é IMPRECISA, porque a extensão do território nacional ocupada por terras indígenas é de 12,7%, não 14%. De acordo com dados da Funai (Fundação Nacional do Índio), há atualmente 441 terras regularizadas e seis interditadas (com restrição de uso e entrada de terceiros, para proteção de povos isolados), que ocupam, ao todo, 108.028.774 hectares. A área é, de fato, superior à soma dos territórios da Alemanha (35,7 milhões de hectares) e da França (54,9 milhões de hectares).
Nessas regiões, 600 mil indígenas vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar as suas terras para agricultura e outras atividades.
IMPRECISO
O Censo de 2010, último dado disponível, contabilizou 517.383 indígenas vivendo em terras demarcadas pela União. Como o número citado por Bolsonaro no discurso é cerca de 16% superior à informação oficial, a declaração dele é IMPRECISA.
O Brasil sempre participou em missões de paz da ONU, de Suez até o Congo, passando pelo Haiti e Líbano.
VERDADEIRO
O Brasil participa de missões da ONU desde 1947. Entre 1948 e 2017, de acordo com levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) de 2019, o país fez parte de 46 das 71 operações de manutenção da paz realizadas pela organização. O histórico brasileiro nas missões inclui as crises no Canal de Suez (Egito), no Congo, no Haiti e no Líbano, segundo levantamento do Ministério da Defesa.
Nosso país sempre acolheu refugiados.
Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do governo federal, já recebeu 400 mil venezuelanos...
FALSO
A declaração de Bolsonaro é FALSA, porque o número de imigrantes recebidos pela Operação Acolhida é cerca de 34% maior do que citado por ele. Segundo a PF (Polícia Federal), entre 2017 e junho de 2021, cerca de 610 mil venezuelanos entraram no Brasil. Desses, 265 mil solicitaram regularização migratória para residir no país.
...deslocados devido à crise política e econômica gerada pela ditadura bolivariana.
O futuro do Afeganistão também nos causa apreensão.
Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos.
IMPRECISO
Como a concessão do visto humanitário não é restrita apenas a cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos, a declaração é IMPRECISA. A Portaria Interministerial nº 24, de 3 de setembro de 2021, afirma que será dada atenção especial às solicitações de mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e seus grupos familiares, mas a possibilidade de visto está aberta para todos os afegãos, apátridas e demais afetados por situações de "grave ou iminente instabilidade institucional, de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário no Afeganistão". Não há menção no texto à religião.
Nesses 20 anos, dos atentados contra os EUA, em 11 de setembro de 2001, reitero nosso repúdio ao terrorismo em todas as formas.
Em 2022, voltaremos a ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
VERDADEIRO
A declaração é VERDADEIRA. Em eleição em junho deste ano, o Brasil recebeu 181 votos e foi escolhido para ocupar um dos assentos não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU durante o biênio 2022-2023. É a 11ª vez que o país ocupa o cargo.
Agradeço aos 181 países em um universo de 190 que confiaram no Brasil.
VERDADEIRO
Em junho, durante a 75ª Assembleia da ONU, o Brasil obteve 181 votos de 190 para voltar a fazer parte do Conselho de Segurança da entidade em um assento não permanente. É a 11ª vez que o país ocupa uma vaga temporária, que tem duração de dois anos. A ocupação anterior havia sido no biênio 2010 e 2011.
Governo Federal https://www.gov.br/pt-br/noticias/justica-e-seguranca/2021/06/brasil-volta-a-ocupar-assento-no-conselho-de-seguranca-da-onu
Reflexo de uma política externa séria e responsável, promovida pelo nosso Ministério das Relações Exteriores.
Apoiamos uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde buscamos um assento permanente.
A pandemia pegou a todos de surpresa em 2020.
Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo.
Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade.
FALSO
O discurso de Bolsonaro sobre a pandemia realmente foi, desde o começo, que o governo deveria tratar de forma simultânea o combate ao novo coronavírus e ao desemprego. Na prática, porém, o presidente não tratou as duas questões com o mesmo peso, por isso a declaração foi classificada como FALSA. Em 24 de março de 2020, dias depois de OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar a pandemia, Bolsonaro defendeu em pronunciamento em rede nacional de televisão a “volta à normalidade” e chamou a Covid-19 de “gripezinha”. Desde então, em diversos momentos ele minimizou os efeitos da doença, desrespeitou medidas sanitárias — causando aglomerações, circulando sem máscara — e também tentou reverter medidas de restrição adotadas por prefeitos e governadores, o que foi barrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso, o presidente lançou suspeitas sobre a eficácia e a segurança das vacinas contra a Covid-19, apostou em tratamentos com remédios que não se provaram eficazes e afirma até hoje que não foi imunizado.
