Sigilo do processo por 100 anos
Sigilo de 100 anos sobre processo contra Pazuello e requerimento dos documentos ao Exército e à Defesa
Participação do general em ato político afronta a legislação de combate à pandemia, afirma deputado gaúcho, que questiona sigilo imposto pelo Exército
Da Redação / Publicado em 8 de junho de 2021
O general subiu em carro de som e, junto com outros aliados do capitão-presidente, promoveu aglomeração e fez discurso político sem máscara de proteção contra a covid-19, afrontando proibição sanitária no estado e, ao mesmo tempo, o regulamento disciplinar do Exército brasileiro, que veda a participação de militares da ativa em atividades políticas.
O comando do Exército, entretanto, arquivou o processo aberto contra Pazuello e também comunicou que decretou sigilo de 100 anos sobre o processo. Bohn Gass questiona a decisão de se arquivar o processo sob pretexto de que se trata de documento de caráter pessoal. “Ora, não há qualquer informação de caráter pessoal quando em jogo a proteção do interesse público e coletivo”, argumenta o parlamentar.
Sigilo sem amparo legal
Para o deputado, a participação do general no ato político no Rio configura “absoluto desrespeito” aos preceitos estabelecidos na Lei 13.979/2019, que trata do enfrentamento à pandemia, e ainda “maculou e comprometeu sobremaneira a imagem do Exército brasileiro, além de representar péssimo exemplo à instituição e a todos que dela fazem parte”.
Um retrocesso inadmissível
O líder do PT lembra que a Constituição Federal estabelece que a administração pública, em todos os níveis, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
“Impedir a publicidade e o conhecimento da sociedade brasileira acerca desse procedimento de interesse público conduzido pelo Exército, configura, ao fim e ao cabo, um caminhar para trás, um retrocesso inadmissível na realidade democrática vigente, que coloca em risco a necessária fiscalização que a sociedade e suas instituições e também os demais poderes da República podem exercer sobre as decisões dos agentes estatais e os atos governamentais.”. afirma o parlamentar.
O requerimento ao ministro da Defesa, encaminhado via Mesa da Câmara, deve ser respondido em no máximo um mês e segue a mesma linha do enviado ao Exército.
Segundo Bohn Gass, a classificação como reservada de procedimento administrativo de interesse coletivo, “tem a potencialidade lesiva não só de restringir a publicidade e o acesso às informações de interesse público”, como pode abrir caminho para certas “autoridades possam, sem qualquer transparência, dispor dos interesses da Nação e da sociedade brasileira, de forma sigilosa”.
O parlamentar pede, entre outras coisas, cópias do procedimento de instauração do processo administrativo disciplinar militar e documentos que o informam e fundamentam; da defesa apresentada por Pazuello; dos pareceres técnicos e jurídicos que orientaram a decisão do Comandante do Exército; e da decisão do comandante do Exército e documentos que a fundamentam.
Bohn Gass solicita também estatísticas das punições disciplinares aplicadas pelo Exército brasileiro a todos os postos e graduações, por violação ao regulamento militar, nos últimos 10 anos, assim como cópias de todos os instrumentos normativos (leis, decretos, portarias, ordens de serviços etc.) que orientam o Exército em relação à disciplina e processo administrativo disciplinar por violação desses regramentos.