Sobre os Jogos Olímpicos
SOBRE OS JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS...
“Primeiramente, não entenderam a referência à Joana D'Arc, mártir, padroeira e protetora da França, e acharam que ela fosse uma mitológica amazona, só porque era uma mulher cavalgando no rio.
Quanto ao mascarado que navegou nas catacumbas, também não sabiam quem era. Galvão, por exemplo, insinuava que uma celebridade atual seria revelada a qualquer momento. Na verdade, “mascarado” é o apelido carinhoso do próprio personagem principal de “O Fantasma da Ópera”. Ele só entendeu a referência depois, pensando na adaptação musical de Andrew Lloyd Webber dos anos 1980, mas a história original é um clássico da literatura gótica francesa, escrito por Gaston Leroux.
Os brasileiros podem entender muito de bacanal, mas também não compreenderam o que a referência ao deus romano Baco estava fazendo ali. Teve gente que só reparou que ele estava com o saco azul à mostra.
Os narradores poderiam ter explicado ao público que, durante o Império Romano, aquela parte da França era conhecida como a província romana da Gália e que Paris chamava-se Lutécia. O próprio rio Sena, destaque principal da cerimônia de abertura, é na verdade uma deusa celta chamada Sequana, cujo nome foi encurtado ao longo do tempo. Sequana foi incorporada ao panteão de deuses romanos em um sincretismo religioso que integrava a cultura dos povos conquistados à sua própria identidade.
Na parte da homenagem ao cinema, além de mencionar a invenção dos irmãos Lumière, não foi explicado que o filme “Viagem à Lua” é um marco da ficção científica e é uma produção francesa de 1902. “O Pequeno Príncipe” é um clássico da literatura infanto-juvenil, do francês Antoine de Saint-Exupéry. Até os populares Minions, que as crianças adoram e que na cerimônia ajudaram a resgatar o quadro da Monalisa do fundo do Sena... são na verdade criações de mentes francesas, em especial a do ilustrador Éric Guillon.
Existem inúmeras outras referências culturais apresentadas durante o espetáculo. A pira ser um balão é uma ideia sensacional. O nosso brasileiríssimo Santos Dumont, amigo dos irmãos Cartier, testava os seus balões e dirigíveis em Paris, contornando a Torre Eiffel. O avião 14 Bis decolou pela primeira vez dali mesmo, nesta cidade que era o lugar certo para um inventor genial como ele ser visto e reconhecido.
Tenho a impressão de que, se os narradores tivessem contextualizado melhor, a percepção do grande público teria sido ainda mais enriquecedora.
Muitos destes locutores de TV conhecem Paris como turistas endinheirados. Devem se hospedar nos hotéis mais luxuosos de Paris, frequentar os melhores e mais caros restaurantes, e serem convidados a recepções de pessoas muito ricas. No entanto, falta se aprofundar e conhecer a verdadeira história e a cultura deste mesmo lugar.
Quel dommage!
Alexandre Dattilo”
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Pensando sobre Paris 2024
27/07/2024
Alexandre Dattilo
Ontem, durante as transmissões, confesso que senti uma certa vergonha alheia pela falta de preparação e conhecimento cultural dos narradores esportivos da Globo sobre o espetáculo apresentado.
Primeiramente, não entenderam a referência à Joana D'Arc, mártir, padroeira e protetora da França, e acharam que ela fosse uma mitológica amazona, só porque era uma mulher cavalgando no rio.
Quanto ao mascarado que navegou nas catacumbas, também não sabiam quem era. Galvão, por exemplo, insinuava que uma celebridade atual seria revelada a qualquer momento. Na verdade, “mascarado” é o apelido carinhoso do próprio personagem principal de “O Fantasma da Ópera”. Ele só entendeu a referência depois, pensando na adaptação musical de Andrew Lloyd Webber dos anos 1980, mas a história original é um clássico da literatura gótica francesa, escrito por Gaston Leroux.
Os brasileiros podem entender muito de bacanal, mas também não compreenderam o que a referência ao deus romano Baco estava fazendo ali. Teve gente que só reparou que ele estava com o saco azul à mostra.
Os narradores poderiam ter explicado ao público que, durante o Império Romano, aquela parte da França era conhecida como a província romana da Gália e que Paris chamava-se Lutécia. O próprio rio Sena, destaque principal da cerimônia de abertura, é na verdade uma deusa celta chamada Sequana, cujo nome foi encurtado ao longo do tempo. Sequana foi incorporada ao panteão de deuses romanos em um sincretismo religioso que integrava a cultura dos povos conquistados à sua própria identidade.
Na parte da homenagem ao cinema, além de mencionar a invenção dos irmãos Lumière, não foi explicado que o filme “Viagem à Lua” é um marco da ficção científica e é uma produção francesa de 1902. “O Pequeno Príncipe” é um clássico da literatura infanto-juvenil, do francês Antoine de Saint-Exupéry. Até os populares Minions, que as crianças adoram e que na cerimônia ajudaram a resgatar o quadro da Monalisa do fundo do Sena... são na verdade criações de mentes francesas, em especial a do ilustrador Éric Guillon.
Existem inúmeras outras referências culturais apresentadas durante o espetáculo. A pira ser um balão é uma ideia sensacional. O nosso brasileiríssimo Santos Dumont, amigo dos irmãos Cartier, testava os seus balões e dirigíveis em Paris, contornando a Torre Eiffel. O avião 14 Bis decolou pela primeira vez dali mesmo, nesta cidade que era o lugar certo para um inventor genial como ele ser visto e reconhecido.
Tenho a impressão de que, se os narradores tivessem contextualizado melhor, a percepção do grande público teria sido ainda mais enriquecedora.
Muitos destes locutores de TV conhecem Paris como turistas endinheirados. Devem se hospedar nos hotéis mais luxuosos de Paris, frequentar os melhores e mais caros restaurantes, e serem convidados a recepções de pessoas muito ricas. No entanto, falta se aprofundar e conhecer a verdadeira história e a cultura deste mesmo lugar.
Quel dommage!
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