Veem corrupção no governo, mas votam

Veem corrupção no governo, mas votam

Quatro em cada 10 bolsonaristas veem corrupção no governo, e votam nele mesmo assim

Quatro em cada 10 bolsonaristas veem corrupção no governo, e votam nele mesmo assim - Sul 21
Entre bolsonaristas, 43% dizem que há corrupção no governo. Assim como 39% dos que aprovam gestão Bolsonaro. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Clara Assunção   Da RBA

Pesquisa Datafolha divulgada esta semana mostra que a percepção de que há corrupção no governo de Jair Bolsonaro (PL) é disseminada inclusive entre os eleitores do presidente da República. No geral, 73% acreditam que existe corrupção na gestão. E, entre quem diz que vota no atual presidente, 43% assumem que ela ocorre no governo Bolsonaro. Além disso, 39% dos que aprovam sua gestão também consideram que no governo Bolsonaro tem corrupção.

O dado é curioso, já que esse seria o principal problema, repetido à exaustão pelos bolsonaristas, contra o principal adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusado de ser “ladrão” pelos bolsonaristas que vão votar em um governo que eles próprios veem como corrupto. De tão repetido, o argumento deu origem ao meme político “E o PT, hein? E o Lula?”, usado por seguidores do atual presidente para relativizar qualquer notícia negativa sobre a gestão Bolsonaro.

A pesquisa Datafolha mostra que apenas 19% dos entrevistados acreditam que não há corrupção no atual governo. Outros 8% não souberam responder. Ao todo, o instituto ouviu 2.556 eleitores de 183 municípios, entre quarta (27) e quinta-feira (28). A percepção sobre a corrupção no governo Bolsonaro é sobretudo mais acentuada entre os mais jovens (86%). E está presente principalmente entre aqueles que reprovam o governo (94%). O mesmo estudo também mostrou que 47% dos brasileiros avaliam o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. Sua gestão é aprovada, contudo, por 28%, entre os quais 4 em cada 10 acreditam ter corrupção no mandato.

A aparente incoerência dos bolsonaristas não contrasta, porém, com o que de fato tem sido marcada a atual gestão federal. Bolsonaro foi eleito em 2018 com discurso de combate à corrupção e à chamada velha política do “toma-lá-dá-cá”. Mas não tardaram denúncias, escândalos e alianças com políticos do Centrão em troca de votos no Congresso. O presidente, em novembro do ano passado, se filiou ainda a um partido desse grupo, o PL. Denúncias de corrupção ganharam mais evidências à medida que crises imensas surgiam. Entre elas o escândalo de desvios de recursos do Ministério da Educação (MEC). Inclusive com prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e de pastores que negociavam propina para liberar recursos, em um gabinete paralelo.

Naquele momento, a campanha de reeleição de Bolsonaro fazia circular um novo slogan de governo. “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura esta nação”. Bolsonaro vem contando, contudo, com o apoio da Procuradoria-Geral da República (PGR), onde encontra no procurador-geral Augusto Aras um “testa de ferro” para aplacar as denúncias contra seu governo. Em ato mais recente, nesta semana, a PGR pediu o arquivamento de sete apurações pedidas pela CPI da Covid no Senado contra o presidente da República.

A manifestação engrossou uma lista de decisões favoráveis a Bolsonaro, adotadas na gestão de Aras. De acordo com levantamento do UOL, ao todo já foram arquivados 104 pedidos de investigação contra o atual presidente pela PGR. O órgão comandado por Aras não encaminhou nenhum pedido de investigação vindo do Supremo Tribunal Federal contra Bolsonaro. O procurador-geral assumiu o cargo em setembro de 2019, data considerada para o levantamento.

Apesar das evidências de corrupção no governo Bolsonaro, o presidente também se beneficia de outro momento político do país em que a corrupção já não é vista como principal problema do Brasil. O tema só foi, na verdade, levado também ao topo das preocupações dos brasileiros por um processo político-jurídico-midiático, protagonizado pela operação Lava Jato, especialmente entre 2014 e 2018. Mas de lá para cá o verbo investigar está em baixa entre autoridades da República.

O Datafolha também revela que a grande preocupação dos brasileiros, atualmente, é a saúde. Uma preocupação de 20%, sobretudo após mais de dois anos de pandemia da covid-19, que sobrecarregou o sistema de saúde público, cujas falhas são atribuídas à omissão de Bolsonaro. Os problemas econômicos aparecem na sequência. Com 10% das menções ao desemprego, 13% sobre a economia, 10% pela fome e miséria e 9% da inflação. A educação é também uma preocupação de 9%, seguida pela violência urbana (6%). Só então aparece a corrupção, citada por 3%.

Bem abaixo do percentual de 2016, quando 37% a apontaram como o principal problema, logo ao fim do governo Dilma Rousseff (PT), impedido por um golpe, seguida pela prisão do ex-presidente Lula, absolvido de todas as acusações pelo Supremo Tribunal Federal (STF) neste ano pelo processo da Lava Jato, condenado pela ONU como “parcial” e “violador” dos direitos políticos do petista.




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