Algum lugar do espaço. Próximo da Terra.

– A palavra é sua, Chanceler.

– Obrigado Almirante! Senhores! Há muitos espécimes curiosos na Terra. No aspecto físico, são todos muito parecidos. Bípedes. Seus corpos possuem nove orifícios. Sete só na cabeça. Bissexuados, usam os orifícios para prazer e procriação. Apesar disso, são capazes de procriar sem prazer e de terem prazer sem procriar. São desajeitados e fracos, se comparados com os demais seres do planeta.

Sendo seus corpos sem graça, optei por classificá-los segundo seu comportamento. Pode passar à primeira imagem, por favor? Obrigado!

Este é o vaidoso. Gosta muito de si mesmo e de gente que alimenta sua vaidade. Não importa para ele se elogios, sorrisos ou favores são sinceros. Não busca o amor dos outros. Ele só ama a si mesmo e só este amor lhe é importante. Elogios apenas o confortam por reforçar a certeza tola do quanto merece o amor que tem por si mesmo. Próximo!

O bajulador. Este adora adorar alguém. É oposto ao vaidoso, porque não se ama. Não ama de verdade ninguém, nem quem ele diz amar. O bajulador é vazio de amor porque vazio de si mesmo. Elogia, imita e se submete na certeza tola de que fazendo isso, receberá do bajulado um amor que não tem em si mesmo. Como se o amor viesse de fora e não de dentro. Pode passar, sim?

O terceiro tipo é muito interessante. O idiota. Ele se acha um sabichão, mas é só um idiota mesmo. É burro de dar dó. Tão burro que nem ao menos percebe que é burro. Cria ideias mirabolantes, sem lógica ou sentido, e as acha geniais. Vê conspirações e símbolos ocultos em todo lugar. Alguns deste tipo têm obsessão por sexo. Enche-se de orgulho por só ele saber da conspiração que ele mesmo inventou. Estratagema que torna todos os outros idiotas aos seus olhos e ele mesmo genial aos olhos de gente ainda mais idiota que ele. Mas este tipo não é mais inteligente que o cachorro que se orgulha de achar o osso que ele mesmo escondeu. Sim. Pode passar!

O ambicioso é o tipo mais perigoso. Menos pitoresco e tosco que os outros. Alguns são até bem inteligentes, mas as usam para se sobrepujarem sobre outros. Ama coisas como dinheiro ou poder, não pessoas. Não liga para leis. Nem para nada que não seja seu. Nem para ninguém, a não ser que lhe pertença. Para ele, pessoas são mercadorias. Tem prazer tanto no acumular quanto no destruir. Como o viajante que encontra alegria tanto na viagem quanto no destino. Por isso ele não para nunca. Também…

– Chanceler! Não há neste planeta pessoas amorosas, inteligentes e nobres?

– Há sim, Almirante. Mas são uns poucos, apenas. Cada vez menos levados a sério. Os ambiciosos é que governam, auxiliados por vaidosos, orientados por idiotas e aplaudidos por bajuladores. Matam-se uns aos outros, exploram-se, enganam-se. Calam as inteligências. Difamam quem fala de amor. Confundem justiça com vingança. Ganham dinheiro, corpos e poder destruindo vidas e natureza.

– Certamente é um planeta de degenerados. Na sua opinião, Chanceler, devemos destruí-lo?

– Não creio que seja necessário, Excelência! Já estão fazendo isso por conta própria.

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