Sobre notícias falsas

Sobre notícias falsas

Fake News – o que você precisa saber sobre notícias falsas

 A poucos dias das eleições que irão definir os
novos rumos do país, queremos trazer uma reflexão importante:
será que as notícias que você está consumindo são verdadeiras?

De uns anos para cá, a nossa maneira de consumir informações mudou. O jornal impresso, o rádio e a televisão não são mais os nossos únicos meios de ficar sabendo o que acontece no mundo – as notícias chegam pelo Facebook, pelo Twitter, pelo Instagram e até mesmo pelo Whatsapp. Qualquer pessoa pode ser um produtor de conteúdo nas redes sociais, o que significa uma vitória para a liberdade de expressão, mas, também, uma oportunidade para pessoas mal intencionadas (ou bem intencionadas a favor dos seus interesses) manipularem informações e disseminá-las.

A Diretora da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo, Doutora em Comunicação, Bibiana de Paula Friderichs, explica que as Fake News nem sempre são criadas assim em sua origem. “Muitas delas podem ser resultado do mau jornalismo, da falta de apurar uma informação e até mesmo da distorção dos fatos”, diz. É parecido com a brincadeira do telefone sem fio, em que se começa dizendo uma frase e a última pessoa a ouvi-la recebeu algo completamente diferente do original. Na internet, isso é chamado de Cyber Acontecimento. A medida que um fato ganha dimensão dentro da rede e viraliza, ele vai se afastando do seu ponto de origem, tanto físico quanto temporal, e vai perdendo elementos jornalísticos. “Chega um ponto em que esse fato já não é mais uma notícia e está completamente distorcido”, explica Bibiana.

Mas, existem outros casos em que uma notícia falsa é, sim, intencionalmente criada, se baseando em interesses de determinado grupo que quer persuadir outras pessoas a acreditarem em suas ideias. Nas eleições, por exemplo, uma notícia falsa pode ser plantada para um público específico, que é criado a partir de meta dados que fazem um desenho desse público, dizendo quem ele é, o que consome, quem são seus amigos, qual é a sua posição política… “Essas informações que colocamos nas redes sociais, como Facebook, por muitas vezes, são usadas de forma indevida por quem produz essas notícias faltas. Quanto mais de mim eu dou para a rede, quanto mais preencho o que ela pede, quanto mais interajo, quanto mais circulo, mais dados a meu respeito ela saberá”, explica a Doutora. Nesses casos, não é somente uma notícia falsa que está circulando na rede: é uma notícia falsa feita especialmente para você consumir.

Segundo o sociólogo e professor da IMED, Jandir Pauli, do ponto de vista tecnológico, é importante considerar que a maior parte das fake news são divulgadas por robots (ou boots), que são mecanismos tecnológicos que simulam relações humanas, por exemplo, por meio de perfis falsos em redes sociais. Seu objetivo: divulgar informações fake que passam a ser compartilhadas por “pessoas reais”. “Embora os Robots tenham uma capacidade para enviar notícias de forma muito mais rápida do que as pessoas (uma notícia falsa a cada dois segundos), pesquisas têm demonstrado que o fator humano ainda é o principal responsável pela disseminação das Fake News”, pontua o professor.

Aqui, podemos então nos perguntar: por que disseminamos notícias falsas? Por que aceitamos “entrar no jogo” da divulgação destas notícias sem checar sua autenticidade? Por que divulgamos possíveis boatos, distorções e mentiras que podem afetar a vida de outras pessoas? Será que fazemos isso simplesmente por falta de senso crítico e desinteresse?

Jandir destaca que considerar o fator humano para entender o fenômeno exige enxergar a ponte entre o perfil psicológico do potencial disseminador de fake news e a estratégia de quem produz este tipo de informação. “A tecnologia dos robots apenas media o contato entre o formulador da mentira e o leitor que a recebe. Estudos mostram que o produtor de fake news considera dois aspectos: criar uma fictícia credibilidade de fonte da notícia que acabou de inventar e, principalmente, organizar as informações considerando pressupostos morais e cognitivos que aumentam as chances da notícia ser ‘aceita’ pelo leitor sem que ele desconfie da autenticidade”, diz.