As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial dos gêneros alimentícios, no mundo todo.
EXAGERADO
A afirmação de Bolsonaro é EXAGERADA, porque as medidas de isolamento social e de restrições de atividades para conter a pandemia de Covid-19 não são o único fator que gerou a alta nos preços dos alimentos. Em relatório publicado em junho de 2021, o FMI (Fundo Monetário Internacional) atribui a inflação global dos gêneros alimentícios a motivos como o encarecimento no preço do frete, puxado pelo aumento nos preços dos combustíveis e a escassez de caminhões; uma epidemia que vitimou grande parte dos porcos da China em 2018, que já pressionava os preços antes da disseminação do novo coronavírus; e a tendência maior ao estoque de mercadorias, em decorrência da pandemia. Embora haja influência das medidas de restrição de atividades, o FMI alerta que a variação de preços entre produtor e consumidor responde por cerca de 20% dos custos de alimentos em média. No Brasil, a alta do preço do dólar, os períodos de seca e frio e a crise hídrica também são apontados por especialistas como causadores da inflação.
No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda...
...concedemos um auxílio emergencial de 800 dólares para 68 milhões de pessoas em 2020.
VERDADEIRO
O auxílio emergencial começou a ser pago em abril de 2020 e teve ao todo nove parcelas ao longo daquele ano - cinco de R$ 600 e quatro de R$ 300, o que totaliza R$ 4.200. Pela cotação atual do dólar (R$ 5,33), a soma das parcelas equivale a US$ 787,99. O benefício atendeu cerca de 67,8 milhões de pessoas, segundo a Caixa Econômica Federal, a maioria dos beneficiários recebeu esse valor total. Entretanto, a intenção inicial do governo Bolsonaro era pagar apenas três parcelas de R$ 200. O presidente só decidiu aumentar o benefício após a Câmara dos Deputados anunciar a ampliação do valor inicial para R$ 500.
Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019...
INSUSTENTÁVEL
Devido às mudanças na metodologia do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) em 2020, não é possível comparar o total de empregos formais do ano passado com os dados anteriores e, por isso, a declaração é INSUSTENTÁVEL. Em janeiro de 2020, o Caged passou a considerar outras fontes de informação e a captar um volume mais amplo de dados. Antes, eram contabilizados apenas empregados contratados sob regime CLT, enquanto que a metodologia atual também considera trabalhadores temporários, avulsos e cedidos, agentes públicos e dirigentes sociais.
...graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões.
FALSO
O governo federal gastou com programas de manutenção de emprego e renda em 2020 cerca de R$ 353 bilhões, ou US$ 66,7 bilhões na cotação da moeda americana desta terça-feira (21) (R$ 5,3044), o que torna a declaração FALSA. Segundo o Siga Brasil, portal que acompanha a execução orçamentária, foram gastos no ano passado R$ 293,7 bilhões (US$ 55,36 bilhões) com o auxílio emergencial, R$ 32,2 bilhões (US$ 6,07 bilhões) com o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda e R$ 28 bilhões (US$ 5,27 bilhões) com o FGO (Fundo Garantidor de Operações), que avaliza empréstimos do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).
Somente nos primeiros 7 meses desse ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos.
VERDADEIRO
A declaração é VERDADEIRA. Entre janeiro e julho de 2021, o saldo de criação de empregos foi de 1.848.304, segundo dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No período, houve 11.255.025 contratações e 9.406.721 demissões, o que resulta no valor aproximado citado pelo presidente.
Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%.
VERDADEIRO
A previsão citada por Bolsonaro é similar às do mercado financeiro e de órgãos internacionais. De acordo com a última edição do boletim Focus, do BC (Banco Central), a estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2021 é de 5,04%. Para a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o avanço será de 5,2%. Já o Ministério da Economia estima um incremento de 5,3% ante 2020. O percentual do PIB representa a variação da soma de todas as riquezas e bens produzidos no país de um ano em relação ao outro.
Até o momento, o Governo Federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas...
VERDADEIRO
Segundo o LocalizaSUS, o Ministério da Saúde entregou 264,7 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até o dia 20 de setembro.
...e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta.
VERDADEIRO
Até o dia 20 de setembro, 142 milhões de pessoas com mais de 18 anos haviam recebido a primeira dose do imunizante contra a Covid-19, segundo a plataforma LocalizaSUS. Dessas, 135,2 milhões já estão registradas na base nacional do PNI (Plano Nacional de Imunização), enquanto 6,8 milhões aguardam inclusão na base. O número equivale a aproximadamente 89,9% da população adulta vacinável do PNI, estimada em 158 milhões.
