Síndrome do Coringa do homem-bomba
Jessé Souza explicou a "síndrome do Coringa" do homem-bomba da Esplanada em seu novo livro
É espantoso, mas o sociólogo “previu” o solitário fantasiado de Coringa que explodiu a si mesmo em frente ao STF nesta quarta-feira
CYNARA MENEZES
É espantoso, mas o sociólogo Jessé Souza "previu" em seu novo livro o homem-bomba fantasiado de Coringa que explodiu a si mesmo em frente ao Supremo Tribunal Federal na quarta-feira à noite. Na introdução de O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos, Jessé explica a "síndrome do Coringa" que afeta os setores da sociedade identificados com o bolsonarismo no Brasil e com a extrema direita no mundo.
Não, não é coincidência, está tudo ali explicadinho no livro, para nosso pavor. "O filme Coringa (2019), de Todd Phillips, estrelado pelo grande Joaquin Phoenix, toca em um ponto nevrálgico de nosso tempo ao reconstruir o cidadão empobrecido, que se torna consciente de sua raiva e reage de modo pré-político fazendo justiça com as próprias mãos", diz Jessé. O arquétipo escolhido pelo sociólogo é perfeito.
Jessé alerta para a "fuga na fantasia" desse "humilhado" que se sente abandonado pela sociedade e pelo Estado. Se o Coringa de Joaquin Phoenix fantasia que namora a vizinha, tem delírios de fama e sucesso, o Coringa da Esplanada fantasia "libertar" o Brasil dos inimigos imaginários que o bolsonarismo plantou nele
O "Coringa", para Jessé, está longe de ser um personagem de ficção. "É uma figura social típica do nosso mundo, e não um ponto fora da curva", diz. "O quadro patológico do Coringa é apenas a exacerbação de uma característica 'normal' e generalizada no mundo neoliberal do capitalismo financeiro": é o sujeito que se sente humilhado, perseguido e sozinho como o psicopata do filme.
Jessé alerta para a "fuga na fantasia" desse "humilhado" que se sente abandonado pela sociedade e pelo Estado. Se, no filme, o Coringa de Joaquin Phoenix fantasia que namora a vizinha, tem delírios de fama e sucesso, o Coringa da Esplanada fantasia "libertar" o Brasil dos inimigos imaginários que o bolsonarismo plantou nele: o STF sobretudo. “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda)”, pubicou no facebook poucas horas antes, de dentro do Supremo.
"Eu: Francisco Wanderley Luiz mais conhecido Tiü França (ETE x PNEU) ‘Miguel’ Sugiro a vocês uma data especial para iniciar uma revolução. Após este grande acontecimento, vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da república!!! Em espírito estarei na linha de frente com minha espada erguida”, escreveu em outra postagem.
O mais preocupante da previsão de Jessé é dar-se conta de que os "Coringas" podem se multiplicar celeremente no futuro próximo. "Os seguidores do Coringa, no final do filme, se identificam com sua luta contra os poderosos e contra o 'sistema' e passam a agir como ele em atos de violência, sem controle ou limites. É o mundo da anarquia, da rebelião imediata, cega e sem estratégia ou propósitos definidos", lembra Jessé. E não eram "Coringas" os golpistas do 8 de janeiro?
"A legião de esquecidos e humilhados –que aumenta a cada dia em todo lugar– possui uma raiva e um ressentimento contra o mundo que eles não conseguem explicar nem direcionar, mas apenas experienciar e vivenciar como culpa individual", escreve o sociólogo. A extrema direita é perita em manipular os sentimentos destas pessoas. "Surfa com desenvoltura" na situação de precariedade material e cultural do Coringa, que é "a matéria-prima essencial para a falsa rebelião da extrema direita no mundo todo".
Assustador.
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