Um monitoramento Unesco apontou que a pandemia já impactou 80% da população estudantil de todo mundo. Mais de 150 países fecharam as portas das suas escolas e, enquanto no Brasil ainda não há prazos para reinício das aulas presenciais, alguns países da Europa e da Ásia já começaram a dar os primeiros passos rumo a uma retomada gradual.

O desafio de reabertura de forma segura é imenso e nada melhor do que ouvir a experiência de quem já passou por isso para planejar uma volta às aulas da melhor maneira possível.

Como as escolas ao redor do mundo têm lidado com a suspensão das aulas?

Por isso, reunimos neste post depoimentos de famílias e de educadores de países da Europa e da Ásia para saber como está sendo feito o retorno gradual de crianças e jovens para as escolas. Confira

O exemplo da China, o primeiro país a fechar as escolas

A volta às aulas na China vem sendo feita de forma gradual, como no resto do mundo, sem uniformidade para todo o país. O uso de máscara é obrigatório para todos os estudantes chineses que voltam a frequentar as escolas, e existem outras medidas de proteção sendo tomadas para evitar novos casos de contaminação.

Dentre elas, por exemplo, algumas escolas chineses instalaram câmeras infravermelhas para detectar possível febre nos alunos logo na entrada da instituição. Existem escolas que instalaram protetores individuais de acrílico nas salas de aula, para separar um aluno do outro. Outra invenção foi chapéu de papelão com uma espécie de régua semirrígida de uma metro para cada lado, para evitar que as crianças se aproximem demais umas das outras. 

Em alguns distritos do país, está em teste uma pulseira eletrônica, que emite um alerta em caso de febre. As informações emitidas pela pulseira podem ser monitoradas por pais e professores em tempo real, por meio de um aplicativo no celular. Na capital Pequim, alguns estudantes têm que preencher um questionário por meio de um aplicativo, para comprovar que estão bem de saúde e não apresentam risco aos outros antes de voltarem para a escola. Em determinadas instituições, cada aluno recebe um termômetro, para tirar a temperatura duas vezes por dia enquanto estão na escola. Tem ainda escolas que designaram salas para isolar estudantes com febre. 

Uma medida tomada por vários colégios chineses foi fechar os refeitórios e fazer com que as crianças comam nas próprias salas de aula. As que mantiveram as cantinas abertas tomaram precauções para manter a distância entre um aluno e outro, não realizando o modelo tradicional de várias crianças comendo na mesma mesa.

Em Pequim e em Xangai, somente os alunos do último ano do Ensino Médio voltaram às escolas, para se prepararem para o “Gaokao”, o vestibular chinês, que foi adiado em um mês e está previsto para acontecer no início de julho.

Volta às aulas na França

Na França, a reabertura também vem sendo feita progressivamente. O país iniciou quarentena em 17 de março e no dia 11 de maio as escolas do Ensino Fundamental e Médio reabriram para alunos que têm até 11 anos. O dia 18 de maio foi marcado para a volta dos alunos que têm entre 11 e 15 anos e os maiores, de 15 a 18, vão voltar somente em junho. Já as universidades vão continuar fechadas até o início do próximo ano letivo, em setembro. Em algumas cidades, no entanto, as prefeituras decidiram esperar para realizar a reabertura das escolas.

Todas as instituições de ensino que reabrem são desinfetadas e máscaras são distribuídas. 

A mexicana Mirsha Sanudo viveu no Brasil e mora na França desde o ano passado, com o marido francês e duas filhas brasileiras, de 5 e 3 anos. Mirsha conta que uma das filhas acaba de voltar às aulas presenciais, em uma escola pública parisiense.

“O desconfinamento começou no dia 11, quando os professores voltaram às escolas para organizar a volta dos alunos, no dia 14. Semanas antes, a escola nos mandou um e-mail perguntando se tínhamos interesse que nossa filha de 5 anos voltasse às aulas presenciais, que estariam disponíveis para pais que trabalham fora, pais que trabalham em setores essenciais, como saúde, e para crianças com maiores dificuldades de aprendizado e outras particularidades. Como a minha filha tinha entrado na escola este ano e não falava bem ainda francês (só teve uma semana de aula antes do confinamento), ela acabou sendo aceita. Muitos pais preferiram não fazer isso agora, por medo, e muitas crianças também não foram aceitas neste primeiro momento.”

Mirsha conta que a escola informou, previamente à reabertura, todos os procedimentos de higiene que tomaria, de acordo com o Ministério da Educação. Por exemplo, a entrada e a saída das crianças em horários diferentes, com dez minutos de intervalo entre cada grupo, para evitar aglomeração na porta.

