É difícil expressar a dor em palavras. 

Mais difícil é calar.

É que a terceirização é responsável (e tantos estudos o comprovam) pela facilitação do trabalho infantil, pela facilitação do trabalho escravizado, pela redução de salário, pela supressão de férias, pelo aumento do adoecimento em razão do trabalho...

A terceirização facilita a corrupção em âmbito público, boicota a regra constitucional que exige contratação por concurso, rompendo definitivamente com a impessoalidade.

Afasta quem trabalha de seus pares e de quem efetivamente se beneficia com a sua força de trabalho; fragmenta a classe trabalhadora, torna invisíveis pessoas de carne e osso que passam o dia em ambientes em que não são reconhecidas nem se sentem integradas.

A dor é imensa, como certamente serão as consequências sociais de uma opção que precariza.

Dia de luto. Chove em Porto Alegre, verte água dos céus e dos olhos de quem batalha há tanto tempo para banir a precarização da realidade das relações de trabalho.

Anima apenas a consciência do enfrentamento de um tempo histórico que, como os demais, passará. 

O Direito do Trabalho irá resistir. Seu discurso persistirá nas vozes das advogadas e advogados, juízas e juízes, promotoras e promotores, de todos aqueles que um dia acreditaram e seguem acreditando que somos "um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos".

Valdete Souto Severo