UBES, manifesto em defesa da educação
Carta manifesto em defesa da educação no Rio Grande do Sul (por UBES)
"O RS enfrenta um contexto complexo e difícil para estudantes, educadores e demais integrantes da comunidade escolar"
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES)
Há algum tempo escutamos que “a educação é o futuro do Brasil”. Porém, não são raras as vezes que a educação não é prioridade no presente. Em especial, o Rio Grande do Sul enfrenta um contexto complexo e difícil para estudantes, educadores e demais integrantes da comunidade escolar. Os dados apontados são alarmantes: o RS teve a quarta pior taxa de abandono do Ensino Médio do Brasil em 2021, segundo o INEP; cerca de 10 mil estudantes abandonaram o ensino médio em 2022, segundo dados do Governo do RS; de 2018 a 2023, foram fechadas 152 escolas da rede estadual, segundo o Dieese-RS.
Esses são apenas parte do cenário errático da educação pública gaúcha. Apesar de iniciativas importantes, como o pé de meia, programa federal de bolsa de permanência para alunos do ensino médio e as ações do Governo Estadual, há ainda um longo caminho a percorrer.
O Novo Ensino Médio (NEM) é um reflexo das contradições presentes nas escolas públicas e está na contramão da realidade vivida por milhares de estudantes. Os planos pedagógicos são orientados por um viés tecnicista-profissional, reduzindo disciplinas fundamentais para um ensino crítico, emancipador e de formação cidadã. Apresentam um futuro reduzido ao mundo do trabalho, em geral, precarizado, subvalorizado e sem perspectiva de um futuro de mais oportunidades. Realidade diferente das instituições de ensino privado, que mantêm projetos escolares voltados a valorização da formação global. Enquanto uns estudam para virarem doutores, outros são ensinados a “empreenderem” vendendo brigadeiro.
Apesar dos muros, as escolas não estão imunes às questões sociais mais abrangentes. Basta notar que dos jovens fora da escola 79% possuem renda familiar per capita de até 1 salário mínimo; 74% são de mulheres que não estudam e nem trabalham; 53% são de negros que não estudam e nem trabalham. Ou seja, a evasão escolar atinge principalmente as classes sociais menos favorecidas, as mulheres e a população negra do nosso estado. É urgente medidas enérgicas para combater a desigualdade econômica, de gênero e de raça dentro do contexto escolar.
Outro fator exposto na realidade escolar é o aumento nos casos de violência, bullying, reverberação de preconceitos, discriminações e assédios. Há tanto um ambiente influenciado pelos reflexos do isolamento social da pandemia, como a acentuação de aspectos de saúde mental, de relações de sociabilidade, como do ambiente de intolerância incitado socialmente e que ganha novas dimensões através da internet. Para combater isso, é necessária uma escola democrática e acolhedora, que promova discussões sobre temas sobre respeito mútuo, a paz e integração entre a comunidade escolar. A arte, esporte e lazer são ferramentas fundamentais para transformar essa realidade.
Além disso, precisamos urgentemente valorizar os nossos educadores. Há algum tempo a austeridade do governo estadual congela os salários e existe uma grande defasagem no quadro de professores. A sobrecarga é grande e em muitas escolas faltam profissionais da educação o ano todo, onde direções têm que “improvisar” para manter os alunos em sala de aula, ou mesmo liberar turmas. Ainda, as estruturas físicas estão precárias e faltam investimentos de anos. Não há equipamentos adequados, a grande maioria de quadras esportivas são sucateadas, salas de aula com goteiras, muros caídos. Um giro nas escolas do interior à Capital é suficiente para atestar o descaso.
Os problemas são variados e não há medidas simples para resolvê-los. Porém, as saídas passam por um amplo diálogo e união da comunidade escolar – profissionais da educação, estudantes e comunidade – para disputar os rumos da educação no RS. Precisamos lutar por maiores investimentos, por projetos educacionais que levam em consideração os desafios do tempo presente, por uma educação emancipadora, cidadã e que contribua no combate às desigualdades sociais em todas suas matizes.
Nós, estudantes, somos protagonistas para essas mudanças. De norte a sul do RS, vamos promover um amplo debate com a sociedade, procurando diálogo com todos aqueles dispostos a colocar o nosso estado como referência na educação. Sabemos do cenário difícil, mas temos confiança que a nossa vontade e ousadia é maior que qualquer dificuldade. Por isso, conclamamos e chamamos para que todos se unam para transformar a educação!
FONTE: