Verdadeiro inimigo do clima

Verdadeiro inimigo do clima

A ANTICEPALIA REPUBLICANA DE CURITIBA: DALLAGNOL DESCOBRE O VERDADEIRO INIMIGO DO CLIMA — O IATE USADO POR LULA E JANJA!

*Por João Guató

 

 


Tem horas em que a gente olha o noticiário político brasileiro e pensa, com toda a sinceridade amazônica possível: de onde saiu essa anta? E não falo da anta legítima, dona da floresta, símbolo de resistência e sabedoria ecológica. Falo da anta institucional, aquela que caminha ereta, veste terno, cita versículos na CPI e ainda acha que a própria mediocridade é uma forma superior de patriotismo.

Pois não é que Deltan Dallagnol, sempre ele, resolveu reaparecer em plena terça-feira, 19 de novembro de 2025, com uma ação popular contra Lula, Janja e até o iate que levou o casal durante COP30? O homem parece ter desenvolvido uma vocação singular: a de se transformar em símbolo nacional da implicância performática. Se existir uma categoria olímpica para “levantamento de polêmica inútil”, ele leva ouro com vantagem de vários corpos de barco.

Dallagnol — acompanhado de um vereador do Novo de Itapema, André de Oliveira, cuja obra intelectual inclui reclamar de tudo que seja maior que uma lancha de pescador — afirma que Lula deveria ter usado um barco da Marinha. Não um barco confortável, adequado, digno de um chefe de Estado num evento global. Não. Um barco da Marinha, provavelmente aquele que faz água, range como porta velha de pantanal e levanta suspeita até de quem o pilota.

Segundo o ex-procurador, o casal gastou R$ 5.300 por dia no iate, impôs sigilo, poluiu a atmosfera e cometeu o grave crime de não pedir autorização prévia ao Deltan para existir. E ainda teve o desplante de simbolizar a “simplicidade amazônica” sendo hospedado num barco confortável — porque, claro, simplicidade amazônica é dormir em rede no porão do navio e comer paçoca de castanha olhando pro casco.

A retórica de Dallagnol veio assim, cheia de indignação moral emprestada:

“Hipocrisia!”, disse ele, como se estivesse denunciando o caso Watergate da beira do rio Guamá. Queria os contratos, queria suspender pagamentos, queria a devolução integral dos recursos, queria… queria… queria. O sujeito quer tanto que fica difícil saber se ele entrou com uma ação judicial ou com uma carta para Papai Noel da Lava Jato.

E olha que a COP30 mal terminou de arrumar as cadeiras. Belém ainda está recolhendo os cones de trânsito, o pessoal do Pará ainda está respirando aliviado pelo fim das filas, os líderes mundiais ainda estão descobrindo que tacacá não combina com compromisso diplomático às 15h. Mas Dallagnol, ah, esse já encontrou o verdadeiro culpado pela crise climática global: o iate presidencial.

Tem político e membro do Judiciário que nos faz perguntar:

meu Deus, qual floresta perdeu essa anta?

E eu, na minha modesta ignorância sertaneja-amazônica, fico imaginando a cena. Enquanto cientistas discutiam o colapso climático, povos originários mostravam ao mundo o que resta de dignidade no planeta, e governos assinavam acordos que podem — talvez — evitar que o planeta vire uma tapioca tostada, Deltan estava preocupado com… o diesel do barco.

Talvez seja isso que nos condena como país: essa capacidade impressionante de transformar ninharia em cruzada moral, e cruzadas morais em espetáculo. Enquanto isso, o clima esquentando, a desigualdade torrando, a Amazônia esperando decisões reais — e uma parte da nossa elite política desfilando seu exibicionismo jurídico como se a República fosse um palco e a realidade, uma nota de rodapé dispensável.

No fim, fico pensando que, se a Amazônia tivesse a chance de escolher entre enfrentar a crise climática ou enfrentar mais uma denúncia performática de Deltan, talvez pedisse água fresca, sombra e paciência. Muita paciência. Porque, para certas antas de terno, nem a floresta encontrou ainda uma solução ecológica.

FONTE:

https://www.facebook.com/photo/?fbid=10214457677152459&set=a.3358299773034&locale=pt_BR 




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