80% da população indígena também já foi totalmente vacinada.
VERDADEIRO
Em 1º de setembro, 80% da população indígena acima de 18 anos já havia sido totalmente imunizada contra a Covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde. Esse percentual equivale aos 325.888 indígenas que receberam as duas doses da vacina.
Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos.
Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina.
Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.
VERDADEIRO
A declaração é VERDADEIRA. Desde o início da pandemia, o presidente defende o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 e alega que médicos devem ter autonomia para tratar seus pacientes. A orientação para esse tipo de conduta também partiu do CFM (Conselho Federal de Medicina), que, em abril de 2020, publicou o Parecer nº 04/2020 para permitir que médicos receitassem cloroquina e hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 desde que com consentimento do paciente. O documento ressalva a ausência de evidências científicas sobre a eficácia das drogas contra a doença, mas observa a necessidade de respeitar a “autonomia do médico”. Neste ano, diante de mais evidências da ineficácia de medicamentos para o tratamento da Covid-19, a entidade afirmou que não recomenda o suposto “tratamento precoce”, mas manteve a defesa da autonomia médica.
Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial.
INSUSTENTÁVEL
A declaração foi classificada como INSUSTENTÁVEL, porque o presidente não apresentou até o momento nenhuma receita médica que comprove que ele tenha tomado qualquer medicamento do chamado “tratamento precoce” quando teve Covid-19. Ao menos 65 vezes, Bolsonaro disse que teria tomado hidroxicloroquina. O Aos Fatos requisitou o documento de prescrição por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação), mas teve o pedido negado. Segundo a Secretaria de Comunicação, "as informações individualizadas sobre o assunto dizem respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas".
Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label.
VERDADEIRO
Bolsonaro tem defendido a autonomia médica na prescrição de medicamentos para utilização off-label (ou seja, para uso que não consta na bula) no combate à Covid-19 sistematicamente desde o início da pandemia. Por isso, a declaração é VERDADEIRA. Em janeiro deste ano, por exemplo, o presidente afirmou que o governo segue “um parecer do CFM [Conselho Federal de Medicina] dizendo que o tratamento off-label tem que ser respeitado”.
Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial.
A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.
No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história...
FALSO
A declaração é FALSA, porque os atos realizados no dia 7 de setembro deste ano não foram a maior manifestação pública da história do Brasil, tampouco é possível afirmar que milhões de brasileiros foram às ruas. Em checagem anterior, Aos Fatos verificou que apenas seis estados estimaram o público que participou dos atos, e a soma resultou em cerca de 442 mil manifestantes. Já em março de 2016, um levantamento do G1, com base em dados divulgados pelas polícias militares, estimou que 3,6 milhões de pessoas saíram às ruas contra a então presidente da República, Dilma Rousseff. Atos semelhantes contra Dilma ocorridos um ano antes tiveram um público estimado de 2,4 milhões de pessoas.
...mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo.
Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos.
Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes.
FALSO
Em 2020, o desempenho da economia brasileira foi pior do que o de países emergentes e as previsões para 2021 apontam, até o momento, na mesma direção. Segundo o estudo World Economic Outlook Update, publicado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em julho, a retração de 4,1% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no ano passado foi mais forte que as de Rússia (queda de 3%), Nigéria (-1,8%) e associação de nações do Sudeste Asiático, que inclui Indonésia e Cingapura (redução de 3,4%). A China registrou avanço de 2,3% no período. Já uma pesquisa recente da agência de classificação de risco Austin Rating pôs o Brasil em 38º de uma lista que mede o desempenho econômico de 48 países no 1º trimestre de 2021, atrás de México, China, Arábia Saudita, Chile e Peru.
Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos.
FALSO
O Brasil registrou em 2020 uma queda de 62% no investimento estrangeiro, atingindo o menor nível das últimas duas décadas, segundo o mais recente Relatório de Investimentos Mundiais da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). O documento cita como alguns dos fatores para essa redução a grande incidência da Covid-19 no país, com o maior número de mortes da região, e uma contração econômica severa. Para efeitos de comparação, a retração de 35% na média mundial. Com o resultado, o Brasil caiu da 6ª para a 11ª posição no ranking dos 20 países com os maiores investimentos estrangeiros em dólares. Vale ressaltar que, em 2017 – antes, portanto, de Bolsonaro assumir o Planalto –, o Brasil estava na 4ª colocação.
É aqui, nesta Assembleia Geral, que, vislumbramos um mundo de mais liberdade, democracia, prosperidade e paz.