O que faz uma notícia falsa ser aceita?
As notícias falsas são construídas em cima dos mesmos valores notícias e dos mesmos elementos universais que as notícias verdadeiras, um dos motivos que, muitas vezes, causa a aceitação imediata de uma notícia mentirosa. Bibiana ressalta que esses elementos que fazem uma notícia falsa circular são os mesmos que fazem notícias reais circularem, pois são coisas que dizem respeito ao nosso cotidiano, atrelados a elementos de universalidade com os quais nós, como sujeitos, podemos nos identificar. Ela também acredita que outros fatores possam contribuir para que essas notícias falsas sejam aceitas tão facilmente:

  • A Fake News expressa algo que a pessoa quer dizer, geralmente em sua manchete. Muitas pessoas leem somente a pequena frase do título e, se nela está expressa uma ideia com a qual a pessoa concorda, ela simplesmente passa a notícia a diante sem ler ou checar o que recebeu.

  • Ela envolve elementos universais com os quais nos identificamos como seres humanos. Quando há filhos, mães/pais ou idosos envolvidos a notícia vai reverberar, porque as pessoas se colocam nesses lugares.

  • O absurdo também chama a atenção em uma Fake News, principalmente, se envolve celebridades, pessoas notórias ou crimes.

Para Jandir, o “sucesso” de uma fake news depende da associação entre o interesse do formulador e o acesso a informações sobre o perfil psicológico dos internautas. Portanto, é a partir de hábitos cotidianos simples e despretensiosos que empresas constituem perfis capazes de dar credibilidade a uma mentira a ponto de ativar o comportamento capaz de compartilhar essa informação em grupos de contatos. “Tudo isso nos leva a concluir que talvez a tecnologia da informação tenha apenas dado o impulso, criando consequências muito mais graves e confundindo os leitores sobre o que é ou não confiável. A receita para evitar ‘entrar no jogo’ da fake news parece simples, mas não é fácil: é preciso, por regra, desconfiar da informação recebida. Acreditar que existem profissionais mal-intencionados que trabalham para criar confusão e se beneficiar política e economicamente com a disseminação de notícias falsas. Quanto menos desconfiamos, mais sucesso terá a fraude. É desta forma que cada um de nós pode contribuir de forma efetiva para melhorar nossa vida em sociedade. E, considerando que as discussões dos principais temas sociais da atualidade acontecem por meio de dispositivos eletrônicos, torna-se urgente o hábito de checar as informações e, assim, contribuir de forma efetiva para um debate saudável e responsável”, alerta o sociólogo.

Como identificar uma notícia falsa

  • Quando as manchetes parecerem muito absurdas ou irem muito ao encontro de algo que você acredita, suspeite.
  • Abra os links e leia as notícias. Muitas manchetes são construídas para passar uma ideia que não representa o que a notícia comunica.
  • Procure essa informação em veículos de credibilidade. É importante que a mesma informação possa ser encontrada em mais de um veículo de comunicação.
  • Verifique as fontes da notícia, afinal, toda notícia precisa ter fontes de informação com nomes e ocupações reais, de pessoas que possam ser encontradas.
  • Quando uma notícia apresentar dados, você pode confirmar a veracidade deles em sites como IBGE, Governo Federal e outras empresas concentradoras de dados.
  • Procure se informar em sites que possuem expediente, para que você consiga saber quem são as pessoas que produzem aquele conteúdo. Matérias assinadas são ainda mais confiáveis, pois assim, você sabe que um jornalista está reivindicando a autoria da matéria e garantindo o seu comprometimento com a informação.
  • Se você ainda ficar na dúvida, procure as agências de checagem de informação! Elas se espalharam pelo mundo nos últimos anos e tem prestado um serviço muito importante de apuração. No Brasil, as agências Pública e Lupa se destacam por esse trabalho de checagem.

Matéria produzida por jornalista Camila Docena e publicada, originalmente, na Revista impressa Contato Vip, Ano XXV, número 285, Setembro 2018Saiba mais da Revista aqui.

 

 

 

 https://www.neipies.com/fake-news-o-que-voce-precisa-saber-sobre-noticias-falsas/ 

 




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