Sem EJA piora evasão escolar
Professores afirmam que decisão do governo Leite de adiar matrículas de EJA vai piorar evasão escolar
Professores da Escola Agrônomo Pedro Pereira afirmam que as turmas de EJA sempre tiveram grande procura. Foto: Reprodução/Facebook
Da Redação
Professores da Escola Estadual de Ensino Médio Agrônomo Pedro Pereira, localizada no bairro Agronomia, em Porto Alegre, divulgaram neste sábado (13) uma carta em resposta à decisão da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) de adiar as inscrições de novas turmas na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o ano letivo de 2021, com a justificativa de evitar a evasão diante da crise do coronavírus. A escola Agrônomo Pedro Pereira realizou a pré-matrícula de 283 pessoas no começo do ano e estava até a última quinta-feira (11) sem confirmação das matrículas e sem explicações do Governo do Estado. A situação foi mostrada em reportagem do Sul21.
“As inscrições de novas turmas serão realizadas somente no mês de junho, após a realização do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A meta é que o maior número de alunos possível realize a prova e alcance a sua certificação na etapa de ensino desejada. Assim, estarão aptos para a realização de Enem, vestibulares, cursos técnicos e entrada no mercado de trabalho”, explicou a Seduc.
Com relação a situação da Escola Agrônomo Pedro Pereira, a Secretaria Estadual da Educação disse ter autorizado a realização de um “pré-cadastro” dos alunos interessados em cursar os primeiros anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio da EJA. Os alunos das outras séries, diz o órgão, “devem aguardar a designação pelo sistema de matrícula das Seduc”.
Os professores Jorge Nogueira, Maria Fernanda Viegas e Newton Colombo, docentes da EJA na Escola Agrônomo Pedro Pereira, afirmam que se o “sofisma da evasão” fosse verdadeiro, a proibição de novas matrículas vai ampliar o problema, principalmente nas regiões periféricas da Capital, como é o caso da escola situada na Agronomia e referência também para os moradores da Lomba do Pinheiro. A Agrônomo Pedro Pereira é a única escola estadual da região que oferece EJA de Ensino Médio.
“Para se ter uma ideia do impacto na evasão de tal medida, basta citar que em várias pré-matrículas que realizamos no site estudantes rejeitaram incluir uma segunda opção de escola, alegando que ficavam longe de suas casas e que, se não fosse na nossa escola, não iriam estudar”, afirmam os professores.
Na carta, eles destacam que o Encceja e o Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (NEEJA) são modalidades importantes, porém, impedir as matrículas na EJA e transferir os estudantes para outras modalidades, desrespeita a escolha dos alunos e é antipedagógico.
“A procura pela EJA ocorre exatamente pelo entendimento dos estudantes de que apenas o certificado é insuficiente para enfrentar ENEM, vestibular e cursos técnicos. Além disso, a EJA não é apenas conteúdo, é também vivência e troca de experiências. Lamentável que uma Secretaria da Educação priorize certificado em vez de aprendizado”, explicam os professores da Escola Agrônomo Pedro Pereira.
Leia a íntegra da carta:
Resposta à nota da Seduc publicada no Sul21
O governo utiliza como “prova” de evasão na EJA as turmas de Busca Ativa que ele mesmo orientou criar no segundo semestre do ano passado, ocasião na qual também proibiu novas matrículas apesar da procura — na época enviamos uma lista de intenção de vagas com 68 demandantes para a Totalidade 7 e nunca recebemos retorno.
Ainda que o sofisma da evasão fosse verdadeiro, proibir matrículas, como sugere a Secretaria da Educação, só vai ampliar o problema, principalmente nas regiões periféricas como a que atuamos onde a nossa escola é a única escola estadual, em uma região populosa, que oferta EJA de Ensino Médio.
Para se ter uma ideia do impacto na evasão de tal medida, basta citar que em várias pré-matrículas que realizamos no site estudantes rejeitaram incluir uma segunda opção de escola, alegando que ficavam longe de suas casas e que, se não fosse na nossa escola, não iriam estudar.
Essa política vergonhosa do “sem matrícula, sem evasão” é inconstitucional!
ENCCEJA e NEEJA são modalidades importantes e nós mesmos a indicamos para estudantes que possuem dificuldades de acompanhar a EJA. O inverso também ocorre conosco. Proibir matrículas na EJA para jogar os estudantes nas outras modalidades, além de desrespeitar a escolha dos mesmos (o que poderia terminar no Procon se fosse em uma instituição privada), é antipedagógico.
A procura pela EJA ocorre exatamente pelo entendimento dos estudantes de que apenas o certificado é insuficiente para enfrentar ENEM, vestibular e cursos técnicos. Além disso, a EJA não é apenas conteúdo, é também vivência e troca de experiências. Lamentável que uma Secretaria da Educação priorize certificado em vez de aprendizado.
Não fomos orientados a fazer cadastro. Fomos orientados a receber presencialmente inscrições junto com documentos na Totalidade 7, que não aparecia no sistema. E assim fizemos. São 140 pessoas que solicitaram inscrição e nos entregaram documentos como identidade, comprovante de residência e até histórico escolar.
Essas pessoas se deslocaram, gastaram passagem e correram risco de contaminação. Em uma país de carga tributária regressiva pagam impostos para ter direitos atendidos e não sonegados. Elas merecem atenção e respeito. Abertura de turmas e matrículas já!