Outra medida tomada foi reduzir o número de alunos por turma. De 30, somente 4 foram admitidos neste primeiro momento e cada um fica em uma mesa separado do outro.

“As crianças de 5 anos não precisam usar máscara, mas a escola pede que lavem as mãos ao sair de casa e que vão ao banheiro, para reduzir pelo menos uma ida aos espaços comuns da escola.”

Outra iniciativa interessante, segundo Mirsha, foi o envio de um e-book feito para explicar às crianças, de forma lúdica, medidas de higiene para evitar contaminação, para alertar sem deixá-las assustadas com a volta às aulas.

“Também mostraram maneiras de cumprimentar os amigos, sem abraçar ou beijar. Entre os exemplos estava como os ingleses cumprimentam a rainha e como as pessoas fazem no Japão. Foi ótimo para a minha filha, que entendeu muito bem”, diz Mirsha.

O medo de mandar a filha de volta à escola foi superado por todas as medidas que Mirsha viu a escola tomar.

“Eu estava muito assustada, mas já a partir do primeiro dia da volta às aulas eu fiquei muito tranquila, assim como a minha filha. Eu estava preocupada também com o emocional dela, mas deu tudo certo”.

No entanto, mesmo com todas as precauções, no dia 18 de maio, uma semana após a volta às aulas de um terço das crianças na França, o governo mapeou 70 novos casos de coronavírus em 7 escolas reabertas no Sul do país e decidiu fechá-las novamente como precaução.

Dinamarca

A Dinamarca foi o primeiro país da Europa ocidental a reabrir as escolas para o ensino infantil, no fim de abril, pouco mais de 1 mês depois do fechamento temporário. O país registrou cerca de 10.000 casos, sendo pouco mais de 500 mortes.

Entre as medidas de precaução tomadas está a distância de dois metros entre as mesas dos alunos, tempo de recreio reduzido, limitação de grupos em brincadeiras, necessidade de lavar as mãos a cada hora, impedimento dos pais nas escolas e limitação de aglomeração. O chão das escolas foi marcado com linhas, que indicam as distâncias de segurança e as maçanetas são limpas periodicamente. Os professores também são orientados a privilegiar aulas ao ar livre e as crianças estão proibidas de levar brinquedos de casa. Em algumas cidades, as salas de aula, que costumavam ter 20 alunos, foram divididas em dois ou três grupos menores.

O país não adotou o uso de máscaras. A brasileira/dinamarquesa Francisca Nacht vive em Copenhagen com os dois filhos, de 15 e 18 anos, que ainda estão no esquema EAD.

“Aqui, em nenhum momento, as máscaras foram obrigatórias. Foi forte o argumento da falta global, de deixar as máscaras para quem realmente precisa. Nunca passamos de 15% da capacidade de UTI utilizada, relativamente poucos doentes e achatamento rápido da curva. Agora estão reabrindo a sociedade, a primeira fase da creche até a quinta série. Mas isso com turmas divididas em salas separadas, muita rotina de lavar as mãos…”, diz Francisca.

Alemanha

Na Alemanha, um plano de reabertura foi pensado não só para que os alunos voltem à sua rotina de aulas presenciais e convivência com amigos, mas em grande parte para permitir que pais possam voltar ao trabalho e, assim, reativar a economia. As aulas presenciais voltaram em 20 de abril, para os alunos mais velhos, com mais consciência sobre as medidas de higiene.

Em Neustrelitz, no norte do país, uma escola de Ensino Médio realiza testes nos alunos duas vezes por semana. O resultado chega por e-mail no dia seguinte e quem é testado negativo passa a usar um adesivo verde, que permite a circulação pela escola sem máscara até o teste seguinte, alguns dias depois. 

Entre as medidas de segurança nas escolas alemãs estão intervalos escalonados, corredores que se transformaram em vias de mão única, e a orientação para que professores e alunos usem agasalho, para que as janelas e portas fiquem abertas e melhore a circulação do ar.

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Portugal 

A volta às aulas em Portugal foi planejada de forma gradual. Os primeiros a voltar foram os alunos dos últimos anos do Ensino Médio que prestarão exames para universidades este ano. Eles voltaram às escolas em 18 de maio, mas com a carga horária reduzida, para manter os estudantes um menor número de horas nas escolas. O ano letivo em Portugal termina em junho. 

O uso de máscaras é obrigatório em todas as escolas que reabriram, por isso o governo distribuiu 4 milhões de unidades em 500 instituições de ensino. A Direção Geral da Saúde, DGS, forneceu ainda material de higienização para as instalações escolares. 

