Horas após a apresentação do projeto de reestruturação do IPE Saúde, sindicatos e federações que representam servidores públicos do Estado manifestaram contrariedade à proposta do governo do Estado e pretendem oferecer alternativas. Segundo o plano apresentado pelo governador Eduardo Leite, entre outras medidas, a alíquota dos titulares aumentaria dos atuais 3,1% para 3,6%.

— Se o salário dos servidores fosse reajustado, como há anos não é, a entrada de dinheiro no IPE também seria maior. E os planos anunciados ontem (segunda-feira), na prática, vão reduzir o salário aumentando a contribuição fixa — disse o presidente da Federação Sindical de Servidores Estaduais do Rio Grande do Sul (Fessergs), Sérgio Arnoud, nesta terça-feira (18).

Arnoud cita ainda o que considera uma "gestão problemática" do plano de saúde. Ele afirma, por exemplo, que os servidores foram "deixados de fora" do comitê de gestão do instituto.

— Nos últimos governos não houve gestão profissional e qualificada para temas vinculados à saúde. Sempre foi gerido por políticos indicados pela base e que não respeitam o mínimo conhecimento do assunto — afirmou.

Entre os pontos da proposta do governo, as auditorias dos procedimentos são elogiadas pela Fessergs e também pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do Rio Grande do Sul (Sintergs). 

Para o diretor presidente do Sintergs, Antônio Augusto Medeiros, a atenção às auditorias trará melhorias, mas a solução dos problemas financeiros no instituto não passa pelo aumento de taxas.

— É um projeto devastador em relação ao servidor público e ao IPE SaúdeLeite se coloca em uma posição que ignora as finanças do IPE e sobretaxa os trabalhadores, principalmente os de menores salários. É uma lógica inversa e que termina com o caráter solidário do IPE, que não é um plano de saúde, é um sistema solidário de atenção ao trabalhador — aponta, reforçando o pedido por reajuste dos salários: — Não estamos pedindo um aumento, estamos pedindo um reajuste de acordo com a inflação, e isso também já ajudaria, em um primeiro momento, a situação do IPE.

Protesto em avaliação

O Sintergs estuda a realização de um protesto em forma de caminhada em Porto Alegre, no próximo dia 26. A ideia é concentrar-se em frente à sede do IPE e circular pela região central da Capital para chamar a atenção do governo para as alternativas propostas pelo sindicato.

A Fessergs ainda fará uma reunião, inicialmente marcada para quarta-feira (19), para planejar ações que aproximem os sindicatos do diálogo com o Executivo estadual.

O Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul — Sindicato dos Trabalhadores em Educação (CPERS/Sindicato) foi procurado pela reportagem e ainda não tem um posicionamento oficial. A diretoria estava reunida na manhã desta segunda-feira e previa a continuidade das conversas internas ao longo da tarde desta terça (18), para depois divulgar um comunicado e organizar eventuais medidas sobre a reforma do IPE.

Audiência pública e assembleia geral extraordinária

Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcos Rovinski vê com apreensão as medidas apresentadas pelo governo. Na sua avaliação, o anúncio demonstra um movimento do Estado, mas sem apontar nada de concreto para recuperar uma defasagem de 12 anos no pagamento dos 6,5 mil médicos credenciados. 

— Ressaltamos que é muito importante que se pense sobre o futuro do IPE. No entanto, estamos apreensivos porque não há nada de objetivo quanto aos reajustes dos honorários médicos e hospitalares. Precisamos de dados para apresentar à categoria e decidir quais os rumos serão seguidos — diz Rovinski. 

A partir das 19h desta terça-feira (18), o Simers participa de uma audiência pública para tratar da crise no IPE Saúde, promovida pela Assembleia Legislativa, na sede da Associação Médica do RS (Amrigs). Já no dia 2 de maio, o sindicato realiza uma nova Assembleia Geral Extraordinária com os médicos credenciados, para definir os rumos da paralisação dos profissionais que ocorre desde o dia 10 de abril

A União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública, que congrega 27 entidades representativas dos servidores públicos, divulgou nota apontando que teria faltado diálogo na construção da proposta do Piratini e que ela representa "uma combinação de redução real do salário dos servidores e uma barreira econômica para acessar o serviço de saúde". 

A entidade também aponta falta "de indicadores e metas de gestão específicos da medicina com os quais o governo se comprometa" e diz que "ao longo dos anos os governos têm sido inadimplentes contumazes de suas obrigações junto ao IPE Saúde e não está sendo diferente no atual governo". A União ressalta que espera que o governo retire a proposta e abra o diálogo "com todos os atores sociais envolvidos no IPE Saúde".

A Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM) publicou nota criticando o plano do governo, na qual afirma que "todos concordam que algo precisa ser feito, mas a solução apresentada pelo governo é a mais fácil", o que, segundo a entidade "se tornou a marca do Governo de Eduardo Leite, jogar a conta para os servidores pagar, mesmo que a crise seja fruto de notória má gestão e estratégias equivocadas do gestores do instituto". A ASSTBM diz que "repudia a proposta apresentada, pois é injusta, joga a solução nas costas de quem não causou o problema".  

GZH

 

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