Sobre mudanças climáticas e cidades

Sobre mudanças climáticas e cidades

Relatório especial do IPCC sobre mudanças climáticas e cidades terá colaboração de duas cientistas brasileiras

  • Post publicado:28/02/2024

Primeira reunião dos 120 especialistas prevista para abril, nos Bálcãs, vai definir escopo do documento

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação | 26/02/2024

Duas cientistas brasileiras foram selecionadas para participar da elaboração do Relatório Especial sobre Mudanças Climáticas e Cidades que será produzido durante o Sétimo Ciclo de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). A arquiteta e urbanista da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Maria Fernanda Lemos, e a especialista em segurança alimentar e nutricional da Universidade de Brasília (UnB), Elisabetta Recine, se juntarão ao grupo formado por 120 especialistas globais. A primeira reunião em abril, em Riga, capital da Latávia, nos Bálcãs, vai estabelecer o escopo do documento.

Atualmente, 57% população global vive nas cidades. A projeção da ONU é de que o número aumente para 6,3 bilhões de pessoas, ou 68% da população global em 2050. As regiões urbanas também contribuem com 70% das emissões de carbono relacionadas ao consumo global.  No Brasil, os dados do Censo de 2022 revelaram que 61% da população se concentra em áreas urbanas, o que representa 124,1 milhões de pessoas.

“Além de concentrarem a maior parte da população, as cidades concentram investimentos, infraestruturas críticas, áreas portuárias. Temos muitas cidades nas áreas costeiras, no mundo inteiro, muitas cidades de grande porte, e as áreas costeiras são muito expostas [à mudança do clima] porque existem alguns fenômenos que são particulares nessas áreas. Isso justifica que se dê atenção a elas”, explica Lemos, que coordenou o capítulo de América do Sul e América Central do Grupo de Trabalho II do Sexto Ciclo 6 do IPCC.

Segundo Lemos, as cidades sempre são objeto de atenção na área de mudança do clima e sempre estiveram em posição de destaque nos relatórios anteriores do IPCC. São áreas consideradas críticas por causa da vulnerabilidade e dos riscos diante do aumento de intensidade e frequência de eventos extremos. Com um relatório especial, o tópico cresce em importância no debate.

Dada a complexidade do tema, a chamada do IPCC mobilizou especialistas de diferentes áreas do conhecimento, desde biofísica, impactos financeiros e riscos, até energia e emissões. “Faz todo o sentido, porque a cidade é um objeto complexo. E a gestão urbana é muito complexa”, explica Lemos. Ela explica que para conseguir efetuar análises de modo integrado é preciso envolver outros setores para além dos tradicionais do planejamento e gestão urbana, como infraestrutura, habitação, saneamento, transporte, saúde e segurança.

Lemos destaca ainda que a produção científica envolvendo o tema é bastante significativa e que há diferenças entre as questões que são prioritárias para as grandes cidades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. As megacidades estão concentradas em países de baixa renda e contam com regiões metropolitanas que são ‘objetos hipercomplexos’. “Tem uma distribuição muito desigual do que é possível fazer, dos riscos que estão incidindo sobre essas áreas urbanas”, diz.

Além disso, a professora lembra que o relatório anterior do IPCC apontou que a maior parte das iniciativas de adaptação à mudança do clima, que são crescentes ao redor do mundo, são incrementais e não transformativas. “Ações de adaptação que a gente chama de incrementais estão focando em riscos específicos, ou vulnerabilidades específicas, ou impactos específicos, esperados ou conhecidos. Elas não estão focando em transformar a base do problema. Se a gente não muda a origem do problema, a gente não tem uma transformação no sentido da resiliência”, analisa. “Já estamos atrasados na adaptação das cidades”, avalia Lemos sobre a situação global das cidades.

Regiões periféricas e os desertos alimentares –

A pesquisadora da UnB, Elisabetta Recine, personifica a multidisciplinariedade da seleção feita pelo IPCC. A especialista em segurança alimentar integra o Painel de Especialistas de Alto Nível do Comitê de Segurança Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas (CSA/ONU) e também é presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) no Brasil. Ela participará pela primeira vez da elaboração de um relatório do IPCC.

“Eu me candidatei porque o tema da questão urbana e das cidades e a relação com a segurança alimentar é estratégico e tem pouca visibilidade no âmbito da COP. O planeta já é um planeta urbano. É importantíssimo que essa agenda seja abordada”, afirmou Recine.

Segundo Recine, a crise climática é uma camada desafiadora para a agenda de segurança alimentar. Além dos impactos como a perda da capacidade de produção em regiões do planeta por consequência de estiagem e aridez, eventos extremos interferem nas vias de escoamento e abastecimento. Os reflexos aparecem na qualidade, oferta e preço dos alimentos. “Não é uma questão só garantir que os alimentos existam, é preciso garantir a oferta e o acesso. Tem que olhar o sistema alimentar como um todo”, avalia.

Por outro lado, Recine lembra que a concentração da população, principalmente nas cidades de grande e médio porte, está localizada nas periferias, onde há problemas de abastecimento. “Tem desertos alimentares. São grandes adensamentos com redes de varejo insuficientes. Há dificuldade de encontrar variedade e preço”, explica.

Além disso, as cidades sofrem as consequências diretas dos impactos climáticos, com comprometimento de infraestruturas e na condição de vida da população que perde casas, imóveis, equipamentos. “Tudo isso gera um círculo vicioso na vida das pessoas que já tem desafios grandes. De alguma maneira, as cidades são um dos entroncamentos das complexidades de consequências de toda a crise climática”, avalia Recine.

Com relação às expectativas de participação, a professora relatou que, conforme tem defendido em outros fóruns, experiências de políticas públicas exitosas possam ser consideradas no processo de avaliação globais. “Muitas vezes as experiências governamentais já acumulam evidências e só posteriormente serão objeto de estudo e publicação em canais acadêmicos”, afirmou.

Como colaborar –

Os relatórios organizados pelo IPCC avaliam a ciência global que está sendo produzida e tem o papel de reunir a informação no ‘estado da arte’. Pesquisadores brasileiros que tenham interesse em contribuir com o Sétimo Relatório de Avaliação do IPCC devem ficar atentos a divulgação do calendário do Painel e manifestar interesse à Coordenação-Geral de Ciência do Clima do MCTI.

No ciclo 7 serão produzidos os relatórios do Grupo de Trabalho I sobre a Base da Ciência Física; do Grupo de Trabalho II sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade; e do Grupo de Trabalho III sobre Mitigação das Mudanças Climáticas. Além do relatório especial de cidades, serão elaborados um Relatório Metodológico sobre Forças Climáticas de Curta Duração e um Relatório Metodológico sobre Tecnologias de Remoção de Dióxido de Carbono, Utilização e Armazenamento de Captura de Carbono.

Segundo o IPCC, o Relatório Síntese do Sétimo Relatório de Avaliação será produzido após a conclusão dos relatórios do Grupo de Trabalho e divulgado no final de 2029.

Publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2024/02/relatorio-especial-do-ipcc-sobre-mudancas-climaticas-e-cidades-tera-colaboracao-de-duas-cientistas-brasileiras

 

FONTE:

https://ifz.org.br/relatorio-especial-do-ipcc-sobre-mudancas-climaticas-e-cidades-tera-colaboracao-de-duas-cientistas-brasileiras/?fbclid=IwAR0Jboa2eKikUGMIQuUrHxi94SND5-6C9zJBynZKqes_7BXWTv8ftSXh27E 




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