 De forma a manter distância, os estudantes terão aulas também em pavilhões esportivos e anfiteatros. O Ministério da Educação autorizou a contratação de mais professores, para reduzir o número de alunos em cada cômodo.

As creches reabrirão no dia 1 de junho. Já os alunos do Ensino Fundamental até o 10 ano (inclusive) não vão voltar a ter aulas presenciais neste ano letivo. 

Paula Engel, carioca que mora em Cascais, diz que o filho de 17 anos não voltará a ter aulas presenciais neste ano letivo, apesar de estar no ensino médio, pois estuda em uma escola inglesa que tomou a decisão de não reabrir. 

“As autoridades orientam que os jovens se mantenham em pequenos grupos nas escolas porque os grupos se misturam muito, e na escola onde meus filhos estudam tem um esquema de créditos diferente, que gera uma rotação de alunos. Sendo assim, a escola decidiu não voltar às aulas presenciais por não conseguir garantir as medidas de segurança necessárias para seus alunos”, explica Paula.

Inglaterra

Na Inglaterra, o governo iniciará a reabertura das escolas no dia 1 de junho, logo depois de uma semana de férias conhecida como half term, que ocorre entre as quatro estações do ano.

A brasileira Renata Aboim vive em Londres e tem dois filhos, de 12 e 15 anos. Ela conta que as crianças recebem os deveres pelo aplicativo da escola todos os dias e que ainda aguarda orientações sobre o retorno à escola.

“Depois desse half term, vai começar a fase 2 determinada pelo governo, o relaxamento do lockdown, que autoriza crianças pequenas da Primary School a irem a escola. Meu filho mais velho, de 15 anos, talvez recomece também, mas isso não está certo ainda. Por enquanto, as escolas abertas atendem somente filhos dos trabalhadores essenciais, como médicos”, diz Renata. 

Outra brasileira que também vive em Londres, Andrea Medeiros de Castro, tem três filhos em EAD e que não voltam às escolas até o próximo ano letivo: ”Vários pais e o próprio Sindicato dos Professores não estão de acordo com o retorno em breve das aulas presenciais. Enfim, ninguém sabe ao certo o que vai acontecer”.

Itália

Na Itália, o ministério da educação tem planos de retomar as atividades escolares presenciais só em setembro, início do próximo ano letivo. O fechamento das escolas aconteceu no dia 5 de março e o Instituto Superior de Saúde considera que a reabertura antes desse prazo reativaria a pandemia.

Para garantir mais segurança na volta às aulas, os alunos serão divididos em dois turnos: parte dos dias da semana um grupo vai a escola e outro assiste as aulas de forma on-line. Nos outros dias, a situação inverte.

A carioca Fernanda Belluci é mãe de Matteo, de 10 anos, e vive em Florença.

“O Matteo fica até setembro tendo aulas pelo Google Classroom, uma hora por dia, fora os deveres que tem que fazer. Mas no meio disso ele vai ter férias, então teremos um período de descanso do home schooling”, diz.

Espanha

A brasileira Viviane Catão mora em Madri com o filho Eduardo, de 15 anos. No país, as aulas também só estão previstas para voltar em setembro.

“O Eduardo está tendo aulas on-line, todos os dias. Ele estuda em escola particular e o horário é como se fosse presencial, de 9h às 16h. O colégio, a princípio, volta dia 4 ou 6 de setembro, mas algumas universidades já apontam que voltam somente a ter aulas presenciais em janeiro”.

Japão

A psicóloga carioca Alessandra Chertouh mora em Tóquio com o marido, uma filha de 12 anos e um filho de 18, que frequentam escolas internacionais. Eles vivem na capital japonesa há 3 anos, mas já estão na Ásia há 10.

No Japão, o ano letivo, que termina em meados de junho, não voltará a ser presencial. As aulas presenciais estão previstas para voltar somente no final de agosto, início de setembro.

“O Japão está em estado de alerta desde o início, foi um dos países que reagiram mais rapidamente à pandemia. Aqui já houve uma segunda onda de contágio, foi na época do Sakura, no fim de março e início de abril, um momento festivo no país em que muitas pessoas vão para as ruas para ver o desabrochar das cerejeiras. Foi depois disso que o país tomou medidas mais rigorosas para conter a pandemia, que não é um lockdown, mas um estado de emergência. Os governadores fizeram um pedido formal para que as pessoas fizessem afastamento social, de forma não compulsória. O Japão é todo interconectado com alto-falantes, devido às situações de emergência que o país já passou. Sendo assim, todos os dias pela manhã nós escutamos pelos alto-falantes pedidos para a população ficar em casa. A diminuição do movimento foi tão grande que, como consequência, o comércio fechou e a escolas só voltam em agosto, setembro.”

 

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