Vagas ociosas no Ensino Superior

Vagas ociosas no Ensino Superior

Quase três milhões de vagas estão ociosas no Ensino Superior

Falta de alunos gera prejuízo às instituições

MARCELO G. RIBEIRO/JC João Dienstmann   - 23/11/2018 

Falta de alunos gera prejuízo às instituições

 

O desejo de obter uma qualificação em nível superior pelos brasileiros tem levado cada vez mais alunos para as salas de aula na graduação. O número de matriculas e novos ingressos aumenta a cada ano, sobretudo com o surgimento de novas universidades e a oferta de vagas, tanto no ensino presencial quanto à distância. Conforme o Censo da Educação Superior de 2017, divulgado em setembro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, foram ofertadas 10,7 milhões de vagas na rede pública e privada.

Contudo, o estudo alerta para um número ainda elevado de ociosidade de vagas, quando há a oportunidade de ingresso, mas não existe aluno interessado. No âmbito federal, são 99 mil vagas esperando aproveitamento, enquanto esse número sobre para 2,8 milhões nas instituições privadas. O ministro da Educação, Rossieli Soares, alertou para o investimento feito pelo governo para ocupação dessas vagas sem retorno. “Estas vagas ociosas representam um verdadeiro desperdício de dinheiro público, que vem sendo acumuladas há anos. Com certeza, temos muitos estudantes que sonham em estudar em uma universidade pública, mesmo tendo algum tipo de bolsa ou financiamento em instituição privada”, afirma.

Alguns outros pontos do Censo da Educação Superior chamam atenção para o perfil do estudante. A grande maioria (75%) estuda em instituições de ensino privadas. Quando o assunto é o ensino presencial, há uma maior preferência pelo bacharelado, enquanto na modalidade de Ensino à Distância (EaD), a procura cresce nos cursos de licenciatura. A possibilidade de acesso a qualquer momento, de qualquer lugar para as aulas também promove um crescimento no interesse dos matriculados por cursos EaD. O Censo aponta que um em cada três estudantes fazem a graduação à distância, e percebe uma migração a cada ano maior do presencial para o online.

Já em relação à pós-graduação, a procura dos alunos também é grande. O estudo “Mestres e Doutores”, promovido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), mostra houve crescimento na oferta de vagas para mestrado e doutorado superior a 200% em 20 anos. O compilado também apresenta que os cursos voltados à área da saúde são aqueles com maior número de adeptos aos cursos de pós-graduação, sobretudo em função das residências médicas.

A coordenadora do estudo “Mestres e Doutores”, Sofia Daher, explica que um dos diferenciais para seguir estudando após a graduação é a possibilidade de aumentar o salário, em virtude da maior qualificação. “Notamos que os alunos com mestrado ganham cerca de 83% a mais em comparação aos que somente terminaram a graduação. A cada nível de escolaridade adquirido, há um reforço na remuneração”, explica. Já em relação aos doutores, Sofia salienta que 70% dos profissionais intitulados doutores estão ocupados, número considerado “alto e estável” pela coordenadora.

Uma das formas de dirimir o impacto sobre o desemprego, na visão de Sofia, seria aumentar a oferta de bolsas de pós-graduação aos recém-formados. “Essas medidas contribuem para dar andamento às pesquisas e manter os recém titulados nas atividades acadêmicas e de pesquisa, até que consigam se colocações definitivas”, conclui.

Graduação é vista como pré-requisito no mercado de trabalho

A oferta de vagas em abundância no Ensino Superior, ao contrastar com a redução no número de oportunidades no mercado de trabalho, criou uma mudança no perfil de profissional contratado pelas empresas. Há alguns anos, bastava ao candidato ter terminado a graduação para contar pontos importantes no processo seletivo para uma vaga. Hoje, segundo os recrutadores, ter o diploma em mãos é tão somente um pré-requisito para almejar um emprego.

Com um número maior de postulantes às vagas à disposição, a busca pela qualificação – tanto pelos contratantes quanto pelos contratados – virou obrigação para quem planeja alçar voos mais altos dentro da empresa ou quer um emprego com maior remuneração.

A coordenadora de Recursos Humanos (RH) da Metta Capital Humano, Luciana Adegas, destaca que o conhecimento técnico e as especializações feitas contam bastante na hora de analisar o currículo. Contudo, ela alerta para outro ponto importante. “A questão comportamental é muito importante. O candidato pode ter um rol extenso de cursos, mas sem isso, não conseguirá recolocação”, aponta Adegas.

A coordenadora traça um paralelo entre as vagas existentes e a qualificação do candidato que pretende concorrer ao posto. Na Metta, segundo Luciana, as vagas mais comuns são para cargos iniciais, cuja exigência de qualificação é menor – porém, o salário também é reduzido. Com o alto nível de desemprego, muitas vezes há concorrentes com currículos discrepantes, ou seja, alguns muito qualificados e outros com menos atributos. “Para esse tipo de cargo, as empresas ficam receosas em contratar alguém com um excelente currículo, pois temem perdê-la meses depois se uma vaga melhor aparecer, e todo o treinamento e tempo de adaptação é perdido”, explica. Por isso, uma das alternativas é começar uma especialização quando já estiver empregado, inclusive para atender os anseios da empresa.

Em relação aos estágios, Luciana vê como fundamental aos estudantes do Ensino Superior começar a trabalhar o quanto antes para adquirir experiência e se encaixar dentro da área de desejo. “As empresas apostam nos estagiários e muitas delas os promovem, ao final do contrato, por já estarem adaptados ao ambiente de trabalho”, afirma. Contudo, segundo Luciana, é importante ficar pelo menos seis meses no estágio e evitar trocas repetidamente, pois pode “manchar” o currículo do candidato no futuro.

- Jornal do Comércio 

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